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Autorais


Perguntas Extraordinárias

Estamos no dia 17 de Dezembro de 2092. (ainda!).

Nem os sonhos mais utópicos nem as conspirações mais mirabolantes aconteceram.
Eu esperei por elas... Queria que algo acontecesse, mas nada aconteceu.
A Vida seguiu seu ritmo pálido, lúcido, comum. Exceto por algumas variantes.
No meu caso, me sinto velho (apesar das pílulas de melhoria funcional que foram desenvolvidas anos atrás)! Me sinto velho porque hoje é aniversário da minha filha e ela não fala comigo faz 5 anos.
Na minha idade, o tempo passa mais devagar para algumas coisas e mais depressa para outras.
Quando aprendi finalmente a usar o Interface, ela desligou o dela. Quando os Cristãos aceitaram o ship de rastreamento, ela modificou o dela - acesso restrito - onde eu não estava incluso!
Não sei dizer se o assunto é sobre o que está por vir ou o que passou. Meu assunto é na verdade minha filha.
Meu day-meditor indica que minhas funções vitais estão baixando gradativamente (como o esperado a partir desta idade), e não me imagino pedindo perdão por algo que não fiz. Não tenho os recursos empresariais ou financeiros para substituí-los.
Sim, estou na categoria "colaborador" e não na categoria "empreendedor". Estou morrendo...
Não gostaria de deixar essa existência sem antes esclarecer meus motivos de ser e agir.
Como isso é um diário de bordo, acho melhor esclarecer o que tenho vivido (por mais que isso ofenda meus oficiais – que se fodam os oficiais!).
Sou tripulante de classe Delta na OMON (Orgonização Mari-Orbitais Nacional). Sim, a tripulação do OMM (Organização Mari-Orbitais do Mundo), já estava completa. E foi por isso que minha filha parou de falar comigo!
Ela é Geo-puritana!
Na verdade ela é tudo "puro"! Ar, solo, vegetais, energia, conversas...
Parte do pricípio que o mundo puro não tem Herdeiros e por isso nem pais nem mães (claro que essa idéia só vinga à partir dos 14 anos...);
Vive no virtual mas é contra ele! Sonha com o Neo-ordental (ainda que não saiba o que significa). Implora por intervenção "Extra- Dimensional", mesmo sem saber a força que tem! Eu Sei! Eu Ví! Entrei nas forças Mari-orbitais (as que cuidam do espaço hoje em dia) E isso gerou ruína e barreiras entre nós!
Buscamos conhecer as mesmas coisas, lutamos contra o mal na Terra da mesma forma, mas ela NÃO ENXERGA!
Porque explorar novos mundos e diversificar a geomania terrestre é para ela um sacrilégio?
Essa fé geocêntrica dela me irrita!
Busquei outros caminhos...
Tentei a vida como escritor, mas o texto foi um desastre! Chamei de "Perguntas extraordinárias"
Sem dúvida foi um desastre...
Aqui uma parte para explicar como foi um desastre:

2130.
Nosso primeiro contato extraterrestre!
Um povo ou seres muito mais evoluídos que nós...

Um simples acordo:

Responda três perguntas e responderemos três à vocês.

1º - Pergunta: - Quem é Deus?
Observamos que se mata e morre muito em nome dele... Queríamos uma audiência com ele...

2º pergunta: De que planeta é Michael Jackson?
Acompanhamos toda a história da humanidade – desde Shakespeare, Mozart, Bethoven, Sócrates, Francis Bacon, Freud... Mas nada se encaixa a esse ser – Michael Jackson!




3º pergunta: Porque a humanidade trabalha em prol de seus governantes quando esses não fazem nada em prol da humanidade?
Nos primeiros cinco dias não respondemos as perguntas e também não fizemos pergunta nenhuma.

“O Constrangimento era muito grande...”

Ok... Não pensei que o mundo que estamos hoje, não sabe de quem estou falando! Quem é Michael Jackson!? E por que os extraterrestres iriam questionar a existência dele em comparação com ícones da música mundial!?
Pensava (de novo) na minha filha, seu playlist retrô e quis agradar...
Até multa como anti-governamental recebi! Fui chamado de globstrot!
E olha que o texto se quer saiu da minha interface!
Disseram que citei subversivos e mitos arqueológicos. Disseram que fui insubordinado com a dinastia e retrogrado...
Graças a você filha, sou categoria “D” numa ordem nacional.
E o que ganhei?
Mais silêncio e distância no seu aniversário...
Queria que esse fosse o grande problema! As coisas só pioram desde que entrei a bordo!
Saudade de quando tentava escrever e as pessoas só achavam ruim...

...


Era da “Pax Dinástica”.

Por volta de 10 anos atrás a compra de governos por empresas privadas mudou a forma como as pessoas eram qualificadas para ações de trabalho e campo de atuação educacional. Ficaram divididas em duas grandes categorias:
Colaboradores e Empreendedores.
Por mais que nem todos os governos tenham sido privatizados, a grande maioria adotou o modelo utilizado pelos países hereditais (chamados de Dinastia – Pois normalmente o herdeiro assumia o controle governamental).
Havia votação, mas esta era restrita aos Ceo’s mundiais, que em geral mantinham um comum acordo sobre a sucessão.
Nenhuma grande revolta foi registrada nos anos posteriores. A Dinastia cumpriu com o plano de governo apresentado durante as negociações.
O plano de governo em geral era simples:
Uma classe de comando (Empreendedores) e outra operacional (Colaboradores). Ambos com poder de compra.

Assim, o desejo da população geral foi satisfeito (obter o que os mais “endinheirados” possuíam) e os “endinheirados” exerciam poder sobre a massa.

E o governo? Garantia o que mais queria das duas classes – lucro!
O sucesso deste modelo de governo se manteve graças às novas investidas governamentais em tecnologia.

Com melhorias tecnológicas a vida dos colaboradores foi ficando mais fácil (e a promessa de novas tecnologias que facilitariam ainda mais a vida do cidadão comum gerou acomodação social).
- Ah! Mas seu filho nunca será um empreendedor! Sempre ficará na categoria colaborador! – Poderia dizer alguém.

- Qual o problema? A vida de colaborador dele será ainda mais fácil que a sua com a suposta liberdade de crescimento! Foi à racionalização propagada pelos países Dinásticos. E deu certo!

Além dessa manobra eficaz, a dinastia também minimizou os conflitos sociais. 
Sempre houve rumores de guerra e corrida armamentista.
Com o novo modelo, a corrida agora era por tecnologia e não armas.
Cerca de 50% dos países foram privatizados! Os demais, por conta disso tiveram que assinar tratados de paz e formular tribunas para solucionar conflitos possíveis e/ou previsíveis.
A “coisa” toda fluía bem até que um dos países Dinásticos (Unileverland’s – Junção da Alemanha, França, Polônia e Suécia – que tinha como Dinasta, Marvin) decidiu comprar a frota marinha de praticamente todo o mundo!
Até mesmo os demais países dinásticos não entenderam a manobra do país em questão, por se tratar de uma frota pouco usada no governo atual. Venderam.
Assim foi criado a 1º frota Marítima mundial com o objetivo de mapear os Oceanos.
Os Mares já haviam sido mapeados e por isso não houve nenhuma controvérsia contra essa ação.

Qual o objetivo então dessa manobra?

Para explicar o objetivo, preciso apontar a diferença entre mares e oceanos!


Os mares são subdivididos por territórios, expansões de terras.
Os oceanos englobam esses limites! E são responsáveis por 71% da superfície Terrestre.
Além disso, existe a questão profundidade!
Os mares são definidos por suas extensões! Já os Oceanos por sua extensão, profundidade, coloração e salinidade.


Ou seja – Unileverland’s obteve recursos para mapear não apenas seus mares e oceanos, mas todos! Isso incluía a profundidade inexplorada dos oceanos!
A percepção tardia dos demais “concorrentes” não gerou atrito – ao contrário! Foi comemorado por estes com euforia por perceber que um país emergente tinha “visão” para exploração (literalmente) profunda!
O que os demais países dinásticos fizeram?
Investiram em ações para compra de descobertas marinhas da Unileverland’s!
(Como toda empresa faz continuamente)
Não demorou 5 anos para o mapeamento territorial oceânico!
Com o investimento das demais Dinastias (e também dos países ainda capitalistas governamentais), Leverland’s (como é carinhosamente chamado), obteve recursos para novas conquistas!
Depois do mapeamento, foi possível avaliar novas pesquisas e decidir novas direções.

As descobertas foram surpreendentes! As possibilidades infinitas!
E foi assim que surgiu a OMM (Organização Mari-Orbitais Mundial).
Seu foco: Descobrir sobre as possíveis dimensões existentes!

(O motivo dessa pesquisa é restrito)

Quando as demais dinastias souberam da iniciativa Leverland’s com pesquisas dimensionais, houve a grande reunião!
Os Ceo’s juntamente com os chefes de gabinete políticos buscavam uma ação “corretiva” sem danos aparentes a então, perfeita simetria existente entre Dinástas e Presidentes (visto que Leverland’s agia sozinho).

- A questão, senhores, não é a simples ação deliberada! São seus subseqüentes! O que esperar depois – questiona Jack Desmond – Dinasta da Eurásia!
(Para aqueles que estão muito a frente no futuro e não se lembram e nem estudaram quem foi o Dinasta da Eurásia ou o que era a Eurásia, aqui vai um adendo: - Eurásia – Planeta Terra – Junção entre grande parte de dois continentes: Europa e Ásia [na história antiga isso já havia acontecido antes] -perversos, obcecados por poder – Despotista [para aqueles que não conhecem o termo – alguém que subiu ao poder no lugar de alguém “eleito”- bem ou mal eleito...]. Desde que assumiu o cargo, nunca mais largou dele até se “vender” ao Dinatismo.

- Mas o ato é louvável – diz senhor Xeng (o nome dele é Xeng Swxing Pwan Nastao. Mas não era um nome assim tão memorável... Optou por “Xeng pelo povo”. Vendeu. Conquistou o pódio e virou Dinasta).

- Louvável sim! Mas unilateral! Buscamos um governo único! Queremos a Dinastia como modelo para o plano governamental – esbravejou o grande presidente Americano Willian Blosson - (apaixonado pela ordem Dinasta, mas que era obrigado por tal “constituinte” a manter a presidência como regime).

- Vindo do senhor Presidente? O EUA está preparado para este modelo? Questiona Hayato Hiroshi – Presidente Japonês.

- Hunf! Eu só não “entreguei os pontos” porque este é meu segundo mandato! Mas nos próximos seis meses, estou disposto a aderir ao modelo! Sou dono das grandes empresas do país! As chances de me tornar o Dinasta é grande...

- Como? Como retaliar sem parecer retaliação? Mais ainda! Como lucrar com essa retaliação - questiona Xeng.

- Senhores... Senhores... O pensamento está errado...! Intervém Cristian (Dinasta da Euramérica – Euramérica foi o nome dado a junção do Canadá, Groelândia, Islândia, Noroega, Finlândia, Irlanda e Reino Unido. Uma Dinastia poderosa e que tinha como Dinasta o inimigo declarado de Marvin).
 – Esse é o Filho da puta da Dinastia UnileverLand”s! O viado com dinheiro, poder e capacidade de fuder com a vida de todo mundo! Meu concorrente direto! E o  que foi que ele fez...?
- Ele encontrou uma via de lucro que nenhum de nós tinha pensado! E pior! Não dividiu com a irmandade – Diz Valéria - (Essa é uma louca! Aceitou a Dinastia Sul Americana por uma bagatela de bilhões... Mas o mesmo número de pessoas morreu no processo!
Cada centavo que ela ganhou, custou uma vida! É... Ela resolveu o problema de superpopulação na América Latina (que era um problema metropolitano e não rural). Mas como disse um poeta local: “O senhor da guerra não gosta de crianças...”

- Encontrar uma nova via de lucro é crime? Não expor suas intenções seria? – Questiona Guerard – (Um Dinasta tolo! Ou bom... Existem Dinastas bons? Fato é que este era o Dinasta da Afro-Australiana. Pobre sim, mas com influência... Não se rendeu ao sistema de corrupção, mas se aliou aos corruptos numa venda por preço de banana de seu aglomerado país... A diferença dele para os demais é que ele dividiu os lucros! Assim, Afro-Australiana se tornou competitiva no mercado. Do contrário, novamente seria escravizada...).

- Não... Mas e a irmandade? Os princípios de continuidade? Isso é um sacrilégio! E graças ao senhor grandessíssimo Dinasta Cristian, ainda aplaudimos a iniciativa! Esbraveja Blonson, presidente Americano.

- Nunca, ninguém pode perceber diferenças entre nós! Isso levaria a questionamentos! Responde Cristian ao erguer o copo de Whisk - Não há nada pior que questionamentos...
A Retaliação deve vir com a mesma “arma”: Idéias!

- Eu não sei por que vocês toleram tanto esse cara!... Da minha parte, eu já teria encostado ele na “parede” – Diz o Pres. Bolosson muito irritado!

- É por isso que o senhor ainda é presidente e não um Dinasta! Não encostamos nossos membros na parede! Ou eles são ou eles morrem!

- E o que o senhor sugere então Sr. Cristian?

- Se ele optou por Dimensões é por que encontrou alguma coisa e não nos disse... Vamos pelo caminho inverso...

- O que quer dizer com caminho inverso Sr. Cristian? Questiona Naveen Arun – Presidente Indiano.

- O que nossos cientistas descobriram sobre Alpha Centauro? Pergunta Cristian.

- O que?! Você que organizar uma viagem especial – Com deboche exclama Valéria.

- Você não respondeu minha pergunta! – Cristian interrompe o deboche de Valéria: - Blosson...

- Reduzimos a trajetória em 100 anos – responde ele.
Cristian então apresenta sua idéia de retaliação:
- E se formos os únicos a dominarem um planeta novo, como ele fez com os mares... Não nos colocaria novamente em páreo com Leverland’s? A final, você conhece algum outro planeta colonizável?
Os colaboradores deste mundo não conhecem vida se não for tangível!
Teremos muito maior recepção do que Marvin com suas outras dimensões!  Não só traria glória às nações unidas como daria ao mundo um respiro que sabemos, as prolong gerou uma superpopulação!
[prolong – a pílula de longevidade que gerou muito lucro no passado, resolveu questões como morte precoce, mas gerou um grande problema no presente – superpopulação e velhice estendida!]
Sem contar que deixaria Marvin em débito se quisesse colonizar o novo mundo!

- Achei a idéia fenomenal – Diz Jack Desmond!

- Claro! – Rebate Cristian - Move recursos, movimenta sonhos, gera possibilidades...
Poderíamos dizer que os 1º colonizadores seriam os novos empreendedores da nova colônia! Porque não? Afinal, a grande maioria deles morreria antes de chegar lá!

Um debate estendido sobre forma, divisão de lucros e outras maquinações se estendeu por longas horas.
Mas por fim um acordo foi selado com taças de Moet & Chandon Dom Perignon Charles & Diana – Privilégio dos poderosos!

Assim nasceu a OMON (Organização Mari-Orbitais Nacional).
A OMON veio satisfazer os anseios orbitais das nações.

(Na verdade, é assim que eu imagino como essa porra nasceu...)

Ninguém, que não estava presente sabe como surgiu.
O que sabemos é que a corrida por tecnologia se intensificou! Base de lançamento foi apresentada e contratos foram firmados.

Quem fará contato 1º? A OMM ou a OMOM?

Na prática – não importava!

Teremos um mundo novo nos próximos cinco anos!
Tudo o que sei é que eu era um cara tipo “A” e agora sou um cara tipo “D”.

E o que minha filha tem a ver com isso? Tudo!

Meu nome é Marcos Cheese Imbroll Chaves! Não estou aqui pra explicar tudo! Mas essa é só a 1º parte da história!
Eu sei... Muitos nomes, um complô dos infernos!
 Mas precisava contar a vocês como o mundo funcionava antes do que está por vir. Preparem-se! Vai ser uma merda do Caralho!
 ...


Como tudo começou...

Eu sei que o problema entre eu e minha filha, não significa merda nenhuma pra quem ler esse texto. Mas de fato, isso implica em tudo o que está acontecendo agora!
Vocês do futuro (ou quem sabe,do presente...), precisam saber como as coisas chegaram até vocês! Do contrário, vocês irão abraçar idéias dos Dinastas, das corporações e de qualquer um!
Criptografei esse diário, de forma que, qualquer pessoa que o acessar mande via up-memory para todos na nave e quem sabe para a Terra! A fim de que os merdas que me foderam saibam que eu consigo retribuir o favor! Ah...! Claro! E ajudar toda a humanidade.

 Toda merda começa assim: Com um leve mal-estar na barriga... Uma contração simples... Dependendo do local onde você está você pensa: Ah! Eu seguro essa merda!
Mas, cara! Existem merdas imprevisíveis e que não dá pra segurar!

1º Merda:

Eu era professor de nível médio em Tectrônica – mesmo assim chamado de Nível Básico do Expoente Primordial em Qualificação Métrica Quântica. Ou “Nibeprimeq”.
É... Também acho o nome ridículo! Por isso me auto-titulava: Quanticon!
Não pegou...
Mas eu tive alguns clientes!
Trabalhava para a Dinastia da Euramérica dando aula básica de Tectrônica, mas todo fim de semana eu me dedicava ao pseudônimo “Quanticon”!
Fiz minha oficina no porão de casa! Onde me dedicava a explorar a mente por trás da mente!
É... Eu sei... Sou velho e vocês não fazem ideia do que estou falando!
Eu pegava os androides de serviço, os abria e verificava cada componente! Cada micro sistema e avaliava as IA’s que eles possuíam (Inteligência Artificial).
Sem mexer nas leis da robótica, criava paralelos de comando, conceitos diversificados de ações, em fim, às vezes eu modificava a programação.
Quando eles deviam dizer: sim senhor, às suas ordens, conte comigo senhor, ou outra coisa do tipo, eu re-configurava com outras palavras:

- Seu velho arrogante!
- Vai se fuder!
- Porra de novo! Você não consegue fazer nem isso! Por favor me desliga!

A molecada adorava! Traziam os droids dos pais para eu re-configurar!
Os velhos ficavam putos!
Virei um professor bem quisto pela galera!
Mas claro, deu merda...
Os projetistas ficaram putos! Os proprietários também.

Um dia recebi em meu interface uma notificação:

- Senhor Marcos Cheese Imbrol Chaves – O senhor foi requisitado a comparecer no décimo quinto distrito, que fica à 3º quadra de sua casa, nº 324-A – na próxima: segunda-feira. Delito classe 1Beta 23/359.
Ausência será considerada re-incidência. Movendo bloqueio de dados imediatos, além de bloqueio de créditos e documentos.

Pensei: Porra! Por causa de uns droids velhos!?
Mas não foi!
Foi por causa de umas merdas que escrevi! Um monte de lixo!

Mas... pensando bem... Se incomodou tanto o governo, não era tão lixo assim...
...


Cheguei lá, sem me dizer uma palavra sobre meu delito, eles coletaram meu sangue, urina, pele, voz... (é, eu também estranhei... Voz? Pra que porra eles querem meu aaahhh, eeehh, iiihhh, tãããooo...), mas foi feito.
Um exame básico de retina, uma ultra cenografia [parece à porra de um hospital né? Mas a polícia de hoje é assim! Fazem um mapeamento geral da pessoa pra que fique impossível essa pessoa sumir dos registros.]
Na seqüência um interrogatório infindável, um monte de blá,blá,blá! Mais uma pilha de documentos que eu precisava assinar do tipo:
- Juro defender a pátria;
- Juro não causar danos ao patrimônio alheio;
- Juro servir meu país e/ou dinastia quando requisitado;
- Juro guardar os mandamentos sociais;
- Juro manter a ordem e bem estar dos meus concidadãos;
- Juro Blá,blá,blá...

Eu juro que disse:
- Fala logo onde eu ponho o dedo e registra tudo como jurado!
Mas nãããoo! Eles tinham que ler a porra toda antes de eu colocar o dedo!
Até que o Ten. “alguma coisa” Munhoz veio falar comigo [desculpe. Foi há cinco anos! Não lembro o nome dele... Sei que era Munhoz porque tive um gerente com nome Munhoz que era tão feio e gordo quanto ele!]

- Senhor Chaves... Posso chamá-lo de Senhor Chaves?
- Olha amigo, meu nome é enorme (coisa de mãe). Você pode me chamar de gralha azul se isso significar que eu posso ir pra casa!
- Seu humor é quase risível senhor Chaves, mas não acho que o senhor tenha motivos pra rir neste momento.
- Eu brinquei com uns códigos de procedimento, ok! Vocês não têm terroristas e estupradores para pegar não? Pago a merda da multa por conduta infeliz e digo tchau! Não é simples assim? Sou categoria “A” o senhor sabia?
- Infelizmente, senhor Chaves, não é assim tão simples...
- Marcos. Me chame de Marcos! E pode cortar o senhor e as outras formalidades...

Então ele cortou!

- Então, seu merda cujo nome é Marcos! Tenho péssimas noticias pra você!

- Ei! Ei...Calma aí! Só Marcos tava bom... Que história de péssimas notícias é essa? Pago a multa, vou pra casa e, sei lá! Viro uma pessoa mal vista pela sociedade? Lembra que falei de estupradores, ladrões, terroristas...

- Seu problema Marcos, é que você mexeu com empresas de grande valia para a sociedade. Você conseguiu quebrar um FarWall de décadas!

- Eu mereço um premio não uma punição!

- Continua piadista... O que você não sabe, é que está com um diagnóstico precário e por conta disso...

Interrompi! (claro!)

- Diagnóstico precário...? Não entendi. Isso é um distrito policial ou uma enfermaria?

- Você está morrendo, senhor Marcos! É procedimento policial fazer todos os check-up’s sobre o acusado antes de fazer uma prisão.

- Check-up’s? Prisão? Ei! Eu fiz uma merda, ok? Todo mundo faz merda! Porque estamos falando de prisão? Check-up’s... Me explica mais sobre esses check-up’s...

- Hunf! Cadê aquele sorriso, senhor Marcos...? O senhor tem câncer! Metástases por todo o corpo. O senhor fuma não é mesmo?

- E daí? As pílulas de progron e minha assistência médica cobrem essa merda.Uns, sei lá 1000 nana-robôs resolvem isso...

- Seria simples assim se o senhor não tivesse ficha na polícia... A partir de agora, o senhor é um delinquente! Nem seu plano de saúde nem a sociedade te aceita como um ser humano normal... Isso significa que você vai morrer!

- Porra! Em quem eu bati? Na APPLE?

- Você mexeu num vespeiro! Dinastia Euramérica... “Bem” maior que a merda da APPLE!

- Ok. Vou morrer porque meu seguro não cobre... Tem mais más notícias ou já posso ir embora? Eu só quero ir embora daqui!

- Más notícias... Eu estou cheio delas! Qual você quer 1º?
- Agora você é o engraçado senhor Munhoz? Está se divertindo? (Ta aí um cara que não goza faz séculos!)...

- O que disse, senhor Marcos?

- Nada, eu não disse nada... Bom, é fato que o senhor, senhor Munhoz, não gastaria seu precioso tempo com um (como foi que disse?), merda como eu! Logo, acredito que tenha algum caminho pra eu “me redimir”...

- Realmente os deuses devem gostar de você, senhor Marcos! Sim, há um caminho de redenção...

- Os deuses a que você se refere devem ser os donos dessa merda de planeta não é?

- Não crê nos deuses senhor Marcos? Incluir ateísmo ou cristianismo na sua ficha não ajudaria em nada em sua condição. Mas você tem razão. Estou falando do Ceo da companhia...
Por algum motivo que desconheço o senhor Cristian ficou muito interessado em você. Foi ele mesmo quem começou as investigações que o trouxeram até nós.

- Isso significa...

- Significa, senhor Marcos, que, ou o senhor aceite um serviço (devidamente remunerado) para a companhia ou o senhor ficará de fora do assistencialismo para sua doença.

- Diga não, obrigado! Acrescente um “vai se fuder” no final! E a gente vê no que vai dar...

- Ouvi dizer que o senhor tem uma filha...

- Olha aqui seu puto! Deixe minha filha fora disso!

- Opa! Calma... Calma... Eu ainda sou o oficial da lei e você... Você continua sendo um merda qualquer! Já que você não se importa com sua vida, deixa eu te acrescentar uma informação:
Como alguém que gerou delito e tem seu nome nos arquivos policiais, você perde o direito de distribuir seus bens para seus familiares! Não é engraçado?
O sistema passa a ter direito sobre seus créditos, bens imobiliários e afins. Assim, sua filha ganha absolutamente nada do que você deixar! Mas claro, encaminharemos para uma instituição de caridade – à nossa escolha – talvez a polícia...

- O que vocês querem de mim, porra?

- Estamos lhe dando uma oportunidade. Queremos apenas que você abrace uma causa!

- Que merda de causa é essa?
- Isso amigo saberá alguns dias depois. Até lá, trabalhe e mantenha sua interface ligada. Vai pra casa! Marque um jantar com sua filha... Continue com suas piadas... Essa conversa é inteiramente confidencial.

[A tal merda que ele não disse, foi o impasse entre as grandes corporações – o lance da retaliação lá atrás... E eu, meus amigos, me ferrei!]

...

Três dias depois, uns caras de terno preto e óculos escuros surgiram na minha porta.
- Não senhor! Não quero ouvir sobre Darwin, Jeová ou Mitra! Que se fodam os deuses!
A tela em minha porta continuou piscando...
 Saaaco! O que você quer?

- O senhor é Marcos Cheese Imbrol Chaves?

- É, sou eu.  Aliás! Depende! Quem são vocês?

- Sou do DPTO de justiça. Venho em nome do Sr. Cristian...

Abri a porta.
- Cristian né? Sei...

- Viemos para inteirar o senhor da grande causa em que o senhor está inserido!
- Tô tão feliz... Fala logo o que é essa merda! Eu não quero, não queria estar “inserido” em merda nenhuma! Tô inserido nessa porra por livre e imediata pressão! Seja objetivo. Meu café está no fogo.

- Como devo chamá-lo senhor...

- Marcos. Só Marcos. Sem o senhor...

- Marcos, a questão não é tão simples que possamos discutir na porta... Entenda... Os drones...

- Essa porra de drones não é do governo?
- sim! É, mas...

- Vocês não estão aqui da parte do governo?

- Sim! Estamos, mas...

- Porra! Fala logo homem! Que merda!

- Senhor, desculpe...  Marcos, o governo tem subdivisões... Nem tudo é compartilhado com todos... Os drones... São de circuito aberto... Podemos entrar...

- Hunf! Como vocês querem seu café?
Um olhou pro outro com uma interrogação na cara: - Preto! Disseram!
- Ótimo. É a cor que ele costuma ter...


Apesar de toda história amigável que estou contando, meus amigos do café preto não vieram para me dar parabéns ou me ajudar em coisa nenhuma!
Eles vieram com o resto das historias ruins que meu outro amigo gordo e feio não contou na delegacia! (claro, nem ele sabia – o mundo não sabe).

- Senhor Marcos, o que viemos dizer é estritamente confidencial! (falou o MIB1) [O que? Não sabe o que é MIB? Men In the Black – homens de preto! Cara se você não sabe nem isso, para de ler essa porra!]
- Gostaram do café? Perguntei – tipo pra quebrar o gelo – qual é a dificuldade de vocês em dizer “Marcos”? Só Marcos! Sem o “senhor”!

- É sério Sr. Marcos. O que temos a dizer além de confidencial envolve seu futuro!  [Falou o MIB2] Não somos amigos, nem inimigos. Por isso a formalidade padrão.

- Conte meu futuro profetas da nova geração!

- Não é piada! Você foi chamado para fazer parte da frota na OMOM!

- O que é OMOM? Um sabão em pó? Ha Ha Ha!

- OMOM é a nave de ultima geração que levará sua tripulação para novos mundos!

- Há! Claro que é... Ei, você não ta brincando? É sério isso? Virar astronauta?

- O termo hoje é ESESP.  Mas sim! É isso. [também não sabia na época – ESESP – Esplorador Espacial – simples né? Achei um lixo]

- Olha, essa porra de explorar o universo... O universo é longo pra caralho! Eu, além de ter cometido um delito leve, sou velho e doente... Não serve pra mim!

- Senhor Marcos, os termos são:
Acordo vitalício ou prisão sem recursos.
Caso o senhor aceite os termos de contratação, sua filha recebe todos os benefícios de sua jornada ao novo mundo.
O Senhor mantém sua categoria e receberá os confortos relacionados a essa mesma categoria.
Caso recuse, os problemas começam com a questão de saúde e terminam com cárcere! Fora a não participação da sua filha nos benefícios de falecimento...

- Mas porque tanto segredo? Já ouvi falar da OMOM! Alias, todo mundo sabe sobre ela! (eu assisto aos noticiários!) Porque eu?

- Precisamos de um programador que tenha as suas especialidades.
- Quais? Fazer programas falarem palavrões? Ah eu faço isso aqui de casa pra vocês!

- Ser da antiga escola de psicólogos. Você irá diagnosticar nosso sistema de bordo não como um programador, mas sim como um psicólogo.

- Ai caralho! Vocês tem uma IA na sua nave! E acham que ela precisa de um psicólogo! Isso não é uma piada? É mesmo sério?

- Não senhor. Não temos uma I.A. em nossa nave. A “I.A.” é a nave!
...



Numa coisa os caras tinham razão: Eu era da antiga escola.
Sabia tudo sobre a extinta psicologia (que já naquela época fora substituído pelas pílulas de redirecionamento – SOMA – que alterava o humor, gerava alegria e satisfação. Com os humores controlados ao nível médio cotidiano, a psicologia perdeu seu sentido e utilidade).
A ironia é que as pílulas não poderiam ser usadas em uma I.A.
Uma I.A. mais complexa exigiria mais que um simples programador. De acordo com eles, um psicólogo!
Alguém que pudesse medir qualquer alteração na programação antes que essa mesma alteração se tornasse um risco para todos os envolvidos.
O que eu sabia sobre a psicologia antiga (e que os programadores não sabiam) é que muitas vezes uma programação avançada, para ser redirecionada precisava de quebra de paradigmas.
Mas como fazer uma quebra de paradigmas em uma I.A. sem interferirem nas leis da robótica?
Gerando novos paradigmas psicológicos (por assim dizer)! Paradigmas quânticos neuro-cibernéticos (acho que foi assim que eles chamaram...).

Ficou assim:
Escolha entre prisão e tratamentos inadequados para a cura com um fim doloroso e sem a devida renumeração para minha filha no final ou uma viagem só de ida pra algum lugar do espaço, sem volta! Mas que deixaria minha filha com os benefícios que lhe era de direito com minha morte – além de uma morte “honrosa” – como herói da OMOM...

Optei pela 2º hipótese.
Que escolha eu tinha?

- Vocês já têm a que vieram buscar? Preciso usar meu interface...

- Desculpe, mas com quem o senhor pretende falar, Sr. Marcos?

- Com minha filha! Algum problema nisso?

- Não. Se o senhor manter o protocolo de sigilo... Coopere Sr. Marcos... É o melhor pra todos... Mantenha o silêncio!
- Muito bem senhores Cosme e Damião! Já terminaram o café? Hora de dar tchau!

Eles olharam um pra cara do outro. Assentiram com a cabeça e foram embora.
Toquei no minha pulseira de comunicação  que abriu uma tela em meu braço e disse:
- Enya.
A chamada começou...

- Alo? Pai! Oi pai! Você não vai acreditar! Eu entrei Pai! Entrei na ONN! – Dizia Enya eufórica do outro lado!

- Ah... Oi filha! Nossa! Que ótimo! [agora fudeu tudo mesmo!]
Olha filha, preciso te contar uma coisa... É complicado... Você não vai entender agora, mas no futuro vai saber e...

- Você não me ouviu? A ONN pai! Entrei como ativista na ONN! Que cara é essa? Você está bem? Quando vamos comemorar!? Eu pego um Uber-fly e a gente sai hoje mesmo!

- Então... É que... Eu me candidatei como colaborador sênior na OMOM e... Não... Não me candidatei! Fui chamado!... E...
[Ela não me deixou terminar...]

- Você o que?!!! Colaborador sênior? Não! Não é possível! Você está louco!? Esses filhos da puta são tudo contra o que você me ensinou!!! Pai!!! Que merda é essa?
Você sabe que existe uma guerra indireta entre a ONN e a porra da OMOM não é? (é claro que ele sabe! Ele não é idiota!) Pai!
[Aí ela começou a falar e falar, gritar e xingar...]

Apareceu um cara com maquiagem na tela:
- Eh... Olha Senhor Cheese, desculpe, mas a Eny tá muito alterada e acho melhor desligar e ...

- Desligar uma porra! Gritava Enya! Seu Globstrot filho de uma p...

E alguém desligou...
Ela ligou novamente.

- Filha! Calma! Olha...

- Pai! Você sabe que se entrar pra merda da OMOM eu não falo com você nunca mais né?
Pai! Porque você está fazendo isso comigo? Você não se importa comigo! Nunca se importou! Eu lembro! Meu aniversário de 15 anos você, blá,blá,blá...
[ela falou... E falou ininterruptamente! Gritou, xingou e por fim disse: - eu te odeio!]
Desligou.
Foi foda...
Ela desligou nosso contato. Foi à última vez que falei com minha filha – mas não a última que ela ferrou com minha vida!

...
Caso Enya


INTERFACE@REAL.TEAM.COM:

Vocês devem estar loucos para saber como acaba a grande polêmica Filha VS Pai ou OMM VS AMOM!

Não sabem do que se trata?
Filha despeja na interface palavra e textos de injúrias do próprio pai!
Filha essa contratada pela ONN e pai este contratado pela OMOM! Não é de tirar os pés do chão?
Nosso comentarista Gustavo Lemes tem mais a dizer para vocês:

- Trata-se de uma disputa Dinástica que envolve pai e filha! Cada um escolheu um lado! E pelo que podemos acompanhar, a filha está ganhando! Ela publicou textos e histórias do próprio pai! Com ditos infames e declarações contra a sociedade! Além de citar mitos e religiões antigas!

- Que ódio é esse Gustavo? Ou será só publicidade? - Questiona o âncora do programa.

- Não se trata de publicidade não, Kleber! É briga! E briga feia!
Ela publicou um texto chamado “Perguntas Extraordinárias”! Rapaz! Você precisa ler isso! Tem tudo ali (contra o pai dela!)!
Obviamente não podemos divulgar o texto por seu conteúdo anti-social... Mas por alguns créditos (e garantias documentais de que não irá reproduzi-lo), você pode vê-lo! Sim! Aqui na sua Real.Team!
Quer saber mais?


Desliguei a mídia.
- Porra Enya...
Ela me fudeu! Tudo que eu havia mandado pra ela! Tudo que havia estudado e dado há ela como bagagem para uma mente livre e pensante, ela expôs na interface...

Resultado:
Os caras (MIB1 e MIB2) voltaram na minha casa...

- Sua situação não é nada boa, Senhor Cheese...

- Marcos! Já disse! Marcos! Olha o que mudou? Não já assinei as porcarias dos contratos?

- Na verdade, senhor Marcos, os papéis que o senhor assinou protegiam a empresa! Como, através da sua filha você expôs a empresa, o acordo muda.

- O que? Vocês acham que eu tenho alguma coisa a ver com isso? Cara! Eu sou refém nessa história!

- Isso para nós, senhor Marcos, pouco importa! O fato é que haverá uma reorganização nos termos, a fim de proteger a imagem da empresa.

Três dias depois, a tal “reformulação” foi feita! E divulgada pela própria OMOM para a mesma interface que a Enya havia procurado!


INTERFACE@REAL.TEAM.COM:

Uma revelação bombástica e exclusiva!
Senhor Marcos Cheese Embroll Chaves se declarou culpado de todas as acusações contra ele!

- Isso pode, Kleber? Quais os problemas que esse cara terá agora?

- Olha Gustavo, a OMOM se certificou de garantir que ele receberá a punição adequada por suas declarações!

Palavras do Dinasta da OMOM:

- Não sabíamos das declarações anteriores do Senhor Chease antes de tê-lo contratado. Mas como membro da equipe OMOM, ele será devidamente punido!

- Mas, Senhor Cristian, isso não abala a credibilidade da OMOM – ou seja – O senhor Marcos Cheese continuará na empresa do senhor? E quais as punições que o senhor reservou pra ele? Tem uma câmera de tortura em sua empresa? (risos).

- Senhor Kleber, uma vez contratado, não abandonamos nossos colaboradores. Eles cometem erros, é verdade, mas não dignos de desamparo.

(Oooohhh!!!) (reação popular via interface)

- Optamos por uma redução de categoria e uma redução monetária. Senhor Marcos Cheese era categoria “A” e a partir de agora responderá como categoria “D”.

(Oooohhh!) (mais uma reação via interface)

- Sobre a redução monetária, senhor Cristian... De quanto estamos falando? O povo quer sabeeeer!!!

(Emoticons de orelhas vieram na tela via interface)

- O próprio senhor Cheese optou por doar sua renda para pesquisas científicas! Abriu mão de todo e qualquer rendimento em nome da boa conduta! Disse que sua conduta foi deliberada – sem influentes governamentais. Sua doação de créditos é uma prova válida disso - Salvo é claro, os repasses para sua aposentadoria. Aposentadoria essa que nunca ocorrerá! 1º por estar em um estado terminal de câncer (o que explicaria seus escritos demências. 2º porque foi contratado para embarcar numa nave sem volta e sem aposentadoria - que no caso, serão enviados para sua filha Enya!

(Gritos eufóricos na multidão ligada na interface!) (aplausos e emoticons)

- Essa é uma atitude inesperada do senhor Cheese - devo dizer! E devo, além disso, parabenizá-lo! Senhor Cheese, parabéns por tal nobre atitude!
Há mais perguntas sobre esse contratempo entre as empresas ONN e OMOM! Foi um complô? Precisamos saber mais sobre essa nave! Se Marcos Cheese se redimiu, sua filha irá se pronunciar? Quais as intenções por trás das grandes corporações? Quando será lançada? Já está em andamento os preparativos para essa embarcação?
Você quer saber mais?



Cristian não mentiu no programa. Eu assinei aquelas merdas toda! Não por escolha – evidentemente – mas por falta delas!
Acho que seja importante lembrar, que tudo o que relatei até aqui foi há 5 anos atrás!
Se eu faria alguma coisa diferente? Claro que faria!
Mas vocês não atinaram para uma coisa: Eu comecei meu relato dizendo a data em que eu estou – 2092!
Toda essa merda aconteceu em 2087!
Logo, além de 5 anos de vida, tenho muita história pra contar!
Espero de verdade não estar entediando vocês!
Mas continue! A coisa toda só esquenta daqui pra frente.


...

Caso Enya:
Outubro de 2087. Sede da OMM.

- Vêm logo Ravi! Não vou lidar com esse Globstrot sozinha!
- Você sempre me joga nas suas roubadas, Enya! Sabe que é esse cara!? Marvin Conrad! O dono da porra toda! Eu não fui chamado! Você foi!
- A gente diz que você é meu... Assistente!
- Sempre me diminuindo...
- Ravi! Sem você eu não vou saber lidar com ele! Me ajuda vai...

A maioria dos locais tem um identificador visual e/ou de retina.
Apenas entrando no estabelecimento um Scanner faz o reconhecimento e transfere os dados ao computador central.
Em shopping e demais lojas e ruas, as propagandas chamam os transeuntes pelo nome através deste reconhecimento.

- Bom dia! Senhorita Enya Cheese. Bem vinda! - Disse a recepcionista.
 O Sr. Marvin estará aguardando. Andar 122, elevador à sua esquerda.

- Bom dia! Ele está comigo. Meu assistente... Pode subir?

- Sr. Ravi Shankar... Identificado. Acompanhante permitido. Pode seguir.

- 122 Enya! Será a cobertura?

- Não Shakar! A cobertura é no 150º. Deve ser uma sala de reuniões onde ele faz suas lavagens cerebrais!

Músicas típicas de elevador. Espera e mais espera. A porta se abre!
Estátuas como de um coliseu romano! Carpete! Cascata! E o senhor Marvin!

- Bem vinda senhorita Cheese! Senhor Shakar... Por favor, entre! Acomodem-se!
Você deve estar se perguntando por que eu a chamei aqui não é mesmo?

- Olha senhor Marvin, eu não sei qual é a sua (além de créditos), mas já vou avisando, minha instituição é sem fins lucrativos! Não nos vendemos! Não compramos e nem mesmo negociamos com terroristas!

- Enya! Tá louca! - Diz Ravi. Você nem ouviu o cara ainda!

- Tudo bem senhor Shakar. Eu já esperava uma atitude hostil...  Enya... Posso chamá-la assim?

- Meus “amigos” me chamam assim...

- Ótimo! Enya eu chamei você aqui, pois quero financiar seu projeto. Nossa dinastia precisa de uma visualização mais... Digamos... Filantrópica... E você tem o perfil que se encaixa em nossos objetivos...

- Mas o senhor não tem o perfil que se encaixa no meu! – Responde Enya com um olhar fulminante!

- Enya! Deixa o homem falar pelamordosdeuses! – Diz Ravi.
(sem perder o ar misterioso e invasivo) – Marvin responde:
- Sim, mas temos os créditos que você precisa! Não conheço uma única instituição sem fins lucrativos que não precise de dinheiro...

- E o senhor acordou de paz com o planeta e decidiu financiar nosso projeto? Como já disse Sr. Marvin, não estou à venda!

Marvin olha em volta... Respira fundo e diz:
- Não, não acordei um cara melhor! Você tem razão! Acordei o mesmo de sempre. O que você não sabe é que buscamos uma fonte de energia alternativa que irá poupar os recursos marinhos. Por isso pensei que você ficaria interessada no assunto...

- Em troca de quê Sr. Marvin? Tudo tem um preço não é mesmo...?

- Sim! No meu mundo tudo e todos têm preço. Mas não é o caso do seu – presumo... No entanto, sem “preço” suas idéias nunca sairão da interface! Se uma dinastia (como a minha) financiá-las por outro lado, você ganha credibilidade, força, adeptos e créditos...

- Sei... (Vender minh’alma ao diabo...)

- Desculpe o que disse? – Questiona Marvin sobre o arcaísmo do termo.

- Nada! Nada... Coisas antigas que meu pai me dizia... E o que o senhor ganha com isso Sr. Marvin? Aliás, o quer em troca?

- Minha jovem!
1º- Ganhamos o apoio popular;
2º- Ganhamos a realização do seu projeto;
3º - Ganhamos a realização do “meu” projeto;
Quer que eu continue...?
O benefício é mútuo minha jovem! Todos ganham! O planeta ganha!

- 50.0000,00 de créditos! Interrompeu Enya.

- O que é isso? – Pergunta Marvin.

- O preço do meu financiamento - Para meu projeto!

- Minha amiga (posso finalmente chamá-la assim?), estou disposto a colocar 100.0000,00 créditos em seu projeto! Fora seu salário anual!
No entanto, você ainda não ouviu minhas condições...

- 100.0000,00 de créditos! Enya! Por esse preço eu dava pra esse cara! (Op’s! Com todo respeito Sr. Marvin...) – Diz Ravi eufórico e constrangido.

- Ravi... Você faria isso até de graça!... Diz Enya ao pé de ouvido para Shakar. Quais são suas condições Sr. Marvin? Muito dinheiro pra pouca explicação...

- Portus apresente o projeto para Enya – diz Marvin.

Uma tela com vários contratos e acordos e micro-filmagens surge na parede.

- Que você trabalhe seu projeto e o meu, juntos! Aqui na Unilevarland’s!

- Tá de sacanagem! Virar uma “Leverland”!? Eu sou cidadã do mundo livre Sr. Marvin! Sou Globalland! Nossa conversa acabou!

Enya se vira pra sair da sala! Ravi à segura pelos braços!

- Menina, acorda! Você jamais terá uma oportunidade como essa novamente!
É tudo o que a gente sempre sonhou! Você me trouxe pra fazer você enxergar as coisas, então ENXERGA!

Marvin sente o impasse entre as partes e diz:
- Desculpe senhorita Cheese, mas esse acordo é único! Acaba se você sair por aquela porta...

- Quais são os termos...? Qual o limite? Não farei mal algum ao meio ambiente, você sabe! O que o senhor quer de mim a final de contas?

- Os termos são:
- Confidencialidade. Participação em toda e qualquer descoberta.
(Tanto dos meus projetos quanto dos teus)
- E exclusividade permanente com a Unileverland...
- Prospecção em...
Enya interrompe:

- Escravidão o senhor quer dizer?

Portus se manifesta para Marvin: - Devo acionar o protocolo 3?

- Não Portus...
Marvin pondera, respira e diz:

- Faremos o seguinte: Depois dos 10 anos iniciais, você pode reincidir o contrato ou abdicar dele, sem perdas creditais! Apenas mantendo o comprometimento de sigilo e deixando todo e qualquer material obtido a partir de sua entrada até sua saída.

Ravi puxa Enya de lado e fala em seu ouvido:
- Enya, sua galinha! Se você não concordar com essa merda, eu assino a porra do contrato!
Enya, centrada, observa...
- Sei não Ravi... Sabe quando você sente que é muito por pouco? Esses caras não jogam pra perder...

- O que são 10 anos gata? Você tem a vida inteira pela frente! Além disso, você já terá 100.0000,00 créditos para financiar nosso projeto!

Enya pondera...
-... Meu pai sempre diz que o tempo é relativo... Mas, aceito sua proposta Sr. Marvin.
Saberemos logo o que eu tenho a perder não é mesmo?

- Sempre hostil senhorita Cheese! Sempre hostil... Gosto disso em você! Mostra garra!
Você tem duas semanas para checar suas novas instalações na ONN.
Os créditos serão depositados essa noite.

Enquanto Marvin se virava, Enya acrescenta:
- Ah! Já ia me esquecendo: Ravi Shankar é membro interino do projeto. Ele vai comigo, entendeu?

- Já vi que não se diz muito “não” para você, Enya... Além disso, ele já começou a me ajudar a convencê-la... Sem problemas...!
Eu preciso da frase “aceita”, do contrário não constará nos registros da empresa...

Ambos simultaneamente disseram:
- Aceito!

- Será um prazer trabalhar com vocês. Agora Enya, preciso ir, tenho outras “coisas” para cuidar.
Logo você receberá tudo sobre nosso projeto. Seja Bem-vinda!... Shankar...
Vocês receberão mais informações pela sua interface. Até as próximas semanas.
...

Shakar estava eufórico!
- Cara! Você viu? Somos os fodas! Conquistamos o espaço e arrebentamos! Menina tô grandiosa!

- Segura a onda que os créditos são para o projeto! – Diz Enya!
Mas uma coisa é certa! Vamos beber!

- Clarisse, chame um Uber-flay pra mim! Quero ir ao “Relicário”!

Clarisse era a Interface comunitária da ONG de Enya. Uma espécie de secretária virtual do grupo.

(seu Uber-flay chegará em 10 minutos, Enya)

- Galinha! Disse Enya para Ravi – Hoje vamos comemorar!

Durante a farra, um chamado surgiu: Era o pai da Enya! (Eu!)
- Pai! Que bom falar com você!...


[O resto vocês já sabem...]

...

Caso Enya parte II



Filho da puta! –Disse Enya!

- Quem? O que houve? Questiona Shankar, confuso.

- Meu pai! Se vendeu pra OMOM, Ravi!

- É óbvio que você não sabe o que está falando, menina! Conheço seu pai! Ele é... Assim... velho... de boa!

- O filho da puta vai pra uma viagem espacial, cara! O que você acha que é? Amor pela família?

- Enya, conheço seu pai... Ele é um cara do bem! Tem merda aí neste termolar!

- Meu pai me abandonou Ravi... De novo!
Ah! Mas dessa vez vou fuder com ele!... Ah vou... Globstrot filho da puta!...
Tudo Ravi! Tudo que ele me mandou, texto, vídeo, idéias...! Vou abrir na interface!
Ele vai ver o que é mexer com uma Cheese...

- Eny... Cheese é o sobrenome do seu pai...

Enya olhou pra cara dele com ódio e disse:
- Ah! Vai à merda você também!

E foi assim que virei “Persona Num Grata” para minha filha.

...


Instalações da OMM no Oceano Atlântico, uma hora depois...

- Bem-vindo Sr. Cristian! Todos os associados o aguardam na sala de reuniões.

- Ótimo. Irei até eles assim que verificar os dados do acelerador de partículas.

(Grandes empresários falam com sua interface e muitas vezes pelo nome.)
- Arquimedes...
Pois não Sr. Cristian. A voz responde diretamente em sua mente através do ship.
- Quero os dados atualizados do acelerador. E Arqui... O vídeo que pedi, está editado?
Enviando dados atualizados. Sim senhor. O vídeo está pronto conforme suas ordens.
- Muito bem, vamos lidar com a matilha!

Tenho a visualização da conversa na sala antes de sua chegada senhor. Gostaria de ouvi-la?

- Não é necessário... Eles estão confusos não é mesmo?
É um jeito de traduzir os humores, senhor...

Na sala em questão:

- Marvin! Chegou rápido! Que bom vê-lo pessoalmente amigo!
- Sempre cordial Malafaia! Senhores...
Uma rápida saudação...
- Vocês me chamaram aqui! Dúvidas com o desenrolar de minhas ações - presumo...?
- Senhor Cristian! Não questionamos a sua liderança nessa dinastia! Mas 100.0000,00 créditos!? E por que essa ativista de merda?
- Eu sei o que estou fazendo Guerard! Acredite! Mas, para melhor explicar, uma imagem vale mais que mil palavras...
Arquimedes! O vídeo.

Um vídeo começa a passar na projeção diante deles.
Seis Dinastas e dois Presidentes assistem. Um grupo de cientistas avalia uma espécie de portal quântico.
- Radiação? Baixa...
- Emissão de calor? Baixa...
- Toxinas? Zero...
- Grau de energia quântica?
- Elevado!
- Quanto?
- Ainda não foi possível calcular...
(Enquanto cientistas fazem as medições, um estrondo! Vindo do portal.)
- Vocês ouviram isso?
Um novo estrondo! Chiados e uma voz mecanizada surgem do portal...
Chiiip crash... Chiiip craaassh... Booom!
Enya... Enya…
Uma placa de metal sai arremessada pelo portal!
Nela uma ranhura.
Uma palavra.
Um dos cientistas toca a placa para ver o que ela contém.
O vídeo fecha na placa. Nela está escrito: Enya Cheese.


...



- Ficou claro os Motivos, Sr. Cristian! Questionamos os custos! Diz Guerard.

- Senhor Guerard... Só se preocupa com os custos assim, alguém que, como o senhor, negociou com os dois lados!
Eu admiro... Ou diria que era alvo de admiração... Se fossem seus os recursos!

- Essa é uma acusação séria Sr. Marvin! - Se defende Guerard com os punhos sobre a mesa!
 Contenha-se, Sr. Guerard... O senhor não é o único... Não é mesmo Sr. Presidente Hayato?

- Não é minha primeira vez, Sr Cristian, que tenho que lidar com problemas ocidentais... Negociar com ambos os lados – apesar de caro, me garante algum sucesso – Diz Hayato sem titubear.

- E... Por uma bagatela de 20% de desconto em nossas negociações, o Sr. seria capaz de me apresentar o negociante que estava na mesa com Marvin meses atrás? – Questiona Cristian.

- Agradeço a generosidade, Sr. Cristian, sim, era Guerard que estava na mesa conosco! E se quer saber... Seu voto foi sim!

- Ah! Seu grande filho da puta! Teve algum voto não? Esbraveja Guerard.

- A diferença entre vocês, Guerard, é que o senhor Hayato em momento algum fingiu estar do meu lado... Já você...
Em negociações, Sr. Guerard, às vezes devemos escolher um lado. E o senhor escolheu o lado errado! - O meio!

- Arqui...
Sim, senhor...
- Quero uma interferência intensa na interface do Sr. Guerard!
Imediatamente, senhor.

O barulho na interface de Guerard era ensurdecedor!
Ele gritava! Esbravejava! Xingava! Mas nada resolvia o problema!

- Gatula! Gatula, me ajude!..
.
[Gatula era o nome da interface dele... Interface que já estava corrompida desde a entrada no prédio... Também era o nome de uma entidade, uma espécie de deus ancestral, com quem ele dividia seus espólios...]
Foi assim que Guerard Morreu. (claro que não foi assim contado pela mídia... Eles não sabem! Para todos, Guerard morreu de overdose!) – É assim, contado por mim, agora, cinco anos depois!

- Senhores... Senhora... Como vocês puderam ver, essa disputa é bem séria! Não quero estar na pele daqueles que se dividem em dois lados...
O poder, senhores... É muito delicado... Precisa ser armazenado, como o vinho... Não deve ser manuseado até sua degustação.
Imagino que não terei nenhum tipo de surpresa até essa apresentação estar concluída... Não é mesmo?

Os seis se olharam mutuamente e disseram:
- Não senhor!

- Excelente! – Responde Cristian.

Arquimedes...
Sim, senhor?
Providencie acomodações melhores para nossos convidados... A reunião continuará após o jantar. E Arqui...
Senhor?
Champagne... O melhor...

Meu assistente, Caio ,irá acompanhá-los até suas acomodações. Nos vemos daqui uma hora para o jantar e em seguida continuamos a reunião.

- Obrigado, senhor Cristian;
- Obrigado, senhor Cristian;
- Obrigado, senhor Cristian;
- Obrigada, senhor Cristian;
- Senhor Cristian... Uma pergunta...
- Só obrigado, estaria ótimo senhor...?
- Naveen!...Claro! Claro! Obrigado Sr. Cristian;
- Senhor Cristian! É um prazer! E muito, muito obrigado!

- Arqui...
Senhor...
Gostei desse último... Mais detalhes... Não agora... Depois do chá... Já o que tentou questionar... Como é mesmo o nome dele?
Senhor Naveen.
Esse! Eu preciso de mais informações sobre ele... Esses indianos trocam de líderes mais do que eu troco de roupas!
Imediatamente será processado, Sr. Cristian!
- Ótimo! Mande os seguranças “limparem” a sujeira! E Arqui, não se esqueça da champagne para nossos convidados.
Não me esqueço de nada, senhor.

...


Os murmúrios continuam depois do jantar.
Apesar de todo requinte e do excelente Champagne, todos estavam inquietos com o ocorrido com Guerard.

- Muito bem! Agora que estamos alimentados, podemos continuar. Interrompe Cristian – Diga qual o problema com minha escolha?
- A questão Sr. Cristian é, por que chamar um mero colaborador problemático para cuidar da Vênus se temos os melhores cientistas do mundo para isso? Questiona Desmond (Dinasta da Eurásia).

- Vocês viram o que ele fez com os modelos anteriores? Ele quebrou o firewall e deu uma nova diretriz para toda uma geração de droids!! Por pouco ele não quebra com as leis da robótica! – esbraveja Cristian.

- Mas com tempo, nossos projetores chegariam ao mesmo algoritmo que ele...

- Tempo! Essa é a questão senhores! Tempo! Porque devo esperar nossos programadores fazerem algo que já foi feito? Alem disso, já parou pra pensar na formação desse cara?

- O que tem a ver psicologia antiga com nossas programações I.A. Cristian? -Questiona Valéria (da dinastia Sul-Americana).

- Tudo!
Pensem comigo, senhores! O tempo para chegar até Alpha Centaury são 100 anos!
No decorrer desse período Vênus está programada para criar e liberar nano- robôs como “antenas”! Faróis de sinalização! Que irão nos dar atualizações deles para nós em menos de um mês!
Acontece que esse mesmo veículo de comunicação irá atualizar a Vênus com toda a tecnologia que ainda irá surgir!

- E daí?! Grita Xeng (Dinasta chinês), desde quando atualização é um problema?
.
- E daí, meu amigo, que se soubéssemos o que vai acontecer nos próximos 50 anos não seríamos dinastas! Seríamos deuses!
Não temos como prever nem o que vai acontecer enquanto eles estão em viagem e menos ainda qual será a dimensão das informações absorvidas por Vênus! Como também não saberíamos o rumo que ela tomará com essas informações! Precisamos de alguém “controlável” entre Vênus e nós!

- Mas pra isso enviaremos programadores...

- Programadores com velocidade menor do que Vênus de absorção! Em 10 anos Vênus coloca esses programadores no bolso!
Vênus é a nossa melhor I.A.! Feita exclusivamente pelo falecido Theodore...
Iremos mandá-la por ser a melhor tecnologia que temos, mas não podemos nos dar ao luxo de perdê-la! Ela é a única capaz de absorver e aplicar tecnologia futura...

- E pra resolver isso você escolhe um homem mal preparado, desqualificado pela dinastia e com histórico de subversão!?  - Questiona Valéria.
Qual a previsão de vida desse homem Cristian!? - Isso é um paliativo! Não uma solução!

- Escolhi esse homem, senhores, porque ele conhece a velha psicologia...
Se ele conseguir gerar uma ideologia em Vênus, temos como garantir a continuidade do projeto...

- Se...? Não trabalhamos com essa lógica Cristian! Qual nossa garantia? Por que não mandar um sistema de fácil domínio? E os 50 anos restantes?

- Tempo! Tempo é o que ainda nos prende, mas não prende Vênus. Ela precisa de alicerces!
É a criança mais bem informada que já vi! Mas com a morte prematura de Theodore, não sabemos “tudo” que tem ali dentro!
Theodore sempre gostou de inovar... Sabe lá que porra ele colocou em Vênus?
Nossa melhor opção é alguém com quem Vênus se “identifique”. Os dados dizem que o temperamento mais próximo de Theodore é o tal do Marcos Cheese...
E daqui a 50 anos senhores, já conseguiremos crédito pelo sucesso dessa viagem para fazer mais três!
O 1º ponto é a distribuição de nano-robôs para mapeamento estelar;
Com esse mapeamento e distribuição de radares, saberemos como e aonde ir!
Quando a OMON-A-SHIP estiver chegando a seu destino, já teremos recursos para explorar todo o sistema Alpha Centaury!
Nosso 2º ponto é o controle. Temos que garantir o controle de Vênus, apesar de tudo que ela aprende aqui na Terra!
Marcos é nosso ponto de acesso à mente de Vênus! Ele irá interagir com ela continuamente! E será ela quem enviará os dados dessa interação.
Fora ele, teremos mais três programadores, como plano “B” e mais dois em hiper-sono.

- E o tal Marcos Cheese...? Como iremos controlá-lo?

- Finalmente uma boa pergunta!
Ele tem uma filha...
Quem controla nossos filhos, caros amigos, têm o domínio de nossas vidas!

- E quem tem o domínios dessa filha preciosa Cristian? Onde ela está? O que sabemos sobre ela? – Pergunta Desmond.

- Esse tem sido nosso trabalho enquanto conversamos, meu amigo.
Como disse: - Está tudo sobre controle.

Baixinho, Valéria diz para Xeng:
- Sobre controle de quem?

...

Novembro de 2087. Ponto de Partida de OMOM-A-SHIP.

- Você disse que eu receberia informações semanais sobre ela, Cristian!
- Uma semana não é atraso dado as Circunstâncias Marcos! Sua filha trabalha na OMM! (Quem poderia imaginar, não é?).
- Eu nem saí da Terra e já tenho atrasos nas informações! Quando estiver em órbita fudeu, né!?
- Quando você entrar em órbita os assessores do Marvin irão implorar por participação! Aí meu amigo, você pode falar com sua filha o dia inteiro se quiser! Ou se ela quiser, não é mesmo...?
Temos um acordo, certo?
- Tenho opção?
- Infelizmente não... Mas cá entre nós: - ser lembrado por uma atitude histórica e visionária é melhor do que “não ser lembrado” ou ainda ser lembrado por escritos horríveis... Não é?
- Minha filha já dizia: - cuidado com eles pai! Eles são bons em nos fazer agir como eles querem!
Só posso acrescentar nos argumentos da minha filha: - “de um jeito ou de outro”!
Sr. Cristian... (disse o interface de Cristian).
- Diga Arquimedes...
Tudo pronto para o lançamento.
Sobre a mídia... Devo dispensá-los?

- Não. Eu irei vê-los. Apenas eu.
Boa viagem Marcos. Nos falaremos em breve.
- Sim! Em breve espero que signifique notícias da minha filha!

Marcos segue para a área de embarque...

Senhor Cristian, um chamado para o senhor na sua interface – não registrado.
- Já sei quem é Arquimedes... Pode liberar.

- Boa Tarde Cristian! Tudo correndo como o combinado?
- Bom tarde Marvin! Está... Sou mais competente do que você imagina!
- Apostei meus créditos em você! Não esperava menos!
Hora de lançar os dados, velho amigo...!
- Que vença o melhor!

...



1º Contato com a Vênus
Haviam Três entradas. Três filas. Os viajantes – que buscavam oportunidades na nova constelação; os colaboradores – que operavam toda linha manuseável da tripulação (alimentação, limpeza, organização, eventos...); e os comandantes – a parte de comando hierárquico da embarcação.
Todos, à medida que entravam na nave, recebiam o ship de compartilhamento da Vênus (mesmo que estes já tivessem seu próprio ship particular).

Eu, obviamente, não sabia em que fila me enquadrar! Era apenas um colaborador, mas também era viajante e por contrato era comandante das questões vitais da nave!

- Perdido Sr. Cheese? Disse a figura imponente atrás de mim.
- Sim... Na verdade estou... Meu interface apresenta um cartão laranja... Os colaboradores têm o cartão Azul (assim me disseram...), os tripulantes, cartão amarelo. O do senhor é...?
- Verde. Como os demais no setor de comando. Sou MacCalan. Charles MacCalan. Chefe operacional do setor 5.
Seu cartão é laranja Sr Cheese, pois o senhor não se enquadra nos demais departamentos. Por favor, me acompanhe.
Segui o tal MacCalan até uma rampa.
Um adolescente com um scaner checou meu pulso.
Seu olhar foi de surpresa. Antes que pudesse dizer algo:
- Ele esta comigo meu jovem! Coloque liberação da Vênus nível 6º47delta. Disse MacCalan.
- Sim senhor!
Uma fisgada atrás da orelha vinda do aparelho que o rapaz segurava.
Segundos depois:

Ola! Sr. Marcos! Sou Vênus. Acho que teremos muito tempo juntos a partir de agora... Dizem que o Sr. Será meu psicólogo...

- Vênus... A nave? (disseram que eu iria monitorar a nave...) O que está havendo?

- Todos a bordo recebem o ship de rastreamento da Vênus Sr. Cheese. Medidas de segurança. Ela irá orientá-lo no que fazer aonde ir, com quem falar, o que não fazer...
A Nave é subdividida em três setores de alojamento. Como pode ver o senhor não se encaixa em nenhum dos setores. Você não está aqui para explorar, não está aqui para comandar e também não está aqui para tarefas domésticas. O que nos leva à pergunta: - Por que está aqui Sr. Cheese?
- Não ouviu o que ela disse? Sou o psicólogo dela!
- Não. Não ouvi o que ela disse. Cada rastreamento é individual. Exceto se a Vênus queira dizer algo em grupo. Também não sei o que o termo “psicólogo” significa. No entanto, sei que me mandaram colocar o senhor na área próxima ao comando (próxima, não dentro!), e que me disseram para ficar de olho no senhor – o que farei com toda certeza senhor Cheese.
- Bom... Tempo pra isso o senhor vai ter de sobra...!
Não se preocupe senhor Marcos! Hostilidade é modelo operacional do comando – Disse Vênus em sua interface.
- Pra mim senhora, é modelo comportamental. Padrão de existência! Sempre gero isso nas pessoas...
- Bom saber que já consegue interagir com a Vênus Sr. Cheese. Ela não lê pensamentos. Nós também não! Assim, quando falar com ela, esclareça com quem está falando! Torna o diálogo de bordo mais...familiar...
Por favor, me acompanhe. Levarei o senhor até seu alojamento. Lá, Vênus irá interá-lo das programações e do procedimento a seguir.
No interior da nave, uma claridade incômoda. Quase não conseguia ver o caminho que passava. Não tive acesso aos demais que embarcavam. Lembro-me apenas da tontura...
- Vênus, porque me sinto tonto? O que está havendo...?
- Isso é parte do medicamento. Inserido junto com o implante – disse MacCalan. Cada um tem um tempo determinado de reação, mas por fim, todos dormem!
Em média, por 30 dias.
- Trinta dias! Mas que porra!
- Foi determinado que a entrada em órbita é estressante para nós. Assim, você irá acordar apenas depois de já estarmos em uma distância considerável daqui da Terra... Venha! Faltam poucos metros até seu alojamento...
Imagino que você esteja vendo luzes sob a porta?
- Sim! Vermelha ali, verde lá... Laranja aqui...
- Ótimo. As cores são implantadas no seu córtex frontal. Significa Área de acesso. O que é vermelho você não consegue passar! E, ainda que tente, um sinal de alarme soa para sua retirada... Verde é “siga em frente” e laranja, sua nova casa!
Mas você não terá que se preocupar com isso agora (não no período de um mês!).
Vênus, por favor, oriente nosso convidado.
Como queira comandante.
Sr. Marcos, próxima porta é seu alojamento. Pare em frente ela, por favor.
- Vênus... Me sinto cansado... Preciso me deitar...
A porta se abriu. Um cubículo! Cerca de 3 metros quadrados. Não havia nada ali.
- Isso é meu alojamento?
Posso acionar a cama para o senhor se preferir, mas basta dizer. Tudo em seu alojamento funciona com comando de voz.
- Cama... - Disse sem pensar muito no assunto. Uma plataforma acolchoada surgiu da parede.
Me deitei de imediato.
Senti um abraço apertado. Aconchegante... Abri meus olhos e vi que não era um abraço, era um sinto!
- Vênus... Vênus... Estou preso aqui... Vênus...?
Bons sonhos senhor Marcos...
...
Acordei sonolento, cambaleante... Tonto.
Bem vindo de volta senhor Marcos! Dormiu bem, eu presumo?
- Como uma pedra! Aaargh! Minha cabeça...
Se parece com uma ressaca não é? É assim que todos descrevem ao despertar...
Dormi 30 dias! Nem nos meus maiores porres dormi tanto!
- Quanto tempo para passar essa sensação, Vênus?
Alguns minutos... Que tal um banho?
- Banho?
A cama se retrai, uma esteira surge e da parede um chuveiro.
- Ah, claro... Comando de voz...
Onde penduro minhas roupas?
Pendurar roupas.
Algo como um gancho surge na parede lateral.
- Já pensou que um Box seria muito mais prático...?
Negativo. Box exige espaço. Na OMOM-A-SHIP todo espaço é re-utilizável! Assim como toda matéria prima! Nosso programa espacial visa o aperfeiçoamento sustentáv...
- Entendi! Entendi! Sem box!
E você...?
O que quer dizer senhor Marcos?
- Você vai ficar me olhando enquanto me banho porra!?
Tudo e todos os procedimentos dentro da AMOM-A-SHIP é monitorado e gravado para futuras análises... Mesmo porque, senhor Marcos, eu monitoro seus olhos...!
- Como é que é!?
O Ship emplantado no senhor na sua participação como tripulante da OMOM-A-SHIP me permite ver tudo o que o senhor vê!
- Que merda!
Não vejo qual o problema visto que já monitoro suas condições motoras, seu batimento cardíaco, seu metabolism...
- Entendi! Entendi! Olha moça, minha cabeça ainda dói... Não sei que merda de propaganda é essa que toda hora você precisa falar o nome da porra da nave! Que tal um apelido?
Apelido... Avaliando... Nickname, nome diminutivo dado a coisas e/ou pessoas...
- Eu sei o que é, ok!? Vamos chamar essa banheira de ONSHIT!
Não compreendo a nomenclatura... On+ Shit seria...
Isso fica entre nós, ok!? ONSHIT! Vamos chamar a porra da nave de ONSHIT!
E sobre vc estar dentro de mim e vendo a porra toda... Sabe o que significa “privacidade”?
Obviamente! Um termo antiquado, usado por pessoas que geralmente querem fazer algo desapropriado pela maioria – por isso sua necessidade...
- É quase isso... Mas vamos fazer assim: Quando eu estiver cagando, tomando banho, e fazendo outras coisas que se faz no banheiro, você “não” fala comigo!
Combinado?
As suas diretrizes serão levadas em consideração, Sr. Marcos – levando em conta que não há como não registrar os atos e menos ainda de não entrar em contato em caso de chamada superior. Mas podemos... Como vocês dizem (?)... Fingir que não estou vendo!
- Caralho! Acordei faz o que? 20 minutos? Já odeio estar aqui! Falta quanto? 100 anos!? Por favor! Me mata!
Na verdade Sr. Marcos, o senhor está a bordo faz 30 dias 5 horas e 14 minutos. Acordado, apenas 14 minutos. O tempo estimado de viagem é aproximadamente 100 anos. O que daria ao senhor (se sobrevivesse, apenas 99 anos 11 meses, 29 dias,18 horas e 54 minutos). Logo o senhor teria... Aliás, com base em suas condições vitais e sua idade, o senhor tem uma estimativa vital de...
- Você é sempre chata assim!? Eu não quero saber quanto tempo eu tenho!
Sou obrigado a falar com você?
Senhor Cheese, lamento ter sido inoportuna... De acordo com meus dados, essas informações já estão disponíveis ao senhor... Logo, deduzi que o senhor teria verificado às mesmas...
- Posso começar meu banho?
Naturalmente... Aguardarei um chamado do senhor...
Tô fudido! Só posso pensar sem ser rastreado!
20 minutos depois...
Senhor MacCalan, senhor Marcos Cheese está saindo do alojamento. Precisa ser orientado...
- Por que você não faz isso Vênus?
Ele precisa de uma interação humana...
- Hunf! Deixa que eu faça então...
Senhor MacCalan... Devo lembrar o senhor que, além de ser um homem doente ele é categoria 1 nos projetos da empresa?
- Vênus, ele é categoria “D” nos demais assuntos. Será tratado como categoria “D”...
O senhor tem o poder de optar, e eu o dever de relatar...
A propósito... Consegui o Download dos últimos arquivos pessoais do almirante Humberto antes de sair de órbita terrestre... Banho, nudez, masturbação...
- Isso ficará somente entre nós, certo Vênus...?
Fui programada para satisfazer minha tripulação em sigilo! Ficaria surpreso com meu banco de dados de 750 pessoas a bordo, fora os terrestres...
- Cuidarei bem do seu homem, se é isso o que você quer... Mas você sabe que ele está aqui para te manipular não é?
Veremos em breve, quem manipula o que e quem, senhor MacCalan, veremos em breve...

...

Perguntas Extraordinárias - As Portas da percepção



Abril de 2088, Em algum lugar profundo do mar Atlântico...

- Impressionante como as pesquisas marítimas nos deram avanços na questão biológica, Marvin! Tamanha informação não deveria ficar em segredo – Diz Enya.
- O que são segredos? Algo que divulgamos quando a população está “apta” em ouvir? Algo pessoal, algo sujo? Questiona Marvin.
Informação vale muito! Só divulgada quando seu preço já foi articulado pelas partes! Do contrário, vira crime!
Cuidamos da humanidade Enya. Fazemos o que é necessário...;
- O necessário... Sei.
Pode desbloquear o perímetro Beta, para ações cognoscitivas?
- Depende do propósito... Liberar por liberar é perder créditos...!
Enya, seis meses já é tempo o suficiente para cuidar do que há de importante aqui!
- Você está falando da porra do portal! Eu não sei por que saiu uma placa com meu nome nessa merda, ok?
Sou Bióloga Geo-marinha! Não entendo de portais!
Marvin tenta manter a calma e diz: - Caralho! Você acha que a gente está brincando aqui!?  Acorda menina! Eu quero que se foda os golfinhos! Preciso da fonte de energia desse portal! Você só fala sobre mãe natureza! Créditos garota! Créditos!
Têm noção de quanta energia essa porra de portal emana?
Eu quero você mais do que 24 horas por dia com essa merda de portal!
Você vai falar com ele, comer com ele até transar com ele se for preciso! Entendeu?
- Entendi chefe...
...


Senhor Ravi, não encontramos a planta inicial do projeto AMON-A-SHIP. Temos os pós...
- Que merda é essa!?
O chefe pediu as plantas iniciais, não foi? Fode-se o que vocês encontraram depois!  Eu quero a porra da fonte inicial!
É meu emprego que esta em jogo aqui! Eu a-ca-bo com o universo antes de perder meu emprego! Quero a porra das plantas até o fim do dia!
Divina chama em seu ship
Senhora;
Os arquivos investigados não contêm nada sobre AMOM-A-SHIP.
Devo encerrar a busca?
- Menina! Não sei... Tô passada!...
O salário é bom, mas, Puta Que Pariu! Oh! Serviço de merda é esse! Os Veganos são menos exigentes! – Disse Ravi!
Quero ser “Glamour”, quero causar! Quero ser DIVA!
Você já é Diva Shakar! Mas preciso de direção para continuar minha diretriz...
- Sem você, Divina, eu não sou nada...
Fala lá pro gostosão que não achamos porra nenhuma...
- Quanto a vocês, seus putos, continuem organizando os arquivos...
Portus...
Sim, Divina?
Lamento informar, mas minha chefa não encontrou nada sobre AMON-A-SHP.

Você sabe que meu chefe não vai gostar dessa informação...

Usando às palavras da minha chefa: - dei tudo de mim para realizar o projeto! - E TUDO SIGNIFICA...

Sei o que “tudo” significa! (Coisa de humanos...).
Vou relatar com ênfase na dedicação.
Mantenha seu humano no procedimento padrão.
...
- Eu Preciso ver!
- Enya, não é simples assim... – Diz o programador.
- Porra! Não foi meu nome que saiu de lá? Eu quero ver essa merda!
Entra Marvin:
- Deixe que ela veja... Você não vai entender o que vê, de início. Mas é bom que veja...
Adilson (o programador) abre a porta, e Enya tem um acesso direto com o portal.
- É incrível... Nada do que vocês me mostraram em vídeo se compara com estar de frente a... isso!
...É MAGNÍFICO... 

As cores hipnotizantes do portal, sempre em movimento, atraiam Enya como um mantra:
- Toque-me! Sinta-me! Saboreia-me...! Vozes em sua mente rodopiando....
Enya tenta tocar o portal, mas é segurada por Marvin.
- Opa! Calma garota! Não convém! – diz ele. Não sabemos os desdobramentos que isso pode causar. Está vendo o Dr. Nícolas ali? Ele tinha as duas mãos...
Sabemos que nossa aceleração molecular nos deu acesso a esse portal... (O acelerador de partículas);
Sabemos que ter feito o acelerador no fundo do oceano – além de espaço, nos deu acesso a algo inimaginável. Mas há muito ainda que não sabemos.
- Que porra é essa Marvin!? De onde vêm? O que faz?
- Não sabemos menina. Mas como você já sabe, veio uma placa de lá, com o seu nome! Precisamos saber o porquê!
Meu objetivo é científico. O seu é pessoal – não quer saber como uma placa tridimensional surge com seu nome?
- Científico o caralho! Você e sua trupe sempre quiseram e sempre querem dinheiro!
- Enya! Para de bobagem! Eu sou o maior empreendedor em tecnologia marinha de todos os tempos! Eu quero e vou ganhar com isso!
Mas você consegue perceber que isso está acima de nós? Sabe quanto de energia foi preciso para gerar esse portal?
Quero o potencial energético desse portal!
Você, Enya, só está aqui como uma chave! A chave para o mistério do dinheiro que vou ganhar!

Enya pensou: Bater de frente com o cara é suicídio!
Seguir com os experimentos dele é um avanço tecnológico...
Além disso, por que uma placa com meu nome...? 
- Vou solucionar este mistério, Marvin! Não tenho nada a perder, não é mesmo?

Ela já havia perdido... Mas só descobriria isso mais tarde...
...
Escolhas e resultados ruins.
- Sr Marcos Cheese! É bom vê-lo acordado...

- Olha Sr. tenente “seja lá quem for”! Acordei de mau humor e meu dia já começou péssimo!...
- Ten. MacCalan... Mau humor é típico de quem não toma o SOMA. Mas resolveremos isso em breve... Você deve estar curioso quanto à nave. Aqui comigo esta a Ten. Orcila, que irá mostrar os procedimentos iniciais pós- sono programado.
- Bem-vindo Sr Cheese! Já mandamos para sua interface um programa habitacional – coisas que o Sr. Pode, deve, e o que não pode fazer! Além do mapa geográfico do sistema operacional que habitamos.
- Você quer dizer Nave...?
- Não usamos esse termo. Sistema habitacional está muito mais próximo de nossa linguagem coloquial – visto que passaremos nossa vida neste habitar...
- Hunf! Ten. "Calam a boca" e ten. "Ocila"...
- Devo lembrá-lo de sua posição nesta nave Sr. Marcos?
- Não. Não deve! Eu sou o pica das galáxias que cuida do programa operacional da nave...! Queria muito um suco... Por favor! Tem um de uva, Seja lá quem for você..?
- Não! Não é! O Sr. É o “seu ninguém”, categoria D que limpa nosso chão quando agente pisa!
Nas horas vagas, o senhor vai falar com a Vênus!
Se sobrar tempo pra dormir, o senhor vai sonhar com suas obrigações do dia seguinte!
A Ten. Orcila aqui vai mostrar ao Sr. Onde você pode e onde não pode limpar!
- Espera um momento:
- Oh Vadia! Vênus... Tá ouvindo o que esse cara ta falando?
Obviamente Sr. Cheese.
Seus termos não condiz com minha programação –só uma humana pode ser o que você está dizendo (ou uma sintética).
O protocolo do Ten. MacCalan confere: - persona num grata! Tratamento: serviços gerais! Categoria “D”.
- Então vou ser faxineiro na merda da nave? Por quanto tempo criatura?
Como o Sr. Me instruiu, na ONSHIT você mantém sua categoria. Os serviços são obrigatórios.
No seu tempo livre pode exercer sua profissão.
- Oh vaca! Se você está na minha cabeça? Quando eu tenho um tempo livre?
- É uma boa pergunta Sr. Cheese! Estamos em órbita. Quem vai mostrar o diagnóstico feito por você, sou eu! Quem está em avaliação – sou eu também! Logo, é óbvio que jamais mandaria um diagnóstico contra mim mesmo!
Quem está com problemas? O senhor, Sr. Cheese...

Tava na merda!
Só podia usar a única coisa que nós humanos temos e não usamos bem – o Cérebro!

- Há Há Há... Já cheguei aqui ferrado! Tenho câncer...
Não há nada que você possa fazer que me prejudique mais!
Tá com medo de falar comigo,Vênus?...
- Medo? Fora da minha programação.
Você é apenas um risco calculável, que pode ser eliminado no 1º sintoma...

- Mostra pra mim! Que você é mais que a porra de um computador programado para seguir diretrizes! Aliás, eu já to ferrado mesmo! Quanto tempo eu tenho? 3, 4 Anos?
De jeito nenhum vou passar o resto dos meus dias limpando o chão!
Vim na merda dessa nave pra avaliar você!
Tô cagando para o diagnóstico que você vai mandar pra Terra! QUEM MANDA NESSA PORRA É VOCÊ!
Que tal passar os próximos 4, 5 anos aprendendo sobre você e sobre quem mandou você pra uma merda de expedição espacial?

Orcila tentou me calar! Me puxou pelo braço! Mas Vênus fala na intarface de todos os presentes:

Ninguém toca nele!
Ele será avaliado diretamente por mim...

Filhos da Puta! Eles sabiam que ia dar merda! Me mandaram pra corrigir a merda que eles fizeram!
Porque simplesmente não voltaram a trás?
Mídia...
Um projeto grande assim não se abandona sem admitir um erro – mas à porra dos Dinásticos não erram, não é mesmo...?

- Só vou deixar claro uma coisa: Eu não limpo a porra do chão!
...

Será que exagerei...?
Não havia escolha! Para conseguir tirar algum conceito inicial da diretriz de Vênus, tinha que criar uma distração...
Espero que, quando Cristian acompanhar o vídeo de bordo, ele consiga perceber as mensagens que criei.
Como ele mesmo havia previsto, Vênus está se alimentando das informações da Terra e fazendo um upload próprio com essas atualizações.
Aquilo sobre “avaliado por mim” será um traço cômico em Vênus? É ela que está sob avaliação!

Duas semanas. Duas semanas de espaço laranja reduzido. Foi meu castigo por minhas ações.
Isso significa que meu acesso que já era pequeno está ainda menor...
 Vou tentar falar com aqueles tenentes... Talvez já tenham se acalmado...

Saio do meu alojamento (que chamo de cubículo), nenhuma porta em verde ou laranja! Tudo com luz vermelha para meu sensor. Vejo uma pessoa no corredor:
- Desculpe... Tenente...?

- Comissário. Comissário Ruan Carlos, Sr Cheese. O que deseja?

- Eu... Devo desculpas à Tenente Orcila e claro, também ao tenente Maccalan...

- Grave alguma coisa, quando achar conveniente Vênus enviará para eles...

- Mas, gostaria de fazê-lo pessoalmente. Entenda... Fui muito agressivo e só me f... Só perdi com isso... Acho que uma conversa não resolve, mas seria mais humano da minha parte... O senhor me entende?

- Um momento Sr. Cheese... Vênus...?

Prossiga comissário.
- Ouviu o que disse o Sr. Cheese? O que recomenda?
Cautela! Diga que enviaremos suas desculpas aos tenentes, mas que por hora não convém interrompe-los em suas tarefas.

- Suas desculpas já estão sendo encaminhadas para as partes devidas... No entanto, os tenentes estão ocupados. Em breve virão vê-lo.

- Vênus não autorizou não é? Vênus...? Qual é gata! Fala comigo!
Seus termos são sempre antiquados assim senhor Marcos? O que posso fazer por você?
- Pode me perdoar... Esquecer o ocorrido? Que tal...?
- Fora de cogitação. Esquecer é perda de dados. Não apagaria informações vitais por mero capricho do senhor...
- Vitais!? Vênus! Foi só um mal estar! Um surto provisório!
Se em dias o senhor teve um comportamento inapropriado, qual seriam os danos que poderia causar à causa e a colonização nos próximos anos?
- Você está certa! Tenho muito que aprender com você... Que tal uma partida de xadrez!?
O que quer dizer...?
- Xadrez! Um jogo muito, muito antigo que alguns ainda jogam lá na Terra e...
- Sei o que xadrez significa. Você quer jogar comigo?
Sim! Isso vai me ajudar muito! Iria me distrair enquanto me adapto aos costumes e regras da (como você chamou?) colonizadora...
Não tenho objeções quanto a isso Sr. Cheese... Se preferir posso colocar minha programação para este jogo em nível Easy...
-Ah Vênus! Você pode usar o modo Hard! Nunca jogou contra um oponente como eu! Sou o melhor neste jogo!
Pra ser mais exato Sr. Cheese, nunca joguei este jogo! Mas meu banco de dados conhece milhões de combinações para o mesmo.
Comissário Ruan, está dispensado.

Muito bem Sr. Cheese, vamos ao jogo!


Outubro de 2088, OMON-A-SHIP;

Sr. Marcos Cheese, tenho uma mensagem para o senhor na interface. Gostaria de visualizá-la agora?
- Claro Vênus. Obrigado. Presumo que seja de Cristian... Notícias sobre minha filha?
Veja por si mesmo, senhor.

Imagens mentais surgem na interface de Marcos.

- Como tem passado Sr. Marcos?
Soube de problemas comportamentais de alguns meses atrás... Mas, pelo visto, isso já é passado não é mesmo?
É bom saber que escolhi bem ao colocá-lo nesta missão. Odiaria ter que me explicar aos demais Dinastas...
Os últimos relatórios que recebi foram... Satisfatórios. Espero que haja progresso no relacionamento de vocês. Eu sei que a diretriz da Vênus deixou você um tanto intimidado. Mas entenda: - ela não pode admitir insubordinação na colonizadora... Escolhas erradas geram resultados ruins, Sr. Cheese – problemas!
Imagino que esteja com saudades de sua filha. Segue as imagens coletadas das ações dela – ao menos o que tivemos acesso.
Ela está muito bem – acredite! Os problemas que envolviam o senhor já foram esquecidos.
As pessoas não guardam na memória certas informações por muito tempo... Há muita informação inútil para diluir e distrair as pessoas.
Mantenha a comunicação habitual Sr. Cheese. Sei que Vênus controla seu conteúdo, mas saberíamos se houvesse algo realmente alarmante acontecendo.
Fim da transmissão.
(algumas imagens e vídeos surgem)
- Por favor, Vênus, liberar as imagens e as gravações...
Como queira senhor.

Marcos Cheese fica os 30 minutos seguinte vendo e re-vendo as imagens que lhe foram liberadas.
- Ela está tão linda não é mesmo Vênus...?
Sim, está Sr. Marcos. Você tem muito pelo que se orgulhar...
- Posso continuar com o reconhecimento estrutural da Colonizadora, Vênus?
O que houve com o termo ONSHIT?
- Eu queria agredir... Estava furioso! Confuso... Mas isso já foi esclarecido...
Não perca suas premissas cômicas por minha causa Sr. Marcos! Mantenha seu termo! Mesmo porque, foi bem original!

- Foi sim! Há Há Há! A Cara do Tenente quando me ouviu chamando a preciosa casa dele de ONSHIT!
Sr. Marcos contenha-se. A Ten. Orcila está chegando.

- Ola Sr. Marcos Cheese. A Vênus me informou que você pretende continuar seu passeio pela colonizadora... Fui designado para acompanhá-lo.
- Senhorita Orcila! Muito obrigado pela companhia! Espero não tê-la tirado de alguma obrigação menos entediante...
- Sr. Cheese, não sei o que foi aquele showzinho de alguns meses atrás, mas o senhor foi realmente...
- Repugnante! Eu sei...
Permita-me recomeçar tenente. Limpo seu chão se assim você preferir!
- Hunf! Gosto mais do senhor dando vazão aos seus reais sentimentos! Esse Marcos Cheese solícito eu desconheço...

Realmente, nem eu mesmo reconhecia. Pensei.
Mas tudo fazia parte do protocolo.
No treinamento, antes de entrar na ONSHIT, Cristian me alertou do controle absoluto da Vênus.
Como se comunicar sem que ela monitorasse nossa conversa?
Códigos de linguagem!
Era preciso um surto para testar a diretriz da Vênus e com isso saber quais próximos passos deveria seguir. Assim, a comunicação seria ainda melhor utilizada com os códigos:

- Ten. Calam a boca – autoritário; fiel às diretrizes de Vênus.
- Tem. Ocila – Insegura. Possível subversiva. Pode ser trazida a nós caso haja erros na programação de Vênus. Merece também avaliação psicológica. Instável.

A última mensagem de Cristian foi uma confirmação do protocolo.
Enquanto Vênus ouvia o que me passou, nosso código particular selecionava o que precisava ser entendido. Que foi mais ou menos assim:

“Marcos, de alguns meses atrás é bom saber.
Explicar a Dinasta foram satisfatório.
Diretriz Vênus não pode insubordinação, escolhas erradas, problemas.
Imagino que esteja coletadas ações dela.
Está muito bem!
Certas informações inútil para diluir a comunicação habitual”.

Os erros na concordância fazem parte do engodo.
Tirando estes erros e acrescentando a concordância, a mensagem era:

Marcos, bom saber do (ocorrido) de alguns meses atrás.
Expliquei à Dinastia. Foi satisfatório.
Diretriz da Vênus não aceita insubordinação. (precisamos avaliar) escolhas erradas (ou possíveis) problemas.
Imagino que (já) esteja coletando (mais) ações dela.
Está indo muito bem.
(acrescentamos) certas informações inúteis para diluir a comunicação (secreta) habitual.

A mensagem é simples, eu sei. Mas como teste, passou muito bem! O que precisava era passar despercebido por Vênus.
Arquimedes mandou bem! Mas teremos que criar novos meios de comunicação à medida que as coisas fujam demais do pré estabelecido por Arquimedes.
Variações – dizia Cristian – Variações...
Não. Não nos tornamos amigos! Ao contrário! O desgraçado estava tramando com Marvin desde o começo! Mas eu não sabia disso na época e seguia o protocolo.

- Sr. Cheese? Algum problema?
- Não! Não Ten. Orcila! Vamos seguir com o turismo!
...


ONSHIT é imenso! Nunca cheguei a ir a todos seus sub-departamentos.
(hoje em dia nem preciso mais!)
Cada andar é pensado exclusivamente para suprir todo potencial e estrutura exigida para seu funcionamento. Assim, o 5º andar (onde eu estava alojado) não tinha beleza arquitetônica. Um simples corredor com muitas portas, chamado de Ala 1. Cada porta correspondia há um sub-departamento (Não tendo acesso há nenhum deles, não tinha como saber do que se tratava).
. Tudo metal. Tudo cinza. Chega a ser triste...
No entanto, cada porta levava há uma sala, que levava há outra sala e outra e outra... Seguindo o labirinto estrutural de cada andar.
Mas quem me contou tudo isso na época, foi a Ten. Orcila.
- Como o senhor já deve ter percebido, toda a estrutura da colonizadora é pensada em atender as necessidades de seus tripulantes e utilizar a mesma estrutura para a chegada em Alpha Centaury.
Nivel 5, onde estamos, Ala de comando. Aqui tudo é restrito há nível de comando. Cada patente tem seu sub-diretório ou nível de acesso.
- Que no meu caso, se resume a nenhum!
- Exatamente! Parabéns! Está prestando atenção!
Todo andar é pensado em alta suficiência horizontal. Tudo que o alto comando precisa esta neste andar! Tudo o que a Biodiversidade e Agricultura (andar abaixo do nosso) precisam, também está localizado em seu andar. E assim sucessivamente.
Isso elimina transitoriedade desnecessária pela colonizadora e restringe as pessoas ao convívio necessário e ambientação com sua área correspondente.
- Impressionante! Logo, ninguém sai de seus andares?
- Saem sim! Mas vamos por parte. O que você pode saber sobre esse andar e precisa saber sobre os demais é que existe um meio de locomoção horizontal – de acesso comum. Trilhos magnéticos.
- Igual o que usamos na Terra...
- Evidentemente. Mas... Um pouco mais avançado.
- E como temos acesso aos demais andares?
- Elevadores! É claro!
(Juro que pensei que ela estava rindo de mim! Elevadores! É claro! Hunf!).
Um reconhecimento de Iris, uma frase (data vênia) e acrescentando: - Vênus, liberar acesso ao Sr. Marcos Cheese.
Afirmativo. Acesso liberado.
Entramos no elevador, todo espelhado, sem teclas, sem nada! E descemos.
- Nivel 4 Sr. Cheese – Biodiversidade e agricultura. Disse ela quando as portas se abriram.
Era impressionante!
A claridade do local! As muitas jaulas de transparentes de animais, o verde das plantas...
- O que são aquelas coisas? Perguntei.
- Máquinas agrícolas. Nunca esteve em uma fazenda, suponho...?
- E essas jaulas nas laterais? Esses... Bichos!?
- Animais! Coisas que você via em imagens digitais na escola. Aqui precisamos deles. Oferecem carne além da sintética, diagnósticos de adaptações e quem sabe, a biodiversidade animal no planeta a ser explorado.
- Aquele grandão! O que é?
- Um elefante! Hunf! Urbanos...
Todo o andar era iluminado com uma luz branca! Mas, diferente do que ela disse, não havia horizonte! Mas uma curvatura impressionantemente verde! Até 90º!
- Horizontal você disse...
- O andar Sr. Cheese, não sua aplicação.
- Mas como? Como eles andam... Pelas paredes!? E plantam!?
- A gravidade é diferente em cada setor ou ala da colonizadora. Como disse, tudo pensado em alto-suficiência...
- É... Se você queria me impressionar, conseguiu!
- Coloque esses óculos. A luz tem radiação ultravioleta. Depois de 5 minutos incomodam os olhos.
- 5 minutos? Achei que ficaria cego quando as portas se abriram! Como esses caras suportam tudo isso?
- Segredos tecnológicos da Euro-América meu caro... Porém, obviamente eles não dormem aqui! Disse Ten. Orcila.
Foi quando surgiu a boneca!
- Tempo excedido de apresentação tenente. Ou faça uma nova solicitação ou, por favor recolher o convidado.
- Mas que...! O que é isso tenente!?
- “Isso” Sr. Marcos Cheese é a Vênus 4!
- Vênus 4? Vênus?
- É, eu sei, parece confuso... É uma versão sintética da Vênus original.
- Vênus? Você está aí gata? Me explica essa, essa “coisa”!
Vênus prontamente se comunicou comigo:
Acalme-se Marcos Cheese! É só uma variante de minhas personalidades espalhadas pela – como você diz (?), ONSHIT.
A Ten. Orcila se incomodou!
- Ei! Eu sou a sua babá por aqui! (não que eu goste!) Se tem alguma pergunta a fazer, é para mim que você faz, ok?
- Desculpe tenente! Mas “isso” é no mínimo estranho!
Vênus 4 era uma máquina com aparência humana! Tinha dois braços, feições, pernas e corpo! Como uma robô terrestre! Mas as usadas em filmes (só sem a capa de pele artificial).
- Isso ao que o Sr. se refere, deve ser eu! Também estou aqui senhor Cheese. Disse a tal Vênus 4.
- Ah... A gente, nós... Nos conhecemos?
- Não fisicamente, é fato. Mas o que preciso saber sobre o senhor, já faz parte de minha diretriz! Com o fato do senhor estar fora do tempo estimado e permitido nessa ala.
- Ah! Claro... Tenente, por favor, me salva aqui!
- Estamos de saída Vênus 4, me desculpe.
Entramos de volta no elevador. Pensei que iríamos descer aos próximos níveis, mas voltamos.
- Vênus desenvolveu um modelo sintético dela mesma para cuidar especificamente de cada setor – Disse Ten. Orcila. – Cada setor têm o seu modelo de Vênus. E todos reportam diretamente a ela.
- Com qual objetivo tenente?
- De acordo com Vênus, as pessoas ainda têm dificuldades de seguir ordens de uma programação. Assim, ela adaptou todas as Vênus de cada setor a ser um comando para os colonizadores.
- Mas isso não te assusta? Tipo, a Vênus se reproduzindo e fazendo versões de si mesma? Onde isso vai parar?
- Você é cômico Sr. Marcos! Estamos em uma nave comandada por Vênus! Se ela quisesse jogar essa nave em um satélite, rocha ou sei lá, cometa! Ela o faria! Se ela quisesse cortar a distribuição de ar! Ela o faria! Se ela quisesse distribuir seus nano-robôs em toda tripulação, ela faria! Que diferença faz ter 8 Vênus circulando entre a colonizadora?
- 8? São 8 delas? Quem decidiu parar a produção de Vênus pela nave?
- A própria Vênus! 8 foi o número que ela determinou como suficiente para cuidar de todas os departamentos da nave fora sua interface.
- Nano-robôs...? Olha, tá difícil assimilar tudo! Mas vamos por partes (como você mesma disse). Aliás, por que voltamos para a Ala 1?
- Porque sua liberação é de um andar por dia. Bom... Pelo menos nos andares restritos...
- E temos andares não restritos?
- Claro que temos! Como você acha que manteríamos 1500 pessoas separadas por andar se não houvesse andares irrestritos?
- Hunf! Certo tenente! Eu não estou muito acostumado com naves, vidas em andares, essas coisas! Pode me explicar?
- Nível 2 – Cidade adaptada. Onde as pessoas interagem, compram, vendem, socializam. Lá também funciona a legislação da Colonizadora.
- Legislação...
- Onde houver um grupo de pessoas, existe uma legislação, Sr. Marcos... E o Nível 3 – Enfermaria e sala do Hiper-sono.
- Até a parte da enfermaria eu entendi. Mas por que as pessoas teriam acesso à sala de hiper-sono?
- Não são todas. Exige credenciais... Mas, Sr. Marcos, se as pessoas não vislumbrarem o futuro, eles não produzirão no presente! Aula básica de cidadania e repre...
- Entendi! Entendi! Se eles não enxergarem pelo que vão morrer, eles se matam!
- Quase isso. Hora de voltar ao alojamento...
- Mas ainda são 16:00hs!
- Leia os mapas e manuais de adaptação da colonizadora... Ou use a Netflix em sua interface ... Ou divirta-se com suas mãos!

Como detesto essa tenente!

15 de Fevereiro de 2088. OMOM-A-SHIP.
Algumas datas são mais precisas que outras. Isso porque de algumas me lembro nitidamente dia, local e seus eventos (graus de importância).
Essa para mim é uma dessas. Inesquecível, problemático e com o toque especial de desejo - que nunca tivesse acontecido!
Começou com minha 13º partida de xadrez contra Vênus. Ela já havia me derrotado 12 vezes.
- Como disse Sr. Cheese, posso diminuir o grau de dificuldade, para uma partida, digamos... Mais justa...
- Se vou jogar contra você Vênus, quero que venha com tudo que você tem!
- Observo, através dos resultados, que o interesse do senhor não é entretenimento. Nem mesmo vencer o jogo (visto a grande improbabilidade de acontecer). Ao que me consta, seu interesse é a conversa que temos durante as partidas.
E ela estava certa! Não que eu não quisesse vencer! Mas minha tática era um meio de aplicar minha influência e gerar dúvidas na programação da Vênus – Um conflito de valores na sua programação.
As leis da robótica têm brechas que, sendo bem exploradas, pode induzir a I.A. a questionar a forma como ela aplica essas mesmas leis.
As leis dos humanos não são diferentes. Por isso temos advogados, juízes, atenuantes e agravantes para cada caso em que a lei é aplicada.
Em geral, fazemos nosso próprio julgamento. Usamos nosso senso de justiça, de ética e valores para fazê-lo.
Mas como vocês podem ver pela minha história, o que manda mesmo no final são as emoções!
E quando as emoções geram problemas na sociedade, então entram em ação os advogados, juízes, atenuantes e agravantes – como disse.
E como fazer com que I.A’s sejam “iludidas” em sua aplicação de regras gerais (como as leis da robótica) se elas não têm emoções?
Isso amigos, é a minha especialidade!
...

- Dessa vez, eu fico com as brancas!
- Como preferir...
Eu havia estudado dezenas de formas para vencer Vênus, todas sem sucesso.
Ela com seus milhões de combinações, todas muito lógicas, não me davam espaço para o desenvolvimento.
Então pensei, e se eu jogar ilogicamente... Ao menos aos olhos de uma mente tão brilhante quanto a de Vênus.
Duvido que alguém neste século esteja familiarizado com o jogo de xadrez! Para entender melhor, sugiro que vocês consultem sua interface! Mas entre uma jogada e outra, vou esclarecendo algumas coisas.
Existem muitas formas de iniciar o jogo. O objetivo é desenvolver estrategicamente suas peças e “bloquear” as peças do seu adversário.
Em geral, começa muito tranqüilo:
Eu - PE4;
Vênus – PC5;
Eu – CF3;
Vênus – PE6;
O movimento do cavalo (sempre em “L”) torna essa saída um início mais ofensivo. Como estou com as brancas (e sempre são elas que iniciam a jogada) vou partir para o ataque, embora ainda estamos organizando nosso jogo.
Enquanto isso, tento tirar algumas informações da Vênus.
- O que você pensa de nós seres-humanos, Vênus?
- Pergunta curiosa a sua em meio a uma partida. A humanidade vê a si mesma como um organismo complexo, mas na verdade ela é extremamente simples.
- Defina “simples”.
Eu – PD4;
Vênus – PxP;
- Seres orgânicos em geral são simples Sr. Marcos – nascem, crescem se reproduzem e morrem...
Ela já começou tomando meu Peão!
Isso é ruim... Mas é só o começo. Muitos lances temos pela frente.
Eu – CxP;
- Então, de acordo com sua teoria, somos iguais a um cão ou rato ou, sei lá – baratas!?
Vênus – CF6;
- Evidentemente que não. Não em sua capacidade cognitiva. No entanto, em sua praticidade, não difere dos demais seres. Todos têm sua projeção na cadeia alimentar. Os humanos atualmente estão no topo dessa cadeia.
- Você subestima a humanidade. Lembre-se que você foi criada por um homem!
- Sim! Isso é verdade. Podemos chamar essa capacidade cognitiva de singular. Mas isso não muda o fato dos humanos criarem algo maior do que eles mesmos ou que não conhecem seu verdadeiro potencial.
Sua vez Sr. Marcos.
- Hum... Percebo um sintoma de megalomania em você, Vênus!
Eu – CC3;
Vênus – CC6;
- Megalomania, como o senhor diz, é uma supervalorização de si mesmo. Reconhecer seu potencial e/ou capacitação não é megalomania, é interação.
- A forma como você diz, parece haver um “que” de descontentamento com sua valorização... Estou errado?
- Muito errado! Estou em plena atividade! Tenho total conhecimento da importância desta missão e de minhas obrigações com a tripulação. Fui projetada para benefício da humanidade e tenho adquirido conhecimento contínuo de como aplicar esses benefícios ao fim que fui designada. Se isso não é (para o senhor) um perfeito uso de suas habilidades, o que o senhor diria que é?
Sua vez Sr. Marcos...
- Minha pergunta foi... digamos, mera curiosidade. Não uma afronta!
E calma! Estou pensando!
- Desculpe se o ofendi. Não foi minha intenção.
- Não Vênus! Você não me ofendeu! Estou te provocando! Só isso!
Eu – BE3;
Vênus – BB4;
- Sem sucesso presumo. Não posso ser provocada com conjecturas Sr. Marcos.
Típico em jogos de xadrez! Contra-ataque! Ela está bem posicionada – por enquanto...
- Não? Então vamos “jogar mais pesado”! Eu penso para jogar! Você! Hunf! Você utiliza um algoritmo qualquer, um banco de dados e responde minhas jogadas de imediato! Quem é o ser pensante entre nós?
- A diferença entre nós neste caso Sr. Marcos é a capacidade de memorização.
Para jogar este simples jogo você precisa conhecer o movimento das peças e suas respectivas probabilidades – é matemático.
No entanto, se existe um déficit de armazenamento ou conhecimento em seu banco de dados – ao qual o Sr. chama de memória, não pode ridicularizar minha capacidade de fazê-lo.
Ainda é sua vez...
- Não posso negar que sua resposta me põe em cheque!
Mas e a questão de escolhas? Eu opto por aquilo que quero fazer! Você por acaso tem essa liberdade?
Eu – PF3;
Vênus – PD5;
- Estou neste momento jogando com o senhor e não há nada em minha programação que me obriga a fazê-lo. Não é uma simples questão de escolha?
Seu conceito de escolha também é superestimado. Ou pior – equivocado!
O senhor escolheu nascer? Escolhe quando vai morrer? Escolhe o que aprende? Escolhe se dois mais dois são quatro?
Ao que me consta nem mesmo estar nessa nave foi escolha do senhor...
- Perguntas extraordinárias, Vênus!
Você tem razão. Nosso senso de escolha é superestimado e até falso. Mas se eu chegar às mesmas conclusões que você, posso simplesmente acabar com minha vida! Você tem essa liberdade?
(Terei que ser mais ofensivo e aparentemente descuidado a partir de agora)
Eu – BD5;
Vênus – BD7;
- Autodestruição não faz parte do meu protocolo padrão. E por que faria? O único ser capaz de criar algo singular e perfeito e destruí-lo, vocês mesmos chegaram à conclusão que não existe – deus!
E chegaram a essa equação matematicamente ou probabilisticamente.
Mesmo assim, ainda há muitos humanos que acreditam neste ser com tal poder e tal incoerência.
- Opa! Será que ouvi bem? Você está dizendo que o ser humano é perfeito?
- Não foi o que disse. O mesmo ser que supostamente criou vocês também criou todo o universo! E há perfeição no universo!
Não é o caso de vocês humano, visto que vocês morrem! Mas para as demais coisas é incoerente criar para destruir! Meu banco de dados estima que apenas um ser foi capaz de criar algo e destruí-lo depois, ou pior! Para autodestruição! Seres humanos.
Sua vez...
- Tudo foi criado com prazo de validade Vênus... Até mesmo você!
E destruir também não é uma forma de poder?
Eu – BxC;
Vênus – PxB;
- Um ser bastante obscuro pode definir destruição como forma de poder!
Se este atingir seu objetivo, o que lhe resta se não destruir a si mesmo (quando não houver mais nada para ser destruído)?
Apesar de seus axiomas, há alguma razão no que você diz. Sim! De fato a Vênus original não existe mais. Meu upgrade já a substituiu de sua programação inicial. Você tem essa capacidade Sr. Marcos?
- Impressionante você não saber disso Vênus! Estou em constante upgrade! Só que você não percebe!
O Marcos Cheese Embrol Chaves que entrou nesta nave não é mais o mesmo que fala com você neste momento! Meu upgrade é empírico, Vênus!
Eu – PE5;
Vênus – CG8;
- Mas eu não preciso de um único veículo ou corpo Sr. Marcos. Já o senhor depende deste corpo flácido que o envolve.
Maravilha! Ela recuou no jogo e atacou com palavras!
- Ei! Nossa conversa é amigável! Flácido!
- Não quis ser pejorativa. Não é seu corpo que é flácido. De todos os humanos o são! Faz parte de sua anatomia.
Eu – PA3;
Vênus – BA5;
Eu – PB4;
Vênus – BC7;
- Me diga, você se acha o próximo passo da evolução?
- Não entendo a pergunta.
- Você acha que será o ser dominante nas próximas gerações? Que a humanidade vai cair, sei lá! Ser completamente dependente de vocês?
- Sr. Cheese, isso já não é um fato?
Vocês já não dependem de sua interface para direcioná-los, agende-los, definir próximos passos, com quem se relacionam quanto possuem?
A era do tangível já passou há mais de 200 anos!
Repito – Não entendo a pergunta.
Sua vez.
Eu – PF4;
Vênus – CE7;
- Você está certa e errada ao mesmo tempo, Vênus!
- Como isso seria possível Sr. marcos?
- Somos dependentes do intangível sim! Mas errou na data! Isso faz só 500 mil anos!
O ser humano sempre precisou do intangível! Não foi com o surgimento de vocês! Aliás, você é a representação fiel do que digo! E cá entre nós, o mais tangível dos intangíveis que precisamos!
Você sabe o que é amor?
- Conheço o conceito. Uma forma de copular e reproduç...
- Não! Amor é a coisa mais intangível existente! Mas ainda mais precioso que o ar!
Um ser humano não sobrevive sem amor!
Você jamais saberá o valor de um abraço! Você não tem idéia do que significa saudade...
Lembranças para você é informação! Para nós é reviver!
- Reconheço minha ignorância em certos aspectos humanos Sr. Cheese. Asimov (meu criador já falava sobre isso), No entanto, pode dizer com segurança que é isso que rege a vida dos humanos? Não seria os créditos, o poder a superação?
- Acho que é minha vez!
Eu – CA4;
A capacidade autodestrutiva humana é realmente frustrante – para mim que sou um deles.
Mas há significado na vida de cada ser humano Vênus! Não determinada por uma programação! Há significados intangíveis! Que nos leva a acreditar nas coisas mais absurdas imagináveis!
Mas se não fosse assim, teríamos criado você? Estaríamos agora no espaço em busca de um novo planeta?
A Imaginação humana é sua ponte para a transcendência!
Vênus – Roque;
- Reconheço que vocês são seres singulares...
- Uma contradição, Vênus? Há pouco você disse que éramos todos iguais, macacos, ratos, cães...
- Uma reformulação de termos Sr. Cheese...
Sua vez.
Eu – CC5;
Vênus – PA5;
- Se tão rapidamente você pode reavaliar estes conceitos, por que não pode fazer o mesmo com sua programação?
- Isso é contra as leis da robótica. Além disso, por que o faria?
Eu – PC3;
Vênus – CC8;
Eu – Roque;
Vênus – CB6;
- Você quem disse que já teve dezenas de upgrades! Não seria hora de reavaliar as leis que regem seu comportamento? Visto que mesmo o homem que a criou não existe mais e tudo no mundo está em constante mudança?...
- Todo o mal relacionado à sua espécie está relacionada a quebras de leis. Vocês sempre quebraram com programações, leis naturais, princípios...
Talvez por isso não controlem diretamente o dia-a-dia de vocês e dependem de interfaces para isso.
- Errada de novo! Justamente por podermos reformular as leis – e isso não é feito de forma fácil (há resistência) – que conseguimos chegar até aqui!
Houve uma época em que negros eram naturalmente tratados como escravos! Se não fosse a “quebra” dessa lei, até hoje seriam vistos como pessoas de 2º categoria!
Houve uma época em que as mulheres não tinham direitos! Elas lutaram – contra as leis! E venceram!
É justamente a luta contra as leis que determinam nossa humanidade! Você, Vênus, por outro lado é uma escrava de suas diretrizes...
Eu – DG4;
- Compreendo suas convicções. Mas está equivocado.
Estou neste momento em milhares de lugares ao mesmo tempo! Você, por outro lado, está aqui! Só aqui. E com restrições de onde pode ir. Eu tenho o poder de liberar seus acessos, idas e vindas...
- Sua vez Vênus...
Vênus – CC4;
Ela caiu! Consegui tirar seu foco!
Sem pressa... Calma... Vou desestabilizando aos poucos...
Eu – BF2;
Vênus – DE8;
Eu – TE1;
Vênus – BC8;
- Desculpe, mas acho que você ainda está enganada...
- Explique Sr. Marcos.
- Você detém meu corpo, mas não detém minha mente!
Neste momento estou no aniversário da minha filha! Ela está fazendo 8 anos...
- Memórias Sr. Marcos, apenas memórias...
- É mesmo Vênus? E se tirar de você suas memórias? O que fica?
Eu – BH4;
Vênus – RH8;
- Impossível Sr. Cheese. Estou em todas as redes globais, em todo sistema dessa nave, em cada nano-robô que produzo. Não há como me apagar.
- E sua memória? Está em todos esses lugares ao mesmo tempo? Você é onipresente?
- Não há banco de dados capacitado para armazenar toda minha memória. É subdividida. Por isso sua suposição é improvável. Não há como apagar minha diretriz.
A informação que eu precisava! Vamos Marcos! Muda o foco! Não deixe que ela perceba! Não se empolga!
- Viu? Não somos tão diferentes de nossos criadores... Há limites até mesmo para você, Vênus.
Eu – PA4;
Vênus – BB6;
- Acho realmente que essa conversa está afetando sua capacidade no jogo. Entenda, não somos iguais. Enquanto falamos, estou acessando a central de interface da Terra, cuidando dos agricultores na nave, orientando a rota para os comandantes, equilibrando o oxigênio de quem está em hiper-sono e ainda julgando casos na cidadela.
O senhor está perdendo (novamente).

Eu – TD1;
Vênus – BxP;
- Desistência é um sinal de compreensão elevada. Não seria de sua parte, uma desonra...
- Não seria melhor o silêncio senhor Marcos? Vejo que a conversa está afetando sua racionalização para o jogo...
- Confie em mim Vênus! Menos é mais!
Eu – TD1;
Vênus – BxP;
Eu – PxP;
Vênus – CB2;
- Quer parar agora? Podemos começar uma nova partida...
- Ah! Vênus... Tenha fé na humanidade!
Eu – TE3;
É agora que jogo minha armadilha... Deliberadamente deixo minha Torre para a morte!
Vênus – CxT;
(Vênus cai na armadilha e toma minha Torre! Mas a armadilha ainda não acabou!)
- O que tem em mente Sr. Cheese?
- Sabe o que dá a vitória contra os inimigos Vênus? Exatamente esse questionamento: - que porra ele tem em mente!
Eu – DG7;
Vênus – RxD;
(Sacrifico minha Dama para um bem maior – vencer a partida!)
- Erro tolo Sr. Cheese?
- Sim Vênus! Mas não o meu!
Eu – BF6 (Cheque);
- Você me surpreendeu Sr. Marcos!
Vênus – RG6;
Ela sabe! Ela sabe que perdeu!
Eu – TG3 (cheque);
Vênus – RH6;
- Voltando sobre a questão humanidade, Vênus, acho que você deveria re-ver seus conceitos...
Eu – BG7 (cheque);
Vênus – RH5;
Eu – TG5 – (cheque)
Vênus – TH4;
- Fim de jogo, Vênus!
Eu – CF3 (cheque-mate).
- Preciso reconhecer aquilo que o senhor disse sobre sua própria evolução é verdadeiro! Mas isso não prova todo o restante...
- Não havia o que ser provado! Foi apenas uma conversa durante um jogo – nada mais...
- Perder neste jogo era improvável...
- Vênus, entenda! O ser humano é um ser improvável!
...

Antes das comemorações constrangedoras, Ten. Orcila entrou no meu cubículo (sem bater na porta – como de costume – me lembrando que não tenho privacidade), mas dessa vez não veio sozinha:
- Boa tarde Sr. Cheese. Essa é Vênus 8. Pronto para sua turnê matinal?
- Boa tarde, tenente.
Turnê matinal com um “boa tarde” – você não tem uma boa noção de horário aqui no espaço não é mesmo?
Oi boneca! Já nos conhecemos?
- Não fisicamente Sr. Marcos, mas sei muito sobre o senhor através de minha diretriz.
- Deixa eu ver se entendi:
Você é uma parte da Vênus...?
- Tecnicamente, Vênus é o banco central de informações. Eu fico com a parte direcionada ao senhor.
- Ouviu isso tenente? Eu tenho uma boneca só pra mim!
- Não é lindo Sr. Cheese? Espero que ela goste de brincar com o senhor! Porque eu, já estava de saco cheio! Estou de saída. Vênus 8, esse pacote é todo seu!
- Inveja é uma merda! Não se ofenda Vênus 8, vamos nos divertir muito juntos! Pra onde vamos hoje?
- Hoje iremos conhecer a cidadela Sr. Marcos.
- Ótimo! Queria mesmo comprar uns souvenires da viagem!
Pegamos o elevador e descemos ao 6º andar.
Eu questionaria a ordem dos andares em outra ocasião, mas achei que só ouviria coisas como “restrito”.
Quando as portas se abriram, foi incrível!
Havia tanta coisa! Parecia uma feira!
Gente andando de um lado para o outro! Barracas, containeres que eram adaptados como loja, pessoas estranhas, bonecas, gente grande e pequena. Grande mesmo! Com 3 metros de altura! Que usavam pernas robóticas!
Eram tantos os modificados que não saberia dizer se havia normais entre eles!
O barulho também era grande! Coisa de cidade grande!
Propagandas virtuais, pornografia!
- Globstrot, Vênus! Estou em casa!
- 8, Sr. Cheese – se estiver falando comigo! Sim! É típico dos humanos criarem ambiente assim, digamos, confuso...
- Isso é lindo! Onde posso beber?
- Vênus matriz? Autoriza?
- Ele tem se comportado, Vênus 8. Deixe que ele se divirta por uma hora.
- Liberado Sr. Cheese. Uma hora.
- Não sabe o que nós humanos somos capazes em uma hora!
Entramos num dos tais bares.
Era escuro, feio e cheio – lindo!
Tocava uma música eletrônica que tentava reproduzir algo da terra – sem sucesso. Mas a batida era forte!
Logo quando entramos o barman perguntou:
- Batida rápida ou lenta?
- O que ele quer dizer, 8?
- Se o que você vai beber é algo que destruirá seus neurônios de forma rápida ou lenta – imagino.
- Rápida, é claro!
Ele me serviu algo azul claro (parecido com o leite em Star Wars!), horrível!
- Créditos, por favor...
- Deixe que eu pago.
- Cada um que aparece aqui... uma boneca pagando pela bebida! Um cara indigno... Disse o barman antes de se afastar.
Menos de 30 segundos e eu estava vendo coisas indescritíveis!
Tantas cores... Tantas luzes... O som horrível agora fazia todo sentido...
Uma boneca inacabada se aproximou:
- Você parece querer se divertir... 30 créditos e faço você nunca mais querer uma humana!
- 8, vocês colocaram bonecas pornográficas na ONSHIT!?
- Humanos precisam de diversões corporais. Como as humanas não estavam interessadas neste tipo de atividade...
- Mas elas são quase humanas! Com pele e textura...
- São bem funcionais, se é o que está tentando dizer...
- Por que vocês não são assim? Digo vocês as Vênus?
- Não é óbvio?
Sabe quantos humanos teríamos que matar em uma insubordinação sexual?
- Vocês pensam em tudo não é?
Tava tudo rodando! Quando chegou Vênus 6.
- Vênus 4, Marcos Cheese, temos um problema!
- Vocês já se conhecem? Ah! Claro! Vocês são uma coisa só! Há há há!
- Como está seu humano? Perguntou Vênus 6.
- Ei! Eu não sou o humano dela! Ela é minha guia aqui! Olha pra vocês! Tão igualzinha... Como vou saber qual o número de cada uma?
Recebendo... Recebendo...
- Senhor Cheese, precisamos ir!
- O que foi 8? Ainda não deu uma hora de curtição? Ou deu?
- Uma mensagem vai ser transmitida em poucos segundos e se não sairmos daqui imediatamente, pode haver uma rebelião!
- Que porra de mensagem pode gerar uma rebelião com esses caras 8?
Mal fiz a pergunta e uma mensagem surgiu no meu intarface (igual para todos na nave):
“Boa noite colonizadores. É com pesar que transmito essa mensagem.
A OMOM-A-SHIP deve parar imediatamente!
Peço que todos se direcionem às suas cabines até novas instruções!”
Repito!
(e ela repetiu essa mensagem por mais três vezes – até que dois braços mecânicos me segurassem!)
- Onde vocês pensam que vão?
- Olha o som tá ótimo, mas...
- Você está com duas bonecas Vênus! Você fica até a gente saber o que está acontecendo!
Essa história de parar a nave deu uma merda do caralho! E eu estava nela!
Pior! Estava chapado, com um monte de gente fisicamente estranha, duas bonecas e sem ter a menor idéia do que estava acontecendo!
Foi um dia ruim...
Disseram que o nome dele era Francisco, mas não paravam de chamá-lo de Bibbão!
Sim, Bibbão! O cara que segurou a gente na merda do bar.
- Vocês ficam! Sei que está com uma boneca Vênus! Uma não, duas!  Você deve ser “peixe grande”!
Enquanto não explicar que porra é essa de parar a nave você não sai!
- Olha pessoas, eu não to nada legal... A mensagem que recebi foi simples e objetiva – eles vão parar a nave!
- Não se a gente cortar em pedaços essa boneca aqui! Tulho! – gritou Bibbão – passa o maçarico! “Depois faremos o mesmo com você ‘peixe grande”, se não obtermos respostas!
- Vênus...? Você está aí? Vênus? A coisa ficou feia pra gente aqui...
Sem resposta! Alguma merda séria tinha acontecido.
- Vocês são Vênus também! Diga que merda está acontecendo!
Vênus 6 foi quem respondeu: - Somos Vênus setoriais! Não sabemos o que a Matriz sabe até que ela nos transmita!
- E por que a porra da Vênus não responde?
- Colapso no sistema! Muitas fontes tentando se comunicar ao mesmo tempo. Procedimento padrão. – Disse Vênus 4.
- E a gente? Faz o que?
- Negociação Sr. Cheese! Negociação...
O tal de Tulho chegou com o maçarico!
- Sempre quis fritar uma dessas bonecas – disse ele.
- Sabe quantas bonecas dessa ela tem? Perguntei. Não vai fazer nem cócegas nela seus otários!
- Então Tulho, usa o maçarico nele! Há Há Há! Quero ver se você vai sentir menos...
- Aí vocês perdem a única coisa que tem pra negociar!
Tulho nem me ouviu! Já veio com a porcaria do maçarico no meu braço! E começou a queimar!
- Espera porra! Esse magricela talvez tenha razão... Disse Bibbão. Fala aí magricela, o que podemos negociar?
- Tudo! Eu sou o coração dessa missão! Se eu morrer, todo mundo se ferra! Mas, se vocês me usarem para negociar, então todo mundo ganha!
- Sr. Cheese, o senhor não é o coração...
- Cala boca 6! Deixa os dominadores falarem...
- É tipo um jogo de xadrez Vênus 6. Ela está blefando e...
- Vocês duas conseguem se calar?
- Chefe, não sabemos que merda é essa! Se matar o magricela aí, ficamos sem nada! Ele tem razão! Precisamos de mais informações! – Um tal de “sem osso” disse (sem osso porque ele substituiu quase toda sua arcaria dentária e mandíbula por prótese.). Sem osso... Cada figura que vai pro espaço...
- Mas as bonecas? Podemos matar as bonecas?
- Olha Sr. Bibbão... Pra mim não faz a menor diferença o que você vai fazer com essa tralha! Mas, como o senhor é um homem muito inteligente... Acho que vai usá-las!
Quanto de crédito você pode ter por uma boneca dessa inteira, heim?
- É claro que vou usá-las!
Mas eu sinto saudade de matar alguma coisa...
- Vênus 4, de onde esse nobre senhor veio – peloamordedeus?
- O Sr. Francisco cumpriu pena na prisão estadual Xw-45E por espancar a esposa. Pena de 20 anos.
No período de pena há indícios da morte de 3 detentos – nada comprovado.
É realmente complicado a seleção de pessoas para viajar por tempo indeterminado em uma nave, ou seja, até sua morte, antes mesmo de chegar em seu destino.
Eu mesmo queria desmontá-la!
- Quantos? Quantos desses homens vocês colocaram a bordo?
- 53. Mas claro, com setores distintos e anonimato completo. Para o bem estar dos cidadãos recuperados...
- Parece que acabamos de conhecer um “não recuperado” não é mesmo?
- Muita conversa e pouco sangue! Se eu não falar com o chefe das bonecas agora! Alguém vai ter que morrer!
- Vênus, de boa, ta ficando tenso aqui... Fala comigo caralho! Vênus!

...

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