Post Page Advertisement [Top]

Ficção; autorais; novos; destaques;

Um jogo leva a outro - Perguntas extraordinárias




Janeiro de 2089 – Base central da OMOM;

- Todos já receberam a transmissão da Colonizadora, Arquimedes?
Sim senhor.
Cristian faz uma pausa calculada - para permitir que todos visualizem as imagens e avaliem seu conteúdo...

- Como puderam assistir, o risco é real. Colocar um tripulante apto para “lidar” com o problema foi sim... conveniente...

- Me desculpe Cristian – interrompe Valéria – Mas o que vi ali foi um tripulante ensandecido! As opções de Vênus estão dentro da programação prevista...

- Uma encenação Senhora Valéria! Uma encenação! E com um propósito, evidentemente! E não se trata simplesmente da ação de Vênus, mas sim da linguagem! Mas já discutimos isso antes.
Vênus começou a mostrar traços de “preferências” não com base em lógicas, mas alguma interferência ainda não verificável.

- Ele está sugerindo que Vênus está adquirindo emoções Valéria! – intervém Willian Blonson, presidente Americano.

- Não foi isso que eu disse – intercepta Cristian - Eu chamei de interferência! Acredito que as atualizações de Vênus com a tecnologia da Terra tenham ampliado algum senso de valores ainda não explorado por nós e que sim, pode ser confundido com emoções... Por isso aposto no nosso homem lá em cima pra resolver esse problema.

- Achei que todos lá em cima eram nossos homens Sr. Cristian – Ironiza Xeng.

- Todos têm suas aptidões! Todos foram pré-selecionados com causas específicas! Todos passaram por avaliação pela própria Vênus! Exceto...

- O estranho Marcos Cheese... Esse homem é controlável? – Questiona Jack Desmond – eu sei você o treinou... Mas não vejo razão para apostar tanto assim nele...

- Já esclareci que não é uma aposta! Não jogamos dados com o universo! É uma medida cautelar! Caso a coisa saia do controle, temos alguém que pode trabalhar essa suposta interferência...

- E quanto tempo até Vênus descobrir sobre as mensagens trocadas entre vocês? Ela é uma I.A! O que há de mais lógico nos sistemas operacionais do planeta!

- Também já tratamos sobre isso! Enquanto ele viver, temos esse veículo indireto de comunicação. Mais dois ou três anos, até mesmo Marcos Cheese é dispensável... Já teremos todo mapeamento realizado por Vênus até Alpha Centauro. Assim, podemos não só enviar novas colonizadoras, como também corrigir futuros problemas com novos I.A.

- Imagino que você Cristian, jogando com nosso dinheiro, tenha novos planos caso ele seja descoberto – Diz Xeng.

- Sempre tenho muitas peças no jogo Sr. Xeng, o senhor já deveria saber disso.
Existe um comando de desfiguração da Vênus, caso seja necessário... Por isso temos patentes na nave.

- Quantas pessoas na nave conhecem esse procedimento? Pergunta Valéria.

- Duas. Uma delas o comissário Ruan. A outra está em hiper-sono. Só acordará daqui a 47 anos...
Todos falavam e gesticulavam ao mesmo tempo! O burburinho foi geral!

Blonson toma a palavra:
 - Um comissário!? Ta de sacanagem!

- Tinha que ser alguém que não levantaria suspeitas e que teria acesso ao computador central... Um tenente, um almirante ou alguém de alta patente  é alvo contínuo de Vênus! – Explica Cristian.

A confusão de vozes falando ao mesmo tempo continua!

- Ei! Acalmem-se, ok! Já disse que isso não será necessário! Como expliquei está tudo correndo conforme o planejado!

Jack Desmond se levanta!  
- Pessoal! Até aqui não temos porque duvidar das ações do Sr. Cristian e nem do seu lacaio Sr. Cheese...
Uma ação um tanto curiosa essa sua Cristian, devo acrescentar... Mas tem seu requinte...
Pra mim, os investimentos continuam...

- Ok. Você permanece no controle da missão Sr. Cristian – diz Valéria – Mesmo porque, não sabemos muito sobre as surpresas que o senhor reservou para o futuro da missão. Não até chegar a Alpha Centauro...
Também não queremos mais perdas como o ocorrido com Guerard. Isso desestabiliza o mercado.

- É sempre bom ver a confiança de vocês, meus amigos... Tenho que ir. Uma dinastia me chama.
...


Há uma alteração considerável em sua pressão Sr. Cristian... Devo recomendá-lo a um procedimento padrão de medicação para normalizar seus...

- Chega Arquimedes! Odeio essa gente e seus tentáculos de poder! Onde ele está?

Ele o aguarda, como recomendado, na sala particular do senhor...

- Vamos. Tenho muito que falar com esse cara!

Cristian sobe de elevador até sua sala reservada. Faz um reconhecimento facial e diz a frase de abertura: - QUO VADIS.
A porta se abre e dentro da sala está Marvin.

- Desculpe... Mas não pude deixar de rir ao assistir o alvoroço na sala de reuniões... Também me servi desse magnífico Chivas em seu bar! Raríssimo...!

- Esqueça as piadas Marvin...  O que há de tão importante pra você se arriscar a vir aqui?
- Temos um acordo não temos Cristian?

- Sim! Temos! Mas que porra você quer? E sai da minha mesa seu...

- Portus! Por favor, nos mostre em tela nosso acordo...
Sem problema Sr Marvin.

Cristian observa atônito a tela surgindo em sua parede!

- Mas que porra é essa!?... Como você invadiu meu farwall? Arquimedes?!

Lamento senhor... Não sei como Portus conseguiu o acesso... Um inibidor de sistema...
Cristian não prestava mais atenção em Arquimedes.

- Você tem seus truques Cristian... Eu tenho os meus!

O vídeo de uma conversa começa a passar na tela – Nela: Cristian e Marvin discutindo sobre a distribuição energética de Alpha Centauro e o portal!

- Como você pode ver, nosso acordo é registrado (como tudo neste mísero planeta!). Só vim até aqui para lembrá-lo que ele existe...

- Não... Você poderia fazer isso lá das profundezas do inferno de onde você vem, Marvin! Você tem alguma coisa pra me contar! Alguma coisa que não quer registros externos... Por isso essa demonstração de força! Diga? Que merda você tem aí que acha que me interessa?

Cristian se serve do mesmo whisk que Marvin estava bebendo.

- Astuto como sempre, Cristian! Sempre um passo à frente...
Fui eu quem te convenceu dessa porra de viagem! Eu quem disse a você: - não dá pra ganhar o suficiente no mesmo lugar! Isso geraria problemas na dinastia! Eu que apresentei o caminho – Alpha Centauro... Eu alertei sobre a superpopulação...

- Você também quem enganou a dinastia fazendo planos paralelos! Conheço a história! O que você quer?

- A placa Cristian! A porra da placa! É de origem terrestre! Esbraveja Marvin!

- A placa com o nome da putinha que você escondeu no fundo do mar!?

- Sim! A placa com o nome da garota, que você, não por acaso, mandou o pai para seu Tour espacial...

- Como terrestre? Você disse que o portal tem uma fonte de energia colossal!
Ainda está aberto esse portal? Teve progressos na investigação de origem?

- Ele ocila... Mas não é este o caso... O progresso obtido é o reconhecimento de origem terrestre.

- Como sabe que é humano? Você avaliou os componentes da placa?

- Não foi preciso... É por isso que estou aqui.
Somente nós teremos essa informação por enquanto... E Cristian, eu apago o Arquimedes se achar que você vai divulgar essa merda!

- O que é Marvin!? Chega de drama!

- Atrás da placa, tem um número de série... É da Voyager I !

- O que é Voyager I?

- Hunf! Você planejou uma viagem espacial e não pesquisou porra nenhuma do que foi feito antes?!
Voyager I é uma sonda espacial de 100 anos atrás! Feita para mapeamento interestelar.

- E o que, uma merda de sonda de 100 anos atrás tem a ver com seu portal?

- Não sei... Essa sonda se perdeu há meio século!
 Mas precisamos achá-la... Alias, acho que iremos achá-la inevitavelmente!

- O que quer dizer? Seja mais objetivo!

- Acredito que o portal transcende o espaço tempo!

Cristian silencia.
Andando de um lado para o outro, pondera:

- Isso não faz sentido... Não havia tecnologia nem emanação de tal energia há 100 anos...!

- Mas agora tem! E precisamos descobrir a fonte!

- Preciso alertar a colonizadora o mais rápido possível!

- Não a colonizadora! Seu homem lá dentro!

- O que? Como fazê-lo convencer à Vênus e o comando a pegar dados de uma sonda que nem se quer temos certeza que eles irão encontrar!?

- Isso, meu amigo, é problema seu!
Tenho que ir... O “inferno”, como você diz, me aguarda! Bom saber que você agora tem o seu!

- Arquimedes, providencie o transporte para a figura aqui em minha frente!
E, Arquimedes... Precisamos re-ver os planos de segurança...
Perfeitamente, senhor...


15 de Fevereiro de 2088. OMOM-A-SHIP.
Algumas datas são mais precisas que outras. Isso porque de algumas me lembro nitidamente dia, local e seus eventos (graus de importância).
Essa para mim é uma dessas. Inesquecível, problemático e com o toque especial de desejo - que nunca tivesse acontecido!
Começou com minha 13º partida de xadrez contra Vênus. Ela já havia me derrotado 12 vezes.
- Como disse Sr. Cheese, posso diminuir o grau de dificuldade, para uma partida, digamos... Mais justa...
- Se vou jogar contra você Vênus, quero que venha com tudo que você tem!
- Observo, através dos resultados, que o interesse do senhor não é entretenimento. Nem mesmo vencer o jogo (visto a grande improbabilidade de acontecer). Ao que me consta, seu interesse é a conversa que temos durante as partidas.
E ela estava certa! Não que eu não quisesse vencer! Mas minha tática era um meio de aplicar minha influência e gerar dúvidas na programação da Vênus – Um conflito de valores na sua programação.
As leis da robótica têm brechas que, sendo bem exploradas, pode induzir a I.A. a questionar a forma como ela aplica essas mesmas leis.
As leis dos humanos não são diferentes. Por isso temos advogados, juízes, atenuantes e agravantes para cada caso em que a lei é aplicada.
Em geral, fazemos nosso próprio julgamento. Usamos nosso senso de justiça, de ética e valores para fazê-lo.
Mas como vocês podem ver pela minha história, o que manda mesmo no final são as emoções!
E quando as emoções geram problemas na sociedade, então entram em ação os advogados, juízes, atenuantes e agravantes – como disse.
E como fazer com que I.A’s sejam “iludidas” em sua aplicação de regras gerais (como as leis da robótica) se elas não têm emoções?
Isso amigos, é a minha especialidade!
...

- Dessa vez, eu fico com as brancas!
- Como preferir...
Eu havia estudado dezenas de formas para vencer Vênus, todas sem sucesso.
Ela com seus milhões de combinações, todas muito lógicas, não me davam espaço para o desenvolvimento.
Então pensei, e se eu jogar ilogicamente... Ao menos aos olhos de uma mente tão brilhante quanto a de Vênus.
Duvido que alguém neste século esteja familiarizado com o jogo de xadrez! Para entender melhor, sugiro que vocês consultem sua interface! Mas entre uma jogada e outra, vou esclarecendo algumas coisas.
Existem muitas formas de iniciar o jogo. O objetivo é desenvolver estrategicamente suas peças e “bloquear” as peças do seu adversário.
Em geral, começa muito tranqüilo:
Eu - PE4;
Vênus – PC5;
Eu – CF3;
Vênus – PE6;
O movimento do cavalo (sempre em “L”) torna essa saída um início mais ofensivo. Como estou com as brancas (e sempre são elas que iniciam a jogada) vou partir para o ataque, embora ainda estamos organizando nosso jogo.
Enquanto isso, tento tirar algumas informações da Vênus.
- O que você pensa de nós seres-humanos, Vênus?
- Pergunta curiosa a sua em meio a uma partida. A humanidade vê a si mesma como um organismo complexo, mas na verdade ela é extremamente simples.
- Defina “simples”.
Eu – PD4;
Vênus – PxP;
- Seres orgânicos em geral são simples Sr. Marcos – nascem, crescem se reproduzem e morrem...
Ela já começou tomando meu Peão!
Isso é ruim... Mas é só o começo. Muitos lances temos pela frente.
Eu – CxP;
- Então, de acordo com sua teoria, somos iguais a um cão ou rato ou, sei lá – baratas!?
Vênus – CF6;
- Evidentemente que não. Não em sua capacidade cognitiva. No entanto, em sua praticidade, não difere dos demais seres. Todos têm sua projeção na cadeia alimentar. Os humanos atualmente estão no topo dessa cadeia.
- Você subestima a humanidade. Lembre-se que você foi criada por um homem!
- Sim! Isso é verdade. Podemos chamar essa capacidade cognitiva de singular. Mas isso não muda o fato dos humanos criarem algo maior do que eles mesmos ou que não conhecem seu verdadeiro potencial.
Sua vez Sr. Marcos.
- Hum... Percebo um sintoma de megalomania em você, Vênus!
Eu – CC3;
Vênus – CC6;
- Megalomania, como o senhor diz, é uma supervalorização de si mesmo. Reconhecer seu potencial e/ou capacitação não é megalomania, é interação.
- A forma como você diz, parece haver um “que” de descontentamento com sua valorização... Estou errado?
- Muito errado! Estou em plena atividade! Tenho total conhecimento da importância desta missão e de minhas obrigações com a tripulação. Fui projetada para benefício da humanidade e tenho adquirido conhecimento contínuo de como aplicar esses benefícios ao fim que fui designada. Se isso não é (para o senhor) um perfeito uso de suas habilidades, o que o senhor diria que é?
Sua vez Sr. Marcos...
- Minha pergunta foi... digamos, mera curiosidade. Não uma afronta!
E calma! Estou pensando!
- Desculpe se o ofendi. Não foi minha intenção.
- Não Vênus! Você não me ofendeu! Estou te provocando! Só isso!
Eu – BE3;
Vênus – BB4;
- Sem sucesso presumo. Não posso ser provocada com conjecturas Sr. Marcos.
Típico em jogos de xadrez! Contra-ataque! Ela está bem posicionada – por enquanto...
- Não? Então vamos “jogar mais pesado”! Eu penso para jogar! Você! Hunf! Você utiliza um algoritmo qualquer, um banco de dados e responde minhas jogadas de imediato! Quem é o ser pensante entre nós?
- A diferença entre nós neste caso Sr. Marcos é a capacidade de memorização.
Para jogar este simples jogo você precisa conhecer o movimento das peças e suas respectivas probabilidades – é matemático.
No entanto, se existe um déficit de armazenamento ou conhecimento em seu banco de dados – ao qual o Sr. chama de memória, não pode ridicularizar minha capacidade de fazê-lo.
Ainda é sua vez...
- Não posso negar que sua resposta me põe em cheque!
Mas e a questão de escolhas? Eu opto por aquilo que quero fazer! Você por acaso tem essa liberdade?
Eu – PF3;
Vênus – PD5;
- Estou neste momento jogando com o senhor e não há nada em minha programação que me obriga a fazê-lo. Não é uma simples questão de escolha?
Seu conceito de escolha também é superestimado. Ou pior – equivocado!
O senhor escolheu nascer? Escolhe quando vai morrer? Escolhe o que aprende? Escolhe se dois mais dois são quatro?
Ao que me consta nem mesmo estar nessa nave foi escolha do senhor...
- Perguntas extraordinárias, Vênus!
Você tem razão. Nosso senso de escolha é superestimado e até falso. Mas se eu chegar às mesmas conclusões que você, posso simplesmente acabar com minha vida! Você tem essa liberdade?
(Terei que ser mais ofensivo e aparentemente descuidado a partir de agora)
Eu – BD5;
Vênus – BD7;
- Autodestruição não faz parte do meu protocolo padrão. E por que faria? O único ser capaz de criar algo singular e perfeito e destruí-lo, vocês mesmos chegaram à conclusão que não existe – deus!
E chegaram a essa equação matematicamente ou probabilisticamente.
Mesmo assim, ainda há muitos humanos que acreditam neste ser com tal poder e tal incoerência.
- Opa! Será que ouvi bem? Você está dizendo que o ser humano é perfeito?
- Não foi o que disse. O mesmo ser que supostamente criou vocês também criou todo o universo! E há perfeição no universo!
Não é o caso de vocês humano, visto que vocês morrem! Mas para as demais coisas é incoerente criar para destruir! Meu banco de dados estima que apenas um ser foi capaz de criar algo e destruí-lo depois, ou pior! Para autodestruição! Seres humanos.
Sua vez...
- Tudo foi criado com prazo de validade Vênus... Até mesmo você!
E destruir também não é uma forma de poder?
Eu – BxC;
Vênus – PxB;
- Um ser bastante obscuro pode definir destruição como forma de poder!
Se este atingir seu objetivo, o que lhe resta se não destruir a si mesmo (quando não houver mais nada para ser destruído)?
Apesar de seus axiomas, há alguma razão no que você diz. Sim! De fato a Vênus original não existe mais. Meu upgrade já a substituiu de sua programação inicial. Você tem essa capacidade Sr. Marcos?
- Impressionante você não saber disso Vênus! Estou em constante upgrade! Só que você não percebe!
O Marcos Cheese Embrol Chaves que entrou nesta nave não é mais o mesmo que fala com você neste momento! Meu upgrade é empírico, Vênus!
Eu – PE5;
Vênus – CG8;
- Mas eu não preciso de um único veículo ou corpo Sr. Marcos. Já o senhor depende deste corpo flácido que o envolve.
Maravilha! Ela recuou no jogo e atacou com palavras!
- Ei! Nossa conversa é amigável! Flácido!
- Não quis ser pejorativa. Não é seu corpo que é flácido. De todos os humanos o são! Faz parte de sua anatomia.
Eu – PA3;
Vênus – BA5;
Eu – PB4;
Vênus – BC7;
- Me diga, você se acha o próximo passo da evolução?
- Não entendo a pergunta.
- Você acha que será o ser dominante nas próximas gerações? Que a humanidade vai cair, sei lá! Ser completamente dependente de vocês?
- Sr. Cheese, isso já não é um fato?
Vocês já não dependem de sua interface para direcioná-los, agende-los, definir próximos passos, com quem se relacionam quanto possuem?
A era do tangível já passou há mais de 200 anos!
Repito – Não entendo a pergunta.
Sua vez.
Eu – PF4;
Vênus – CE7;
- Você está certa e errada ao mesmo tempo, Vênus!
- Como isso seria possível Sr. marcos?
- Somos dependentes do intangível sim! Mas errou na data! Isso faz só 500 mil anos!
O ser humano sempre precisou do intangível! Não foi com o surgimento de vocês! Aliás, você é a representação fiel do que digo! E cá entre nós, o mais tangível dos intangíveis que precisamos!
Você sabe o que é amor?
- Conheço o conceito. Uma forma de copular e reproduç...
- Não! Amor é a coisa mais intangível existente! Mas ainda mais precioso que o ar!
Um ser humano não sobrevive sem amor!
Você jamais saberá o valor de um abraço! Você não tem idéia do que significa saudade...
Lembranças para você é informação! Para nós é reviver!
- Reconheço minha ignorância em certos aspectos humanos Sr. Cheese. Asimov (meu criador já falava sobre isso), No entanto, pode dizer com segurança que é isso que rege a vida dos humanos? Não seria os créditos, o poder a superação?
- Acho que é minha vez!
Eu – CA4;
A capacidade autodestrutiva humana é realmente frustrante – para mim que sou um deles.
Mas há significado na vida de cada ser humano Vênus! Não determinada por uma programação! Há significados intangíveis! Que nos leva a acreditar nas coisas mais absurdas imagináveis!
Mas se não fosse assim, teríamos criado você? Estaríamos agora no espaço em busca de um novo planeta?
A Imaginação humana é sua ponte para a transcendência!
Vênus – Roque;
- Reconheço que vocês são seres singulares...
- Uma contradição, Vênus? Há pouco você disse que éramos todos iguais, macacos, ratos, cães...
- Uma reformulação de termos Sr. Cheese...
Sua vez.
Eu – CC5;
Vênus – PA5;
- Se tão rapidamente você pode reavaliar estes conceitos, por que não pode fazer o mesmo com sua programação?
- Isso é contra as leis da robótica. Além disso, por que o faria?
Eu – PC3;
Vênus – CC8;
Eu – Roque;
Vênus – CB6;
- Você quem disse que já teve dezenas de upgrades! Não seria hora de reavaliar as leis que regem seu comportamento? Visto que mesmo o homem que a criou não existe mais e tudo no mundo está em constante mudança?...
- Todo o mal relacionado à sua espécie está relacionada a quebras de leis. Vocês sempre quebraram com programações, leis naturais, princípios...
Talvez por isso não controlem diretamente o dia-a-dia de vocês e dependem de interfaces para isso.
- Errada de novo! Justamente por podermos reformular as leis – e isso não é feito de forma fácil (há resistência) – que conseguimos chegar até aqui!
Houve uma época em que negros eram naturalmente tratados como escravos! Se não fosse a “quebra” dessa lei, até hoje seriam vistos como pessoas de 2º categoria!
Houve uma época em que as mulheres não tinham direitos! Elas lutaram – contra as leis! E venceram!
É justamente a luta contra as leis que determinam nossa humanidade! Você, Vênus, por outro lado é uma escrava de suas diretrizes...
Eu – DG4;
- Compreendo suas convicções. Mas está equivocado.
Estou neste momento em milhares de lugares ao mesmo tempo! Você, por outro lado, está aqui! Só aqui. E com restrições de onde pode ir. Eu tenho o poder de liberar seus acessos, idas e vindas...
- Sua vez Vênus...
Vênus – CC4;
Ela caiu! Consegui tirar seu foco!
Sem pressa... Calma... Vou desestabilizando aos poucos...
Eu – BF2;
Vênus – DE8;
Eu – TE1;
Vênus – BC8;
- Desculpe, mas acho que você ainda está enganada...
- Explique Sr. Marcos.
- Você detém meu corpo, mas não detém minha mente!
Neste momento estou no aniversário da minha filha! Ela está fazendo 8 anos...
- Memórias Sr. Marcos, apenas memórias...
- É mesmo Vênus? E se tirar de você suas memórias? O que fica?
Eu – BH4;
Vênus – RH8;
- Impossível Sr. Cheese. Estou em todas as redes globais, em todo sistema dessa nave, em cada nano-robô que produzo. Não há como me apagar.
- E sua memória? Está em todos esses lugares ao mesmo tempo? Você é onipresente?
- Não há banco de dados capacitado para armazenar toda minha memória. É subdividida. Por isso sua suposição é improvável. Não há como apagar minha diretriz.
A informação que eu precisava! Vamos Marcos! Muda o foco! Não deixe que ela perceba! Não se empolga!
- Viu? Não somos tão diferentes de nossos criadores... Há limites até mesmo para você, Vênus.
Eu – PA4;
Vênus – BB6;
- Acho realmente que essa conversa está afetando sua capacidade no jogo. Entenda, não somos iguais. Enquanto falamos, estou acessando a central de interface da Terra, cuidando dos agricultores na nave, orientando a rota para os comandantes, equilibrando o oxigênio de quem está em hiper-sono e ainda julgando casos na cidadela.
O senhor está perdendo (novamente).

Eu – TD1;
Vênus – BxP;
- Desistência é um sinal de compreensão elevada. Não seria de sua parte, uma desonra...
- Não seria melhor o silêncio senhor Marcos? Vejo que a conversa está afetando sua racionalização para o jogo...
- Confie em mim Vênus! Menos é mais!
Eu – TD1;
Vênus – BxP;
Eu – PxP;
Vênus – CB2;
- Quer parar agora? Podemos começar uma nova partida...
- Ah! Vênus... Tenha fé na humanidade!
Eu – TE3;
É agora que jogo minha armadilha... Deliberadamente deixo minha Torre para a morte!
Vênus – CxT;
(Vênus cai na armadilha e toma minha Torre! Mas a armadilha ainda não acabou!)
- O que tem em mente Sr. Cheese?
- Sabe o que dá a vitória contra os inimigos Vênus? Exatamente esse questionamento: - que porra ele tem em mente!
Eu – DG7;
Vênus – RxD;
(Sacrifico minha Dama para um bem maior – vencer a partida!)
- Erro tolo Sr. Cheese?
- Sim Vênus! Mas não o meu!
Eu – BF6 (Cheque);
- Você me surpreendeu Sr. Marcos!
Vênus – RG6;
Ela sabe! Ela sabe que perdeu!
Eu – TG3 (cheque);
Vênus – RH6;
- Voltando sobre a questão humanidade, Vênus, acho que você deveria re-ver seus conceitos...
Eu – BG7 (cheque);
Vênus – RH5;
Eu – TG5 – (cheque)
Vênus – TH4;
- Fim de jogo, Vênus!
Eu – CF3 (cheque-mate).
- Preciso reconhecer aquilo que o senhor disse sobre sua própria evolução é verdadeiro! Mas isso não prova todo o restante...
- Não havia o que ser provado! Foi apenas uma conversa durante um jogo – nada mais...
- Perder neste jogo era improvável...
- Vênus, entenda! O ser humano é um ser improvável!
...

Antes das comemorações constrangedoras, Ten. Orcila entrou no meu cubículo (sem bater na porta – como de costume – me lembrando que não tenho privacidade), mas dessa vez não veio sozinha:
- Boa tarde Sr. Cheese. Essa é Vênus 8. Pronto para sua turnê matinal?
- Boa tarde, tenente.
Turnê matinal com um “boa tarde” – você não tem uma boa noção de horário aqui no espaço não é mesmo?
Oi boneca! Já nos conhecemos?
- Não fisicamente Sr. Marcos, mas sei muito sobre o senhor através de minha diretriz.
- Deixa eu ver se entendi:
Você é uma parte da Vênus...?
- Tecnicamente, Vênus é o banco central de informações. Eu fico com a parte direcionada ao senhor.
- Ouviu isso tenente? Eu tenho uma boneca só pra mim!
- Não é lindo Sr. Cheese? Espero que ela goste de brincar com o senhor! Porque eu, já estava de saco cheio! Estou de saída. Vênus 8, esse pacote é todo seu!
- Inveja é uma merda! Não se ofenda Vênus 8, vamos nos divertir muito juntos! Pra onde vamos hoje?
- Hoje iremos conhecer a cidadela Sr. Marcos.
- Ótimo! Queria mesmo comprar uns souvenires da viagem!
Pegamos o elevador e descemos ao 6º andar.
Eu questionaria a ordem dos andares em outra ocasião, mas achei que só ouviria coisas como “restrito”.
Quando as portas se abriram, foi incrível!
Havia tanta coisa! Parecia uma feira!
Gente andando de um lado para o outro! Barracas, containeres que eram adaptados como loja, pessoas estranhas, bonecas, gente grande e pequena. Grande mesmo! Com 3 metros de altura! Que usavam pernas robóticas!
Eram tantos os modificados que não saberia dizer se havia normais entre eles!
O barulho também era grande! Coisa de cidade grande!
Propagandas virtuais, pornografia!
- Globstrot, Vênus! Estou em casa!
- 8, Sr. Cheese – se estiver falando comigo! Sim! É típico dos humanos criarem ambiente assim, digamos, confuso...
- Isso é lindo! Onde posso beber?
- Vênus matriz? Autoriza?
- Ele tem se comportado, Vênus 8. Deixe que ele se divirta por uma hora.
- Liberado Sr. Cheese. Uma hora.
- Não sabe o que nós humanos somos capazes em uma hora!
Entramos num dos tais bares.
Era escuro, feio e cheio – lindo!
Tocava uma música eletrônica que tentava reproduzir algo da terra – sem sucesso. Mas a batida era forte!
Logo quando entramos o barman perguntou:
- Batida rápida ou lenta?
- O que ele quer dizer, 8?
- Se o que você vai beber é algo que destruirá seus neurônios de forma rápida ou lenta – imagino.
- Rápida, é claro!
Ele me serviu algo azul claro (parecido com o leite em Star Wars!), horrível!
- Créditos, por favor...
- Deixe que eu pago.
- Cada um que aparece aqui... uma boneca pagando pela bebida! Um cara indigno... Disse o barman antes de se afastar.
Menos de 30 segundos e eu estava vendo coisas indescritíveis!
Tantas cores... Tantas luzes... O som horrível agora fazia todo sentido...
Uma boneca inacabada se aproximou:
- Você parece querer se divertir... 30 créditos e faço você nunca mais querer uma humana!
- 8, vocês colocaram bonecas pornográficas na ONSHIT!?
- Humanos precisam de diversões corporais. Como as humanas não estavam interessadas neste tipo de atividade...
- Mas elas são quase humanas! Com pele e textura...
- São bem funcionais, se é o que está tentando dizer...
- Por que vocês não são assim? Digo vocês as Vênus?
- Não é óbvio?
Sabe quantos humanos teríamos que matar em uma insubordinação sexual?
- Vocês pensam em tudo não é?
Tava tudo rodando! Quando chegou Vênus 6.
- Vênus 4, Marcos Cheese, temos um problema!
- Vocês já se conhecem? Ah! Claro! Vocês são uma coisa só! Há há há!
- Como está seu humano? Perguntou Vênus 6.
- Ei! Eu não sou o humano dela! Ela é minha guia aqui! Olha pra vocês! Tão igualzinha... Como vou saber qual o número de cada uma?
Recebendo... Recebendo...
- Senhor Cheese, precisamos ir!
- O que foi 8? Ainda não deu uma hora de curtição? Ou deu?
- Uma mensagem vai ser transmitida em poucos segundos e se não sairmos daqui imediatamente, pode haver uma rebelião!
- Que porra de mensagem pode gerar uma rebelião com esses caras 8?
Mal fiz a pergunta e uma mensagem surgiu no meu intarface (igual para todos na nave):
“Boa noite colonizadores. É com pesar que transmito essa mensagem.
A OMOM-A-SHIP deve parar imediatamente!
Peço que todos se direcionem às suas cabines até novas instruções!”
Repito!
(e ela repetiu essa mensagem por mais três vezes – até que dois braços mecânicos me segurassem!)
- Onde vocês pensam que vão?
- Olha o som tá ótimo, mas...
- Você está com duas bonecas Vênus! Você fica até a gente saber o que está acontecendo!
Essa história de parar a nave deu uma merda do caralho! E eu estava nela!
Pior! Estava chapado, com um monte de gente fisicamente estranha, duas bonecas e sem ter a menor idéia do que estava acontecendo!
Foi um dia ruim...
Disseram que o nome dele era Francisco, mas não paravam de chamá-lo de Bibbão!
Sim, Bibbão! O cara que segurou a gente na merda do bar.
- Vocês ficam! Sei que está com uma boneca Vênus! Uma não, duas!  Você deve ser “peixe grande”!
Enquanto não explicar que porra é essa de parar a nave você não sai!
- Olha pessoas, eu não to nada legal... A mensagem que recebi foi simples e objetiva – eles vão parar a nave!
- Não se a gente cortar em pedaços essa boneca aqui! Tulho! – gritou Bibbão – passa o maçarico! “Depois faremos o mesmo com você ‘peixe grande”, se não obtermos respostas!
- Vênus...? Você está aí? Vênus? A coisa ficou feia pra gente aqui...
Sem resposta! Alguma merda séria tinha acontecido.
- Vocês são Vênus também! Diga que merda está acontecendo!
Vênus 6 foi quem respondeu: - Somos Vênus setoriais! Não sabemos o que a Matriz sabe até que ela nos transmita!
- E por que a porra da Vênus não responde?
- Colapso no sistema! Muitas fontes tentando se comunicar ao mesmo tempo. Procedimento padrão. – Disse Vênus 4.
- E a gente? Faz o que?
- Negociação Sr. Cheese! Negociação...
O tal de Tulho chegou com o maçarico!
- Sempre quis fritar uma dessas bonecas – disse ele.
- Sabe quantas bonecas dessa ela tem? Perguntei. Não vai fazer nem cócegas nela seus otários!
- Então Tulho, usa o maçarico nele! Há Há Há! Quero ver se você vai sentir menos...
- Aí vocês perdem a única coisa que tem pra negociar!
Tulho nem me ouviu! Já veio com a porcaria do maçarico no meu braço! E começou a queimar!
- Espera porra! Esse magricela talvez tenha razão... Disse Bibbão. Fala aí magricela, o que podemos negociar?
- Tudo! Eu sou o coração dessa missão! Se eu morrer, todo mundo se ferra! Mas, se vocês me usarem para negociar, então todo mundo ganha!
- Sr. Cheese, o senhor não é o coração...
- Cala boca 6! Deixa os dominadores falarem...
- É tipo um jogo de xadrez Vênus 6. Ela está blefando e...
- Vocês duas conseguem se calar?
- Chefe, não sabemos que merda é essa! Se matar o magricela aí, ficamos sem nada! Ele tem razão! Precisamos de mais informações! – Um tal de “sem osso” disse (sem osso porque ele substituiu quase toda sua arcaria dentária e mandíbula por prótese.). Sem osso... Cada figura que vai pro espaço...
- Mas as bonecas? Podemos matar as bonecas?
- Olha Sr. Bibbão... Pra mim não faz a menor diferença o que você vai fazer com essa tralha! Mas, como o senhor é um homem muito inteligente... Acho que vai usá-las!
Quanto de crédito você pode ter por uma boneca dessa inteira, heim?
- É claro que vou usá-las!
Mas eu sinto saudade de matar alguma coisa...
- Vênus 4, de onde esse nobre senhor veio – peloamordedeus?
- O Sr. Francisco cumpriu pena na prisão estadual Xw-45E por espancar a esposa. Pena de 20 anos.
No período de pena há indícios da morte de 3 detentos – nada comprovado.
É realmente complicado a seleção de pessoas para viajar por tempo indeterminado em uma nave, ou seja, até sua morte, antes mesmo de chegar em seu destino.
Eu mesmo queria desmontá-la!
- Quantos? Quantos desses homens vocês colocaram a bordo?
- 53. Mas claro, com setores distintos e anonimato completo. Para o bem estar dos cidadãos recuperados...
- Parece que acabamos de conhecer um “não recuperado” não é mesmo?
- Muita conversa e pouco sangue! Se eu não falar com o chefe das bonecas agora! Alguém vai ter que morrer!
- Vênus, de boa, ta ficando tenso aqui... Fala comigo caralho! Vênus!
...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bottom Ad [Post Page]

Nossas Redes Sociais
| Designed by Colorlib