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Contos da P.E. 94 (Polícia do Exército de 1994).

Um eletricista fora dos padrões.


Sim! Para aqueles que não sabem, fui participante das Forças Armadas do Brasil em 1994. Exército - para os simplistas - P.E. (Polícia do Exército) para os integrantes do mesmo contingente e os demais que admiram este período em nossas vidas.
Fui convidado a fazer uma postagem sobre aventuras, desventuras e/ou situações cômicas que vivemos no quartel.
Vamos lá:
Logo que chegamos no quartel, na 1º semana, estava sendo feito uma avaliação para distribuir os conscritos (ou seja, nós) para o batalhão ou função que mais seria útil no período de engajamento.
Na fila em questão, fiz amizade com um Cabo. Cb. Rinaldi. Por algum motivo ele "foi com minha cara"! (dizem que ele era meio afeminado, não sei!) E disse:
- O que você fazia antes de vir pra cá?
- Eu? Nada! Era estudante. Por que?
- Acho bom você descobrir uma profissão. Aqueles que não têm uma, fica designado a fazer ronda e guarda.
- E isso é ruim - perguntei.
- Se você não inventar uma profissão, vai descobrir!
- Olha... Meu padastro é eletricista e muitas vezes fui ajudá-lo nesse serviço...
- Pronto! Diga que você é ajudante de eletricista e você se livra do problema.
E foi o que eu fiz.
(Cb. Rinaldi a esquerda da foto)

Fui então, encaminhado para o PelCom (pelotão de Comunicações), onde realizaria um teste para ver se realmente eu era eletricista.
Chegando lá, vejo uma bancada e vários conscritos como eu trabalhando em uma calha de lâmpadas Florescentes.

Ten. Henrique (o superior responsável pelo PelCom) disse:
- Você! Pegue uma calha e coloque pra funcionar!
Como vocês devem imaginar, eu não tinha a menor ideia de como fazer isso!
Pedi licença, entrei no meio da galera que já estava trabalhando e puxei conversa:
- É cara... A gente se fudeu...
- Pois é... Disse alguém.
- E essa porcaria aqui? Coisa velha da porra!
- Outro respondeu! Vixe! Antigão! Faz tempo que eu não mecho com um desses.
Foi minha deixa!
- Eu também! Nem me lembro mais como liga essa porra!
O soldado Misiti disse:
- Ah! Não tem mistério. No reator tem as instruções de que fio liga com qual.
Pegou o reator e me mostrou.
Fui seguindo as orientações do Misiti e acompanhando os demais em suas montagens.
Não imagina a minha surpresa quando coloquei na tomada e aquela porra funcionou!
- Olha! Ligou! Ligou! Dizia empolgado.
Os demais olhavam pra minha cara sem entender o motivo da minha empolgação.
Demorou meses para meus colegas e líderes do pelotão descobrirem meu embuste. Mas aí já era tarde demais.

Esse primeiro episódio abriu precedentes para muitos outros.
Era comum eu sair desfilando pelas ruas do batalhão com uma chave de fenda, um alicate e alguns fios. Com isso andava pra todo lado, sem cobranças.
Quando um sargento ou cabo vinha me abordar perguntando onde estava indo ou que estava fazendo, eu só dizia:
- Estou em missão!
Olhava qual a patente de quem falava comigo e só dizia que a missão era para alguém de patente maior que a dele. Obviamente ele não iria questionar um superior.
- Então termine o que tem que fazer e volte para seu pelotão - dizia.
Ah! Quantas vezes fugia para comer no restaurante dos oficiais!
Se alguém me pegasse lá:
- Estou em missão!

Foi divertido e dando certo por um bom tempo.
Mas claro que não escreveria sobre isso se não houvesse um "mas".

Um belo dia, estou eu fazendo o que sempre gostava de fazer - nada! E um cabo me chama:
- Sd. Adomeit! Vamos para o alojamento de cabos agora!
- Não posso cabo. Estou em missão.
Não deu certo. Ele praticamente me pegou pelo braço e me levou até o alojamento deles.
- Precisamos que você puxe uma tomada desse quadro de força pra gente ligar o som.
Nessa altura do campeonato, eu não só era safo (termo usado no quartel para esperto) como também comecei a acreditar que era eletricista!
- Que absurdo cabo! Não se pode ligar nada direto num cabo de alimentação de energia! Isso pode dar um curto e...
- Mas já tem um fio ligado aí. É só ligar outro.
Olhei no quadro e realmente tinha um fio grosso de 6mm² enrolado no cabo principal de alimentação de força.
Eu não estava errado. Realmente isso não pode ser feito e o perigo é muito grande. Não maior que eu, é claro.
Então com ar de superioridade, fui dando bronca no cabo por ter deixado aquilo ter sido feito e por exigir que fizesse algo assim tão perigoso.
- Não senhor! Não vou fazer o que o senhor está me pedindo como também vou soltar esse fio que está aqui! Depois venho com outro eletricista e juntos faremos uma tomada adequada para o senhor.

Um detalhe:
O alojamento dos cabos era nos fundos do alojamento dos soldados, ao lado do banheiro.
Um banheiro gigante onde todo mundo tomava banho ao mesmo tempo, vários chuveiros e tal.

Justamente neste dia, eu não havia levado o alicate nas minhas andanças. Só chave de fenda, fios e fita isolante.
Uma chave de fenda que tinha uns 30 centímetros!
Pois com ela comecei a forçar o fio para desenrolar do cabo principal (não queria descer pra buscar alicate).
Deu merda!
A chave entrou com tudo! E a caixa do quadro de força era de metal. Ficou a chave entre o cabo e a chapa no fundo da caixa. Resultado: Um curto circuito da porra!
A chave foi derretendo e uma fumaça branca cheio de faíscas começou a sair do quadro de força!

Um monte de cara pelado correndo do banheiro!
Os cabos todos abandonaram o alojamento!
Ficou eu e a porra da chave de fenda derretendo!
Eu tentava puxar a chave mas ela não saia. Dei muita sorte de não ter sido eletrocutado.
Até que toda a energia da CCSv caiu.
Puxei a chave. Ela que tinha uns 30 centímetros agora tinha só 10 no máximo.
Uma puta fumaceira branca em todo o alojamento.

- Adomeit? Tá vivo? Que porra você fez aí soldado? Disse um dos cabos entre a fumaça.
- Foi... Foi um acidente cabo...
(Os soldados em formação logo depois do ocorrido)

Cap. Carvalho me chamou na sala dele.
Tô fudido - pensei. E tava!
- Olha Adomeit, se você queimou a máquina de sorvete, além de ter de pagá-la irá preso por 30 dias. Se não, só ficará detido por 30 dias. Boa sorte.
- Mas capitão! Foram eles que fizeram a gambiarra no quadro de força, não eu!

Com aquele bicudo maldito não havia negociação!
Por sorte, não queimou a máquina de sorvete. Fiquei 30 dias detido.
E por algum motivo, nunca mais nenhum cabo me chamou para fazer nenhum serviço de eletricista.
Fora a zueira dos meus companheiros: Olha lá o Adomeit! Mocorongo!

Espero que tenham gostado.
tem muito mais tragédias de onde veio essa!
Mas fica pra próxima.

Abraço.






6 comentários:

  1. Mano, tô chorando de rir! Muito bom, bela lembrança! Escreva mais sobre esse período. Abçrs

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  2. Vai ter mais com certeza! Valeu pelo apoio. Abraço.

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  3. Gostei bastante Herbert, que tragédia hein? Conte mais, para a gente se divertir.

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  4. Pode deixar que tem muitas histórias como esta Silvão! Abraço!

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  5. Nossa, chorei de rir! Essa foi demais!

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  6. Sd Godoy 1° Cia PE 199424 de fevereiro de 2020 às 13:58

    Muito legal essas estórias do EB... bons tempos!!!

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