Elton John & Bernie Taupin - Capitão Fantástico e o Cowboy Marrom Sujo

Uma das mais importantes duplas de compositores da História da Música, ao lado de Lennon e McCartney, Morrissey e Marr, Ira e George Gershwin, entre outras.  Mas Elton John e Bernie Taupin são uma dupla diferente. Bernie é responsável pelas letras, enquanto Elton criava os arranjos e melodias. Muitas vezes estavam até em países diferentes enquanto colaboravam entre si. Portanto se você ficou emocionado com aquelas letras lindíssimas, agradeça ao Bernie. Se o que te conquistou foi aquele arranjo refinado, é graças ao Elton.

  

Uma obra tão vasta e valiosa é frequentemente homenageada. Em 1991 foi lançado o disco Two Rooms: Celebrating the Songs of Elton John and Bernie Taupin com versões de seus clássicos interpretados por The Who, Eric Clapton, Sting, Kate Bush, Phil Collins, George Michael, entre outros. A versão de Kate Bush para "Rocket Man" chegou a ser eleita a melhor cover de todos os tempos, por uma revista inglesa.

  Neste ano, Sir Elton John anunciou que se aposentaria dos palcos, mas que faria a última turnê de sua carreira, a Farewell Yellow Brick Road Tour que se estenderá até 2021.  No mês de abril foram lançadas mais duas homenagens, os álbuns Revamp e Restoration.  Revamp traz nomes do Pop (Lady Gaga, Miley Cyrus, P!nk,Ed Sheeran), Rock (Coldplay, Queens of the Stone Age, The Killers), R&B (Mary J. Blige, Sam Smith),  Rap (Logic, Q-Tip) e Folk (Mumford and Sons); enquanto Restoration reúne grandes nomes da Country Music como Willie Nelson, Dolly Parton, Rosanne Cash, entre muitos outros.

  O inglês é respeitadíssimo nos Estados Unidos, suas obras são sempre aclamadas. Quanto ao Brasil, tenho duas coisas a dizer: primeiro, todo mundo conhece Elton John, segundo: ninguém aqui conhece Elton John.  Ou conhecem metade dele, ou um terço.  Ele é lembrado pela fase mais cafona, dos anos 80; e pela fase mais romântica, na virada dos 80 pros 90. E, pior, pela sua relação com o Mundo Gay, extravagâncias, casamento, etc. Às vezes dá a impressão que ele é como o Michael Jackson, antes de sua morte: lembrado antes por bizarrices do que pela música. 



  Acredito que uma maneira que poderia diferenciar essas fases, se caso nos anos 70 fosse creditada a magnífica banda que o acompanhava (e acompanha hoje). Poderia ser algo como Paul McCartney and the Wings, Bruce Springsteen and the E Street Band, Tom Petty and the Heartbreakers...sua banda também é muito importante e merecia maior destaque.  Os principais membros são: Davey Johnstone (guitarras e vocais), Nigel Olsson (bateria e backing vocals), Ray Cooper (percussão), Bob Birch (baixo e backing vocals), Dee Murray (baixo e backing vocals), entre outros membros do passado e presente.

 Falarei sobre o início e a fase de Ouro do artista, que abrange os anos 70. Eu também era aquele cara que conhecia a fase dos 80 e 90. Dos anos 70, claro, aqueles mega hits, como "Goodbye Yellow Brick Road" e "Daniel", por exemplo.  Eu o considerava um dos grandes artistas do Pop, junto com Madonna e Michael Jackson. Hoje eu o considero um dos maiores artistas da História, junto com Beatles, Rolling Stones, David Bowie, Bruce Springsteen, The Who, Queen...antes ele era um artista top 2o, hoje é top 5. Portanto se quando você ouve falar de Sir Elton se lembra daquela sua tia, melhor também se lembrar daquele seu amigo descolado que gosta de Lynrd Skynerd, Queens of the Stone Age, Alice in Chains, Jeff Buckley, e etc. 

  Elton era desde muito novo, um músico talentosíssimo. Há alguns meses, li num livro da Kiss FM que , no final dos anos 60, ele foi recusado pelo King Crimson. Caramba, já pensou? Ele como tecladista da banda que definiu o Progressivo e até o Metal? Será que ele seria apenas um tímido músico virtuoso?  

  Elton e Bernie se conheceram através de anúncios no jornal musical NME, da Inglaterra, onde ambos procuravam alguém para uma parceria musical.  Em 1969, Elton lançava seu primeiro disco.



 Empty Sky  (1969)

 Todas as músicas com letras de Bernie. Era um som entre o Psicodélico e o Barroco. A música "Skyline Pingeon" aparecia aqui pela primeira vez, numa versão diferente. Ainda não seria da essa vez que Elton ganharia o mundo.

   Elton John (1970)

  Essa pode ser considerada a verdadeira estreia do mestre. "Your Song" ganhou o mundo e se tornaria uma das canções mais lindas de todos os tempos. Apesar dela, que é atemporal e não se prende a um gênero, o álbum está mais para R&B, Gospel e outros estilos norte-americanos. Seria um novo Ray Charles? "Border Song" é gospel, assim como "Take me to the Pilot", "Sixty Years On" é épica, "The Cage" tem um solo de metais e vocais Rock and Roll. O disco chegou ao quarto lugar nos EUA e ganhou disco de Ouro. Foi indicado ao Grammy de Album do Ano.

    Tumbleweed Connection (1970)

  Para mim, aqui começa a Era de Ouro! Álbum totalmente inspirado na cultura americana. Country e  Rock Sulista marcam o álbum. "Amoreena", que pode nos lembrar de Joe Cocker e Bleck Crowes, abre o clássico Um Dia de Cão, com Al Pacino. "My Father's Gun" toca inteira no filme Tudo Acontece em Elizabethtown, de Cameron Crowe. A exceção aqui é "Burn Down the Mission", um épico que lembra "A Day in the Life" dos Beatles. Mesmo sem nenhum single, o disco foi Ouro nos Estados Unidos e chegou ao quinto lugar.

   Madman Across the Water (1971)

  Disco épico. Aqui as músicas estão mais grandiosas. "Tiny Dancer" passou a ser considerada a música mais importante de Elton, após ser usada numa sequência antológica no já clássico Quase Famosos de Cameron Crowe. "Levon" é outra música grandiosa, Jon Bon Jovi quando a regravou para Two Rooms disse que era a música da vida dele. Faixa-título é uma das mais sombrias de Elton e, apesar de manter a orquestração das outras músicas, foi gravada uma versão com muitos solos de guitarra, cortesia de Mick Ronson.  "Indian Sunset" , épico sobre índios americanos, foi usada num dueto póstumo com o rapper Tupac Shakur. As músicas que não são grandiosas, são folk, como "Holliday Inn" ou "Razor Face" com bandolins, órgão, cítara...
   O disco chegou ao oitavo lugar nos EUA e vendeu mais de dois milhões de cópias. No Reino Unido chegou apenas ao n° 48.

  Honk Chateau (1972)

  Disco gravado na França. Algumas músicas parecem de um espetáculo teatral, como "Honky Cat", "Mellow" e "I Think I'm Going to Kill Myself" (que apesar do nome é bem alegre). "Mona Lisa and Mad Haters" é uma das baladas mais lindas já gravada e também aparece em Quase Famosos, e o The Killers a regravou em Revamp. "Hercules" é puro Rock n' Roll. O disco tem uma das canções mais emblemáticas de Elton, "Rocket Man", que tinha um tema semelhante à "Space Oddity" de David Bowie. Esse single chegou ao n° 2 no RU e n°6 nos EUA. O disco foi número 2 no Reino Unido e chegou em primeiro nos Estados Unidos.

  Don't Shoot me, I'm Only the Piano Player (1973)

  Aqui Elton já assume seu status de Estrela do Rock. "Daniel", abre o disco, uma balada Soft Rock com solo de sintetizador, se tornou um mega-hit. O que se segue depois é muito Rock  e Blues como "Elderberry Wine", "Screw You", "Blues for my Baby and Me".  "High Flying Bird" é uma balada para ser entoada em estádios. "Have a Mercy on the Criminal" , um blues grandioso que seria perfeito como tema de James Bond. Em "I'm Gonna be a Teenage Idol" o destaque são os metais. Com "Crocodile Rock", já era, Elton era o dono do mundo.  Nessa época, ele lançou uma versão definitiva de "Skyline Pigeon" (aquela de 69). A música se tornou seu maior sucesso no Brasil (ele sempre a toca aqui) e lá fora é uma ilustre desconhecida. Nos anos 90 ela entrou no CD, como bônus.

  Goodbye Yellow Brick Road (1973)

  Um álbum duplo. Um épico de 11 minutos abre o disco, dividido entre Rock Progressivo e Glam Rock,"Funeral for a Friend/Love Lies Bleeding". A segunda música, "Candle in the Wind" era uma homenagem à Marilyn Monroe. Foi um imenso sucesso em vários países mas não foi lançada como single nos EUA. Apena em 86 a versão ao vivo na Australia chegou ao 10° lugar lá. Em 97, com a letra alterada como homenagem à Princesa Diana, se tornou o single mais vendido de todos os tempos.  A terceira música é a sensacional "Bennie and the Jets", que foi lançada como single nos EUA (ao invés de "Candle...") e chegou ao primeiro lugar. Um verdadeiro show, de piano, de voz...uma música ao vivo "de mentira", assim como "Sargeant Peppers...". 
  O lado dois abre com outra canção emblemática, a faixa título, para muitos sua melhor música. Grande momento do Glam Rock. Ela aparece em grande estilo no filme Trapaça de David O. Russell e o Queens of the Stone Age a regravou para o Revamp. 
  O próprio Elton vê similarides desse disco com o The Beatles (Album Branco), um álbum duplo, que tem os mais variados estilos e soa muitas vezes atemporal.  Há Progressivo, Glam ("All the Girls Love Alice") , Country ("Roy Rogers", "Social Disease"), Rockabilly ("Your Sister Can't Twist") e até Reggae ("Jamaica Jerk-Off"). "This Song Has no Title", "The Ballad of Danny Bailey" são momentos épicos, "Dirty Little Girl" está a frente de seu tempo. "I've Seen That Movie Too" e "Sweet Painted Lady" são os momentos deprê do disco. "Saturday Night is Allright for Fighting" é uma porrada, puríssimo Rock n'Roll, já foi interpretada por Queen e The Who (Por que o Queens... não escolheu essa?)
  O disco vendeu 12 milhões de cópias e ficou no 91° na lista de 500 melhores álbums de todos os tempos da Rolling Stone.

   Caribou (1974)

   Um dos meus favoritos. O disco já começa com "The Bitch is Back", tremendo sucesso. "Pinky" é uma bela balada com sintetizador. "Grimsby" e "You're so Static" são Glam Rock. "Dixie Lilly" é puro Country, estilo aqueles de rodeio. 
   "Don't Let the Sun Go Down on Me" é uma canção  muito emocionante. Não só sua interpretação é tocante, assim como a letra e a performance da banda. Esse single chegou em segundo lugar nos EUA. Em 1991, na versão ao vivo de George Michael (com participação de Elton) chegou em primeiro lugar nos dois lados do Atlântico.
   O disco encerra com "Ticking", faixa de sete minutos. Pense naquelas longas faixas do Bob Dylan, só voz e violão. Pois é, aqui é só Elton e o piano. Linda interpretação. De arrepiar.
  Caribou foi indicado ao Grammy de Álbum do Ano e vendeu dois milhões nos EUA.

   Captain Fantastic and the Brown Dirt Cowboy (1975)

   Eis o meu grande favorito. Se o Goodbye Yellow Brick Road é o Álbum Branco, esse é o Abbey Road do Elton. Uma sequência matadora de dez músicas perfeitas. Um álbum conceitual, sobre a própria dupla: Elton é o Capitão Fantástico, Bernie é o Cowboy sujo.
   Quando o Herbert (do Geekmente), trabalhava num sebo do Centro de São Paulo (lá pra 92) ele dizia "O Captain é o mais foda". Não sei se porque era o mais procurado...ou pela enigmática capa. 
   A faixa título é um belíssimo  Country épico. "Tower of Babel" e "Bitter Fingers" são duas faixas de Rock Clássico. "Tell me When the Whistle Blows" é orquestrada e com muitas guitarras de Blues. "Someone Saved my Life Tonight" provavelmente ainda seja a minha música favorita de EJ (talvez passou a ser outra do mesmo disco). Um épico crescente, que a cada refrão vai adquirindo camadas, como uma batida pesada, até ser tomada por um clímax de sintetizadores. 
  O lado dois começa com "(Gotta Get a) Meal Ticket" , um Rock setentista. "Better Off Dead" é um belo momento, uma música Barroca, que cresce devido à bateria (essa e mais algumas do Goodbye...me lembram muito Coldplay). "Writing" é um Rock suave, com uma guitarra leve e teclados.
  Gran finale: duas canções emendadas, uma melhor que a outra; "We All Fall in Love Sometimes" (regravada pelo Coldplay ), uma das maiores canções de amor já escritas (palavras do próprio Elton) e "Curtains" , uma música Psicodélica e hipnótica, de arrepiar. Belíssimo final! 
  O mais curioso é que nesse mesmo período, Elton lançava como single um dos seus maiores sucessos, "Philadelphia Freedom" um R&B alegre, bem diferente do disco. 
   Captain Fantastic...foi indicado ao Grammy de Álbum do Ano e ocupou a 158º posição na lista dos 500 maiores disco da Rolling Stone. Vendeu três milhões de cópias nos EUA.

   Rock of the Westies (1975)

   Aqui está o puro Rock dos anos 70. A primeira música, "Medley (Yell Help/Wednesday Night/Ugly)" é , claro, um medley, acredito que a música mais maluca de Elton John, um Rock bluseiro que vai ficando acelerado e cada vez mais louco, com sintetizadores e backing vocals, algo meio Frank Zappa. "Island Girl" é uma música que ouvi quando tinha quatorze anos e demorou mais de dez anos para ouvi-la novamente. É o single do álbum e chegou ao número 1 nos EUA. Um pop amalucado, dá pra imaginar Elton John e Talking Heads juntos. 'Grow Some Funk of your Own" é Rock estilo Rolling Stones.  "I Fell Like a Bullet (In the Gun of Robert Ford)" é uma triste balada que cita a história de Jesse James e Robert Ford, do Velho Oeste Americano.
   "Street Kids" me lembra muito Eric Clapton. "Feed Me" é Soft Rock, bem característico dos 70."Planes" é uma balada acústica. O disco acaba entre Blues e Country , com "Billy Bones and the White Bird", algo que o Jack White deveria amar.
    Sexto primeiro lugar seguido, nos EUA.
    Sua clássica banda não participou desse disco.
    Em 76, época do disco, foi lançado o single "Don't Go Breaking My Heart", com KIki Dee, extremo sucesso e um dos pops mais adocicados da carreira do cantor, o que contrastava totalmente com o disco. Nos anos 90 a canção foi adcionada ao CD.

  Blue Moves (1976)

  O favorito de Elton. Outro álbum duplo, também com temas variados, mas esse acabou ficando mais deprê. "Tonight" é um épico romântico, com uma linda e longa introdução (me lembra "Mellon Collie..." dos Smashing Pumpkins). Foi regravada por George Michael, que tem um desempenho vocal ainda melhor. "Cage the Songbird" é uma bela homenagem à Edith Piaf. "Crazy Water" dá indícios da fase Pop que viria na década seguinte, enquanto "Sorry Seems to be the Hardest Word" dava indícios do cantor romântico que se tornaria. "Out of the Blue" é instrumental, um Prog Rock gostoso de ouvir. "Between Seventeen and Twenty" é puro Black Crowes, conduzida por orgão e percussão. "Wheres's the Shoorah" é Gospel, com orgão e coral de igreja. "Idol" é um Jazz ao modo antigo.
  Chegou em 3° lugar nos EUA e Reino Unido.

  A Single Man (1978)

 Primeiro disco sem Bernie Taupin como letrista. Em seu lugar, Gary Osborne fez dupla com Elton. O disco não foi tão marcante mas mesmo assim foi platina nos EUA, vendendo um milhão de cópias. A instrumental "Song for Guy" se tornou a música mais importante do disco, sedo interpretada em shows ao longo dos anos e incluída em coletâneas.

  Victim of Love (1979)

  Bola fora. Elton fez um disco de Disco Music, quando o gênero já estava entrando em decadência. Fracasso de crítica e público.

  Os anos 80 começaram para Elton com o disco 21 at 33 e o sucesso "Little Jeannie".  Continuaria lançando discos um atrás do outro, mas eles não seriam mais o destaque e sim os singles, muitos, de muito sucesso a cada ano. Bernie Taupin participaria apenas em algumas canções a cada álbum.

  Quem sabe um dia faço uma parte dois sobre sua carreira. Ou até uma terceira, sobre o renascimento e ótima fase que teve com Bernie, de 2001 pra cá. Mas tem muito "ouro" aqui para que vocês possam descobrir e conhecer melhor esses dois gênios da Música.

                                                Francisco de Oliveira Junior