The Joshua Tree - O Clássico do U2 completa 30 anos

 Entre 1984 e 1986, o U2 já era a banda mais importante do mundo. O The Police tinha acabado de se separar. Os Rolling Stones apareciam de quatro em quatro anos com um álbum novo (e o de 86 era bem ruim) como pretexto para uma megaturnê. O Queen também era uma banda de mega shows mas em questão de discos não era mais relevante. Os Dire Straits vendiam milhões mas não eram carismáticos e em poucos anos seriam esquecidos. The Smiths revolucionou a música mas tinha a timidez britânica que marcou todas as outras bandas inglesas da época. A banda que parecia poder chegar próximo de rivalizar com os irlandeses, eram os escoceses do Simple Minds: tiveram uns mega hits, tocaram para multidões através de concertos da Anistia Internacional e um pouco da mesma pegada politica e messiânica. Mas ficou muito longe disso.
 Depois do lendário concerto que o U2 fez em Red Rocks e que virou álbum e home video, o grupo alcançou a Glória dos deuses do Rock. A versão de "Sunday Bloody Sunday" e o vídeo em que Bono canta com uma bandeira branca tocou em excesso até as gerações seguintes. Entre 84 e 85 a música "Pride (In the Name of Love)" se tornou outro hino gigantesco e é até hoje uma das mais emblemáticas canções da banda. Como se ainda fosse pouco, a banda roubou a cena do Mega festival Live Aid que tinha "só" Led Zeppelin, Queen, entre outros
 Apesar de todos esses feitos ainda faltavam algumas coisas para comprovar esse reinado: vender milhões de discos, ter hits em primeiro lugar nas paradas (dominadas por pop) e uma mega tour mundial.
 Em março de 1987 era lançado The Joshua Tree. Primeiro lugar nos Estados Unidos, Inglaterra e muitos outros países. A produção do disco era novamente de Brian Eno e Daniel Lanois, dupla consagrada que poliu e sofisticou o som da banda no álbum anterior, The Unforgetabble Fire, de 1984. Após esse hiato de três anos, o som da banda tomou outra direção, totalmente inspirado nas raízes norte americanas. Esse e o álbum seguinte, Rattle and Hum, seriam conhecidos como a "fase americana" do U2 (para muitos o Unforgettable iniciou essa fase, pois os temas eram muito americanos, mas ainda não em termos de som).
 O álbum abre com um som de sintetizador bem baixinho que vai crescendo aos poucos, a guitarra vai surgindo...logo entra o baixo galopante, a bateria e aquela voz. Que voz! Belíssimo início com "Where the Streets Have no Name", canção que até hoje é apoteótica nos shows. Em seguida "I Still Haven't Found What I'm Looking For" que lembra muito um Country, música que ganhou o mundo com sua letra épica com tons religiosos. A faixa seguinte, "With or Without You" é uma mega balada super climática de início bem sereno e que cresce até um clímax intenso. Apesar de ser uma balada romântica, é uma música bem sombria, cheia de climas soturnos.A guitarra de The Edge parece até chorar. Uma das maiores baladas já feitas. Esse início do disco é digno de ser considerado um dos melhores começos de um disco de Rock em todos os tempos.
 Em seguida, uma bateria marcial abre "Bullet the Blue Sky", canção política marcada pelas  guitarras assustadoras de The Edge. Bono disse que se inspirou em países como Nicarágua e El Salvador para escrever essa música. Se tornou mais um hino político da banda e , tenho a impressão de que jamais quiseram parar de tocá-la nas turnês desde então.
 "Running to Stand Still" é uma canção bem ao estilo americano entre o Blues e o Country. Uma música triste , que fala sobre o vício em heroína. O lado 2 do disco (estamos em 1987) abre com uma canção mais alegre e envolvente, "Red Hill Minning Town". Continuando o som bem americano, "In God's Country" (seriam os EUA o país de Deus?) uma das músicas que mais apresentou esse novo U2. "Trip Trough Your Wires" é marcada pela gaita e é bem Folk, ao estilo Bob Dylan."One Tree Hill" é um belíssimo épico, canção feita em homenagem a um amigo da banda que havia morrido recentemente. Com certeza um dos momentos mais emocionantes do disco. "Exit" é o momento mais sombrio (senão assustador) do álbum: começa bem baixinho, praticamente com um sussurro até se desembocar numa pauleira acelerada. Anos depois teve-se a notícia que a música inspirou um assassinato. O álbum se encerra com um belíssimo momento: "Mothers of Dissapeared", canção que Bono fez para as mães de desaparecidos nas ditaduras militares de países como Chile e Argentina. É uma música praticamente eletrônica, com muitas camadas de  sintetizadores, mas também muito emocionante.
 O primeiro single do disco foi "With or Withou You", lançado junto com o álbum em março de 87. Chegou ao primeiro lugar na parada norte-americana (Billboard), algo que nunca tinham chegado perto. O segundo, "I Still Haven't Found..." também chegou ao número 1. "Where the Sitreets Have no Name" chegou ao 13º lugar. O vídeo de "With or without you" é sombrio como a música. Os de "I Still..." e "Where the streets..." mostram a banda nas ruas americanas, gozando a alta popularidade conquistada. O disco foi um dos mais vendidos do ano, junto com Bad de Michael Jackson e Hysteria do Def Leppard. A turnê mundial foi um estrondoso sucesso e foi documentada no filme e disco Rattle and Hum que estreou nos cinemas no ano seguinte. No início de 1988 o disco recebeu o Grammy de Álbum do ano, vencendo Bad e Sign O`Times do Prince.
 Neste ano, a banda está em turnê mundial para celebrar os 30 anos do álbum. Em São Paulo, serão quatro apresentações com lotação esgotada.
  Apesar de ser muito fã da banda, tenho que admitir que esse não é o meu álbum favorito. Até mesmo Rattle and Hum eu prefiro. Mas nada que se compara à maior obra-prima prima deles, Achtung Baby (1991). Mas aí já é outra estória.
 Francisco de Oliveira Junior


Turnê The Joshua Tree em 1987


Turnê 2017