Dolores O' Riordan - 1971-2018

Estou estreando uma das minhas colunas semanais, cujo o assunto desta é música. Não faltam assuntos para iniciá-la: Grammy se aproximando, aposentadoria do Rush, aposentadoria de Sir Elton John...claro que retomarei esses assuntos em breve. Mas não deixaria de dedicar esse primeiro texto à notícia que mais me chocou no começo desse ano: a passagem de Dolores, vocalista do Cranberries. Mesmo que eu esteja atrasado, já que foi no dia 15, semana passada. A notícia tomou o mundo da Música de surpresa, já que a cantora continuava na ativa e com muitos planos para a carreira.



A primeira vez que ouvi falar em Cranberries foi no comecinho de 93, na Rolling Stone americana. Aliás, ouvi não, li já que apenas tinha lido o nome estranho numa tabela musical de College Radios. Como eu sempre adorei acompanhar as paradas musicais (Billboard 200 albums, Hot 100 singles), prestava atenção também nas paradas dos universitários americanos, que revelava bandas novas que os descolados estudantes ouviam antes dos grandes públicos. O nome do disco da banda também era complicado: Everybody Else is Doing it So Why Can't We? . Graças ao programa Lado B da MTV, pude descobrir que era uma banda irlandesa. Nessa época, eu era simplesmente fanático pela aquela outra banda irlandesa. Quando vi ,no mesmo programa, o vídeo  "Linger", fiquei impressionado: era um vídeo sombrio, a música era lindíssima, parecia que era cantada por um anjo. No começo de 94, pude ver no MTV No Ar, que mostrava os discos e singles mais vendidos dos EUA, "Linger" já estava no Top 10. A banda já estava estourada. O próximo single, "Dreams" era uma música melhor ainda! As guitarras pareciam o Echo and the Bunnymen. O vídeo era muito lindo e colorido. A banda tocou no Woodstock 94, continuação do lendário festival de 69. No final desse ano sairia o segundo disco, No Need to Argue. O primeiro single era "Zombie", cançao política sobre a Irlanda. A música era raivosa e combinava com o estilo dos anos 90. No vídeo Dolores estava belíssima de dourado. Alguns meses depois do lançamento do disco, as vendas do disco voltaram a disparar devido ao lançamento do single "Ode to my Family", uma emocionante balada. Belo video em preto e branco, com a banda nas rochas de uma praia, vestidos de terno e gravata. Fizeram uma grande turnê e o disco vendeu mais de 15 milhões de cópias. To the Faithful Departed, de 96 tinha o hit "Salvation", que tinha um vídeo psicodélico sobre drogas. A música tocava numa novela da Globo. "Free to Decide" e a muito emocionante"When You're Gone" eram os outros hits do disco. Bury the Hatchet , de 99 tinha "Promises", "Animal Instinct" e "Just my Imagination". Nessa turnê gravaram o DVD Live in Paris. Em 2001 foi a última vez que vi a banda na MTV: Dolores estava dando entrevista para Fabio Massari. A banda estava lançando o vídeo "Analyse".

 Fiquei chocado ao saber da morte da cantora, uma das minhas favoritas. A reação das pessoas próximas era ou "não conheço" (claro), ou "não gosto muito". Dedico então esse texto ao meu sobrinho Bruno que sempre adorou a banda como eu. "Todo mundo tem direito a gostar de uma viadagem. Essa é a minha", disse uma vez. Meus filhos também gostaram muito quando ouvi com eles há alguns anos atrás.

 As vendas da banda nas lojas de streaming subiram 900.000% na semana passada. Ou queriam saber quem era Dolores ou lembrar...eu não quis ouvir, não precisava. Jamais esquecerei Dolores.
    Dolores foi enterrada no dia 23. Os integrantes da banda interpretaram a canção "When You're Gone" e a mesma música tocou simultaneamente nas rádios irlandesas durante o sepultamento.
  Domingo agora tem o Grammy Awards. Espero que façam uma bela homenagem.

Francisco de Oliveira Junior