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Como tudo começou...

Eu sei que o problema entre eu e minha filha, não significa merda nenhuma pra quem ler esse texto. Mas de fato, isso implica em tudo o que está acontecendo agora!
Vocês do futuro (ou quem sabe,do presente...), precisam saber como as coisas chegaram até vocês! Do contrário, vocês irão abraçar idéias dos Dinastas, das corporações e de qualquer um!
Criptografei esse diário, de forma que, qualquer pessoa que o acessar mande via up-memory para todos na nave e quem sabe para a Terra! A fim de que os merdas que me foderam saibam que eu consigo retribuir o favor! Ah...! Claro! E ajudar toda a humanidade.

 Toda merda começa assim: Com um leve mal-estar na barriga... Uma contração simples... Dependendo do local onde você está você pensa: Ah! Eu seguro essa merda!
Mas, cara! Existem merdas imprevisíveis e que não dá pra segurar!

1º Merda:

Eu era professor de nível médio em Tectrônica – mesmo assim chamado de Nível Básico do Expoente Primordial em Qualificação Métrica Quântica. Ou “Nibeprimeq”.
É... Também acho o nome ridículo! Por isso me auto-titulava: Quanticon!
Não pegou...
Mas eu tive alguns clientes!
Trabalhava para a Dinastia da Euramérica dando aula básica de Tectrônica, mas todo fim de semana eu me dedicava ao pseudônimo “Quanticon”!
Fiz minha oficina no porão de casa! Onde me dedicava a explorar a mente por trás da mente!
É... Eu sei... Sou velho e vocês não fazem ideia do que estou falando!
Eu pegava os androides de serviço, os abria e verificava cada componente! Cada micro sistema e avaliava as IA’s que eles possuíam (Inteligência Artificial).
Sem mexer nas leis da robótica, criava paralelos de comando, conceitos diversificados de ações, em fim, às vezes eu modificava a programação.
Quando eles deviam dizer: sim senhor, às suas ordens, conte comigo senhor, ou outra coisa do tipo, eu re-configurava com outras palavras:

- Seu velho arrogante!
- Vai se fuder!
- Porra de novo! Você não consegue fazer nem isso! Por favor me desliga!

A molecada adorava! Traziam os droids dos pais para eu re-configurar!
Os velhos ficavam putos!
Virei um professor bem quisto pela galera!
Mas claro, deu merda...
Os projetistas ficaram putos! Os proprietários também.

Um dia recebi em meu interface uma notificação:

- Senhor Marcos Cheese Imbrol Chaves – O senhor foi requisitado a comparecer no décimo quinto distrito, que fica à 3º quadra de sua casa, nº 324-A – na próxima: segunda-feira. Delito classe 1Beta 23/359.
Ausência será considerada re-incidência. Movendo bloqueio de dados imediatos, além de bloqueio de créditos e documentos.

Pensei: Porra! Por causa de uns droids velhos!?
Mas não foi!
Foi por causa de umas merdas que escrevi! Um monte de lixo!

Mas... pensando bem... Se incomodou tanto o governo, não era tão lixo assim...
...


Cheguei lá, sem me dizer uma palavra sobre meu delito, eles coletaram meu sangue, urina, pele, voz... (é, eu também estranhei... Voz? Pra que porra eles querem meu aaahhh, eeehh, iiihhh, tãããooo...), mas foi feito.
Um exame básico de retina, uma ultra cenografia [parece à porra de um hospital né? Mas a polícia de hoje é assim! Fazem um mapeamento geral da pessoa pra que fique impossível essa pessoa sumir dos registros.]
Na seqüência um interrogatório infindável, um monte de blá,blá,blá! Mais uma pilha de documentos que eu precisava assinar do tipo:
- Juro defender a pátria;
- Juro não causar danos ao patrimônio alheio;
- Juro servir meu país e/ou dinastia quando requisitado;
- Juro guardar os mandamentos sociais;
- Juro manter a ordem e bem estar dos meus concidadãos;
- Juro Blá,blá,blá...

Eu juro que disse:
- Fala logo onde eu ponho o dedo e registra tudo como jurado!
Mas nãããoo! Eles tinham que ler a porra toda antes de eu colocar o dedo!
Até que o Ten. “alguma coisa” Munhoz veio falar comigo [desculpe. Foi há cinco anos! Não lembro o nome dele... Sei que era Munhoz porque tive um gerente com nome Munhoz que era tão feio e gordo quanto ele!]

- Senhor Chaves... Posso chamá-lo de Senhor Chaves?
- Olha amigo, meu nome é enorme (coisa de mãe). Você pode me chamar de gralha azul se isso significar que eu posso ir pra casa!
- Seu humor é quase risível senhor Chaves, mas não acho que o senhor tenha motivos pra rir neste momento.
- Eu brinquei com uns códigos de procedimento, ok! Vocês não têm terroristas e estupradores para pegar não? Pago a merda da multa por conduta infeliz e digo tchau! Não é simples assim? Sou categoria “A” o senhor sabia?
- Infelizmente, senhor Chaves, não é assim tão simples...
- Marcos. Me chame de Marcos! E pode cortar o senhor e as outras formalidades...

Então ele cortou!

- Então, seu merda cujo nome é Marcos! Tenho péssimas noticias pra você!

- Ei! Ei...Calma aí! Só Marcos tava bom... Que história de péssimas notícias é essa? Pago a multa, vou pra casa e, sei lá! Viro uma pessoa mal vista pela sociedade? Lembra que falei de estupradores, ladrões, terroristas...

- Seu problema Marcos, é que você mexeu com empresas de grande valia para a sociedade. Você conseguiu quebrar um FarWall de décadas!

- Eu mereço um premio não uma punição!

- Continua piadista... O que você não sabe, é que está com um diagnóstico precário e por conta disso...

Interrompi! (claro!)

- Diagnóstico precário...? Não entendi. Isso é um distrito policial ou uma enfermaria?

- Você está morrendo, senhor Marcos! É procedimento policial fazer todos os check-up’s sobre o acusado antes de fazer uma prisão.

- Check-up’s? Prisão? Ei! Eu fiz uma merda, ok? Todo mundo faz merda! Porque estamos falando de prisão? Check-up’s... Me explica mais sobre esses check-up’s...

- Hunf! Cadê aquele sorriso, senhor Marcos...? O senhor tem câncer! Metástases por todo o corpo. O senhor fuma não é mesmo?

- E daí? As pílulas de progron e minha assistência médica cobrem essa merda.Uns, sei lá 1000 nana-robôs resolvem isso...

- Seria simples assim se o senhor não tivesse ficha na polícia... A partir de agora, o senhor é um delinquente! Nem seu plano de saúde nem a sociedade te aceita como um ser humano normal... Isso significa que você vai morrer!

- Porra! Em quem eu bati? Na APPLE?

- Você mexeu num vespeiro! Dinastia Euramérica... “Bem” maior que a merda da APPLE!

- Ok. Vou morrer porque meu seguro não cobre... Tem mais más notícias ou já posso ir embora? Eu só quero ir embora daqui!

- Más notícias... Eu estou cheio delas! Qual você quer 1º?
- Agora você é o engraçado senhor Munhoz? Está se divertindo? (Ta aí um cara que não goza faz séculos!)...

- O que disse, senhor Marcos?

- Nada, eu não disse nada... Bom, é fato que o senhor, senhor Munhoz, não gastaria seu precioso tempo com um (como foi que disse?), merda como eu! Logo, acredito que tenha algum caminho pra eu “me redimir”...

- Realmente os deuses devem gostar de você, senhor Marcos! Sim, há um caminho de redenção...

- Os deuses a que você se refere devem ser os donos dessa merda de planeta não é?

- Não crê nos deuses senhor Marcos? Incluir ateísmo ou cristianismo na sua ficha não ajudaria em nada em sua condição. Mas você tem razão. Estou falando do Ceo da companhia...
Por algum motivo que desconheço o senhor Cristian ficou muito interessado em você. Foi ele mesmo quem começou as investigações que o trouxeram até nós.

- Isso significa...

- Significa, senhor Marcos, que, ou o senhor aceite um serviço (devidamente remunerado) para a companhia ou o senhor ficará de fora do assistencialismo para sua doença.

- Diga não, obrigado! Acrescente um “vai se fuder” no final! E a gente vê no que vai dar...

- Ouvi dizer que o senhor tem uma filha...

- Olha aqui seu puto! Deixe minha filha fora disso!

- Opa! Calma... Calma... Eu ainda sou o oficial da lei e você... Você continua sendo um merda qualquer! Já que você não se importa com sua vida, deixa eu te acrescentar uma informação:
Como alguém que gerou delito e tem seu nome nos arquivos policiais, você perde o direito de distribuir seus bens para seus familiares! Não é engraçado?
O sistema passa a ter direito sobre seus créditos, bens imobiliários e afins. Assim, sua filha ganha absolutamente nada do que você deixar! Mas claro, encaminharemos para uma instituição de caridade – à nossa escolha – talvez a polícia...

- O que vocês querem de mim, porra?

- Estamos lhe dando uma oportunidade. Queremos apenas que você abrace uma causa!

- Que merda de causa é essa?
- Isso amigo saberá alguns dias depois. Até lá, trabalhe e mantenha sua interface ligada. Vai pra casa! Marque um jantar com sua filha... Continue com suas piadas... Essa conversa é inteiramente confidencial.

[A tal merda que ele não disse, foi o impasse entre as grandes corporações – o lance da retaliação lá atrás... E eu, meus amigos, me ferrei!]

...

Três dias depois, uns caras de terno preto e óculos escuros surgiram na minha porta.
- Não senhor! Não quero ouvir sobre Darwin, Jeová ou Mitra! Que se fodam os deuses!
A tela em minha porta continuou piscando...
-  Saaaco! O que você quer?

- O senhor é Marcos Cheese Imbrol Chaves?

- É, sou eu.  Aliás! Depende! Quem são vocês?

- Sou do DPTO de justiça. Venho em nome do Sr. Cristian...

Abri a porta.
- Cristian né? Sei...

- Viemos para inteirar o senhor da grande causa em que o senhor está inserido!
- Tô tão feliz... Fala logo o que é essa merda! Eu não quero, não queria estar “inserido” em merda nenhuma! Tô inserido nessa porra por livre e imediata pressão! Seja objetivo. Meu café está no fogo.

- Como devo chamá-lo senhor...

- Marcos. Só Marcos. Sem o senhor...

- Marcos, a questão não é tão simples que possamos discutir na porta... Entenda... Os drones...

- Essa porra de drones não é do governo?
- sim! É, mas...

- Vocês não estão aqui da parte do governo?

- Sim! Estamos, mas...

- Porra! Fala logo homem! Que merda!

- Senhor, desculpe...  Marcos, o governo tem subdivisões... Nem tudo é compartilhado com todos... Os drones... São de circuito aberto... Podemos entrar...

- Hunf! Como vocês querem seu café?
Um olhou pro outro com uma interrogação na cara: - Preto! Disseram!
- Ótimo. É a cor que ele costuma ter...


Apesar de toda história amigável que estou contando, meus amigos do café preto não vieram para me dar parabéns ou me ajudar em coisa nenhuma!
Eles vieram com o resto das historias ruins que meu outro amigo gordo e feio não contou na delegacia! (claro, nem ele sabia – o mundo não sabe).

- Senhor Marcos, o que viemos dizer é estritamente confidencial! (falou o MIB1) [O que? Não sabe o que é MIB? Men In the Black – homens de preto! Cara se você não sabe nem isso, para de ler essa porra!]
- Gostaram do café? Perguntei – tipo pra quebrar o gelo – qual é a dificuldade de vocês em dizer “Marcos”? Só Marcos! Sem o “senhor”!

- É sério Sr. Marcos. O que temos a dizer além de confidencial envolve seu futuro!  [Falou o MIB2] Não somos amigos, nem inimigos. Por isso a formalidade padrão.

- Conte meu futuro profetas da nova geração!

- Não é piada! Você foi chamado para fazer parte da frota na OMOM!

- O que é OMOM? Um sabão em pó? Ha Ha Ha!

- OMOM é a nave de ultima geração que levará sua tripulação para novos mundos!

- Há! Claro que é... Ei, você não ta brincando? É sério isso? Virar astronauta?

- O termo hoje é ESESP.  Mas sim! É isso. [também não sabia na época – ESESP – Esplorador Espacial – simples né? Achei um lixo]

- Olha, essa porra de explorar o universo... O universo é longo pra caralho! Eu, além de ter cometido um delito leve, sou velho e doente... Não serve pra mim!

- Senhor Marcos, os termos são:
Acordo vitalício ou prisão sem recursos.
Caso o senhor aceite os termos de contratação, sua filha recebe todos os benefícios de sua jornada ao novo mundo.
O Senhor mantém sua categoria e receberá os confortos relacionados a essa mesma categoria.
Caso recuse, os problemas começam com a questão de saúde e terminam com cárcere! Fora a não participação da sua filha nos benefícios de falecimento...

- Mas porque tanto segredo? Já ouvi falar da OMOM! Alias, todo mundo sabe sobre ela! (eu assisto aos noticiários!) Porque eu?

- Precisamos de um programador que tenha as suas especialidades.
- Quais? Fazer programas falarem palavrões? Ah eu faço isso aqui de casa pra vocês!

- Ser da antiga escola de psicólogos. Você irá diagnosticar nosso sistema de bordo não como um programador, mas sim como um psicólogo.

- Ai caralho! Vocês tem uma IA na sua nave! E acham que ela precisa de um psicólogo! Isso não é uma piada? É mesmo sério?

- Não senhor. Não temos uma I.A. em nossa nave. A “I.A.” é a nave!
...



Numa coisa os caras tinham razão: Eu era da antiga escola.
Sabia tudo sobre a extinta psicologia (que já naquela época fora substituído pelas pílulas de redirecionamento – SOMA – que alterava o humor, gerava alegria e satisfação. Com os humores controlados ao nível médio cotidiano, a psicologia perdeu seu sentido e utilidade).
A ironia é que as pílulas não poderiam ser usadas em uma I.A.
Uma I.A. mais complexa exigiria mais que um simples programador. De acordo com eles, um psicólogo!
Alguém que pudesse medir qualquer alteração na programação antes que essa mesma alteração se tornasse um risco para todos os envolvidos.
O que eu sabia sobre a psicologia antiga (e que os programadores não sabiam) é que muitas vezes uma programação avançada, para ser redirecionada precisava de quebra de paradigmas.
Mas como fazer uma quebra de paradigmas em uma I.A. sem interferirem nas leis da robótica?
Gerando novos paradigmas psicológicos (por assim dizer)! Paradigmas quânticos neuro-cibernéticos (acho que foi assim que eles chamaram...).

Ficou assim:
Escolha entre prisão e tratamentos inadequados para a cura com um fim doloroso e sem a devida renumeração para minha filha no final ou uma viagem só de ida pra algum lugar do espaço, sem volta! Mas que deixaria minha filha com os benefícios que lhe era de direito com minha morte – além de uma morte “honrosa” – como herói da OMOM...

Optei pela 2º hipótese.
Que escolha eu tinha?

- Vocês já têm a que vieram buscar? Preciso usar meu interface...

- Desculpe, mas com quem o senhor pretende falar, Sr. Marcos?

- Com minha filha! Algum problema nisso?

- Não. Se o senhor manter o protocolo de sigilo... Coopere Sr. Marcos... É o melhor pra todos... Mantenha o silêncio!
- Muito bem senhores Cosme e Damião! Já terminaram o café? Hora de dar tchau!

Eles olharam um pra cara do outro. Assentiram com a cabeça e foram embora.
Toquei no minha pulseira de comunicação  que abriu uma tela em meu braço e disse:
- Enya.
A chamada começou...

- Alo? Pai! Oi pai! Você não vai acreditar! Eu entrei Pai! Entrei na ONN! – Dizia Enya eufórica do outro lado!

- Ah... Oi filha! Nossa! Que ótimo! [agora fudeu tudo mesmo!]
Olha filha, preciso te contar uma coisa... É complicado... Você não vai entender agora, mas no futuro vai saber e...

- Você não me ouviu? A ONN pai! Entrei como ativista na ONN! Que cara é essa? Você está bem? Quando vamos comemorar!? Eu pego um Uber-fly e a gente sai hoje mesmo!

- Então... É que... Eu me candidatei como colaborador sênior na OMOM e... Não... Não me candidatei! Fui chamado!... E...
[Ela não me deixou terminar...]

- Você o que?!!! Colaborador sênior? Não! Não é possível! Você está louco!? Esses filhos da puta são tudo contra o que você me ensinou!!! Pai!!! Que merda é essa?
Você sabe que existe uma guerra indireta entre a ONN e a porra da OMOM não é? (é claro que ele sabe! Ele não é idiota!) Pai!
[Aí ela começou a falar e falar, gritar e xingar...]

Apareceu um cara com maquiagem na tela:
- Eh... Olha Senhor Cheese, desculpe, mas a Eny tá muito alterada e acho melhor desligar e ...

- Desligar uma porra! Gritava Enya! Seu Globstrot filho de uma p...

E alguém desligou...
Ela ligou novamente.

- Filha! Calma! Olha...

- Pai! Você sabe que se entrar pra merda da OMOM eu não falo com você nunca mais né?
Pai! Porque você está fazendo isso comigo? Você não se importa comigo! Nunca se importou! Eu lembro! Meu aniversário de 15 anos você, blá,blá,blá...
[ela falou... E falou ininterruptamente! Gritou, xingou e por fim disse: - eu te odeio!]
Desligou.
Foi foda...
Ela desligou nosso contato. Foi à última vez que falei com minha filha – mas não a última que ela ferrou com minha vida!
...

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